05 out
XVII Domingo depois de Pentecostes


🕊️O Décimo Sétimo Domingo depois de Pentecostes centra-se no tema da unidade, um eco da oração de Cristo: "Ut sint unum". A liturgia inteira é um apelo à caridade como vínculo da perfeição, exortando os fiéis a viverem a vocação à santidade em humildade, mansidão e paz. Este dia nos recorda que a unidade da Igreja não é meramente organizacional, mas uma comunhão espiritual no único Corpo de Cristo, sustentada pelo duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo, que resume toda a Lei e os Profetas. Santo Agostinho sintetiza a primazia deste amor com a célebre máxima: "Ama e faz o que quiseres", pois quem verdadeiramente ama a Deus e ao próximo não pode pecar contra a caridade, que é o cumprimento da lei.

📖Introito (Sl 118: 137 e 124 | ib., 1)
Justus es, Dómine, et rectum judícium tuum... Justo sois, Senhor, e retos são os vossos juízos; agi com o vosso servo segundo a vossa misericórdia. Sl. Bem-aventurados os que são imaculados em seu caminho; os que andam na lei do Senhor. ℣. Glória ao Pai…

📜Epístola (Ef 4, 1-6)
Irmãos: Eu, que me acho preso pelo amor do Senhor, vos rogo que andeis como é digno da vocação a que fostes chamados: em toda humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros na caridade, e procurando guardar a união do Espírito, no vínculo da paz. Um só corpo e um só Espírito [sois vós], como também sois chamados a uma só esperança por vossa vocação. Um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos, que está acima de todos e age em tudo e em todos nós. Seja Ele bendito pelos séculos dos séculos. Amém.

✨Evangelho (Mt 22, 34-46)
Naquele tempo, chegaram-se a Jesus os fariseus, e um deles, que era doutor da lei, perguntou-Lhe para O tentar: Mestre, qual é o grande mandamento da lei? Disse-lhe Jesus: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o máximo e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. E, estando juntos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: Que vos parece do Cristo? de quem é Filho? Responderam-Lhe: De Davi. Jesus lhes disse: Como pois, em espírito, Davi O chama Senhor, dizendo: O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos como escabelo de teus pés? Se, pois Davi O chama Senhor, como é Ele seu filho? E ninguém pôde responder-Lhe uma só palavra; e desde aquele dia ninguém ousou mais fazer-Lhe perguntas.

🤔Reflexões

⚖️O amor a Deus com todo o coração, alma e entendimento é o princípio ordenador de toda a vida espiritual, do qual o amor ao próximo é a consequência e a prova necessária. Santo Agostinho ensina que estes dois preceitos "contêm toda a lei e os profetas", pois não há preceito que não se refira a um deles; um nos une a Deus, o outro ao nosso semelhante, mas ambos brotam da mesma fonte da caridade. A questão subsequente de Cristo sobre Sua filiação divina revela a fonte desta caridade: somente amando a Deus feito homem, que é ao mesmo tempo Filho de Davi e Senhor de Davi, podemos cumprir perfeitamente este duplo mandamento. (Santo Agostinho, Sermão 90).

🤝A unidade descrita por São Paulo não é uma uniformidade forçada, mas uma harmonia orgânica no Espírito Santo. São João Crisóstomo explica que a exortação a "suportar-vos uns aos outros na caridade" é o exercício prático que mantém o "vínculo da paz". Ele destaca que as virtudes da humildade e da mansidão são as guardiãs desta unidade, pois o orgulho é a raiz de toda a discórdia na Igreja. A unidade da fé, do batismo e do único Deus não é apenas uma verdade a ser crida, mas uma realidade a ser vivida através da caridade mútua, que une os diversos membros no único Corpo de Cristo. (São João Crisóstomo, Homilias sobre a Epístola aos Efésios).

🏛️A doutrina da Igreja como Corpo Místico de Cristo, do qual Ele é a Cabeça e os fiéis são os membros, elucida a profundidade do apelo à unidade. Este ensinamento magisterial afirma que a união dos fiéis não é apenas moral, baseada na partilha dos mesmos sentimentos, mas uma realidade ontológica e sobrenatural. A caridade, que é a alma deste Corpo, é infundida pelo Espírito Santo e nos une a Cristo e uns aos outros de modo real. Assim, o duplo mandamento do amor não é apenas um ideal ético, mas a lei vital que governa o próprio ser da Igreja, garantindo sua coesão e paz contra todas as forças de divisão. (Cf. Pio XII, Encíclica Mystici Corporis Christi).