⭐ A Vigília da Assunção prepara os fiéis para a Solenidade da Assunção de Maria, um dogma da fé católica que proclama que a Virgem Santíssima, ao completar o curso de sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celestial. Este evento não é narrado explicitamente nas Escrituras, mas é uma verdade de fé sustentada pela Tradição apostólica. A Assunção de Maria é vista como a consequência lógica de sua Maternidade Divina e de sua Imaculada Conceição; sendo a "Arca da Nova Aliança", seu corpo, que gerou o Verbo de Deus, não poderia conhecer a corrupção do sepulcro. Sua glorificação antecipa a ressurreição que é prometida a todos os cristãos.
🎶 Introito (Sl 44; 13, 15 e 16 |ib. 2)
Vultum tuum deprecabúntur omnes dívites plebis... Todos os ricos do povo, com dádivas, suplicam o vosso olhar; virgens que a seguem são conduzidas até o Rei, no meio da alegria e do júbilo. Sl. Exulta o meu coração em alegre canto; ao Rei dedico as minhas obras. ℣. Glória ao Pai…
📜 Epístola (Ecl 24, 23-31)
Eu produzi, como a vinha, flores de suave odor, e as minhas flores são frutos de honra e de honestidade. Eu sou a mãe do amor puro, do temor, da ciência e da esperança santa. Em mim existe toda a graça do caminho e da verdade; em mim existe toda a esperança da vida e da virtude. Vinde a mim, ó vós, que me desejais com ardor, e saciai-vos com meus frutos; pois o meu espírito é mais doce do que o mel e a minha herança excede em doçura o próprio favo de mel! Minha memória permanecerá nas gerações de todos os séculos. Aqueles que me comerem terão ainda fome; e aqueles que me beberem terão ainda sede. Aqueles que me escutam não serão confundidos; aqueles que se orientarem em mim não pecarão; e aqueles que me tornarem conhecida alcançarão a vida eterna.
🕊️ Evangelho (Lc 11, 27-28)
Naquele tempo, falava Jesus ao povo, quando uma mulher elevando a voz, do meio da multidão, disse-Lhe: Bem-aventurado o seio que Vos trouxe é os peitos que Vos amamentaram. Ele porém disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática.
🤔 Reflexões
📚 O elogio da mulher a Maria foi um elogio verdadeiro, mas o Senhor desviou a atenção da mãe para o Mestre que ela gerou, pois Sua mãe é bem-aventurada precisamente por ter ouvido e guardado a palavra de Deus, não porque nela o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Portanto, mais bem-aventurada é Maria ao receber a fé em Cristo do que ao conceber a carne de Cristo. A consanguinidade materna não teria tido valor algum se ela não tivesse carregado Cristo mais felizmente em seu coração do que em sua carne. (Santo Agostinho, Sermão 25, 7). A Sabedoria Divina, que na Epístola diz "em mim existe toda a graça do caminho e da verdade", construiu para si uma casa, a Virgem Maria, e nela uniu admiravelmente a natureza divina e a humana. E como poderia a graça não encontrar em Maria o seu caminho, por meio da qual o próprio Salvador, que é toda a graça, veio até nós? (São Bernardo de Claraval, Sermão sobre o Aqueduto).
🔗 O Evangelho de Lucas (11, 27-28) encontra um complemento temático direto em Mateus (12, 46-50) e Marcos (3, 31-35), onde a mãe e os irmãos de Jesus o procuram. Em resposta, Jesus estende a noção de família, afirmando: "Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, e irmã, e mãe." Essa passagem não diminui Maria, mas reforça a afirmação de Lucas de que a bem-aventurança suprema reside na obediência à Palavra de Deus, virtude que Maria encarnou perfeitamente em sua Anunciação ("Faça-se em mim segundo a tua palavra"). O Evangelho de João, por sua vez, complementa ao mostrar Maria no Calvário (Jo 19, 25-27), onde Jesus a entrega como mãe ao discípulo amado, estabelecendo sua maternidade espiritual sobre todos que, como ela, "ouvem a palavra de Deus e a põem em prática".
⚔️ Os textos de São Paulo fornecem o arcabouço teológico para a glorificação de Maria implícita na festa. Enquanto a Epístola do Eclesiástico a descreve como um vaso de honra e virtude, Paulo fala dos cristãos como "vasos de barro" que contêm o tesouro da glória de Deus (2 Cor 4, 7), sendo Maria o mais puro desses vasos. A promessa da vida eterna aos que a conhecem (Ecl 24, 31) ecoa a teologia paulina da ressurreição. Em 1 Coríntios 15, 42-44, Paulo descreve a transformação do corpo corruptível em um corpo "glorioso", "incorruptível" e "espiritual". A Assunção de Maria é a realização antecipada e perfeita desta promessa, o protótipo da glorificação reservada aos que, como ela, se conformam à vontade de Deus, passando da obediência à carne para a obediência ao Espírito (Rm 8, 5-6).
🏛️ Documentos da Igreja, especialmente a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus (1950) do Papa Pio XII, que definiu o dogma da Assunção, aprofundam a teologia da liturgia. O documento conecta a incorrupção do corpo de Maria com sua vitória, unida a Cristo, sobre o pecado e a morte, um tema presente na Epístola ("minhas flores são frutos de honra"). A Constituição afirma: "A augusta Mãe de Deus, associada de modo misterioso a Jesus Cristo desde toda a eternidade... obteve como último coroamento dos seus privilégios que fosse preservada imune da corrupção do sepulcro e que, à semelhança do seu Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma à glória celeste" (Munificentissimus Deus, 40). Isso complementa a bem-aventurança declarada no Evangelho, mostrando que a obediência à Palavra de Deus culmina não apenas na santidade espiritual, mas na glorificação total da pessoa.