Nereu e Aquileu eram soldados romanos que, convertidos ao cristianismo, abandonaram o exército e foram decapitados por volta de 304, sob Diocleciano, na Via Ardeatina. Pancrácio, martirizado aos 14 anos na mesma perseguição, foi decapitado na Via Aurélia, tornando-se patrono da Juventude de Ação Católica. Domitila, associada à família Flávia, teria sido exilada e martirizada, mas seu culto foi removido em 1969. Sua espiritualidade reflete a coragem de renunciar ao mundo e confessar Cristo, como atesta a inscrição de São Dâmaso sobre Nereu e Aquileu. A inscrição de São Dâmaso, gravada no túmulo de Nereu e Aquileu no século IV, é uma das principais fontes históricas. Encontrada nas catacumbas de Domitila, foi parcialmente preservada e copiada em manuscritos do século VII. Texto representativo: “Os santos mártires Nereu e Aquileu, tendo-se inscritos no serviço militar, estavam pelo medo prontos para executar as ordens ímpias do magistrado; mas se converteram ao verdadeiro Deus, arremessaram os escudos, as condecorações e as armas, deixaram o acampamento e, tendo confessado Cristo, regozijaram-se no seu triunfo.”
Introito (Sl 32, 18 a 20| ib., 1)
Ecce, óculi Dómini super timéntes eum, sperántes in misericórdia eius, allelúia... Eis que os olhos do Senhor pousam sobre os que O temem, sobre os que esperam em sua misericórdia, aleluia. Ele os salva das ânsias da morte, pois Ele é o nosso auxílio e o nosso protetor, aleluia, aleluia. Sl. Exultai, ó Justos, no Senhor; os retos de louvá-Lo.
Epístola (Sab 5, 1-5)
Leitura do livro da Sabedoria.Os Justos se erguerão com grande confiança [no último juízo] contra aqueles que os atribularam e lhes arrebataram o fruto de seus trabalhos. Vendo-os assim, os maus se perturbarão, cheios de pavor, e ficarão assombrados com a súbita e inesperada salvação dos Justos. De si para si dirão, fazendo penitência e angustiados: Estes são aqueles de quem outrora zombávamos e a quem igualmente injuriávamos. Nós, insensatos, considerávamos a sua vida uma loucura, e a sua morte uma ignomínia. E ei-los que são contados entre os filhos de Deus, e entre os Santos está a sua sorte.
Evangelho (Jo 4, 46-53)
Naquele tempo, havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Tendo ouvido que Jesus voltara da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele, e pediu-Lhe que viesse à sua casa e curasse seu filho, que estava à morte. Disse-lhe então Jesus: Se não vedes milagres e prodígios, não credes. O oficial do rei respondeu: Senhor, vinde, antes que o meu filho morra. Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. Acreditou o homem na palavra de Jesus e partiu. Quando ele já ia para casa, vieram-lhe ao encontro seus criados e deram-lhe a notícia de que o seu filho vivia. Perguntou-lhes então a hora em que o doente se achara melhor. Responderam-lhe: Ontem pela sétima hora, a febre o deixou. Reconheceu logo o pai ter sido aquela a mesma hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive. E ele acreditou e toda a sua família.
Homilias e Explicações Teológicas
A glória dos justos, que brilha após o sofrimento, é um reflexo da justiça divina que exalta os humildes, mostrando que a verdadeira recompensa não está nas honras terrenas, mas na comunhão eterna com Deus (Santo Agostinho, Sermão 280, sobre os mártires). A fé do centurião, que confia na palavra de Cristo sem exigir sinais visíveis, exemplifica a virtude da confiança absoluta em Deus, uma fé que transcende a necessidade de provas sensoriais e se torna modelo para os cristãos (São João Crisóstomo, Homilia sobre João 4). Os mártires, como Nereu e Aquileu, soldados que abandonaram as armas terrenas por Cristo, ilustram a conversão radical que a graça opera, transformando corações endurecidos em testemunhas da verdade divina (São Gregório Magno, Homilia 28, sobre os mártires). A perseverança de Domitila, que enfrentou o exílio por sua fé, aponta para a paciência dos santos que, sustentados pela esperança, suportam tribulações para alcançar a coroa da vida (Santo Ambrósio, Sobre a Virgindade, Livro II). Pancrácio, jovem mártir, demonstra que a graça de Deus não distingue idades, mas fortalece os que se entregam totalmente a Ele, mostrando que a coragem vem da união com Cristo (São Leão Magno, Sermão 82, sobre a juventude dos mártires). A fé que cura, como no evangelho, é um chamado à confiança na providência divina, que age não por mérito humano, mas por sua infinita misericórdia, unindo os fiéis à vitória dos mártires (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre João 4).
Comparação com os Demais Evangelhos
O evangelho de João 4, 46-53, que narra a cura do filho de um funcionário real por meio da fé na palavra de Jesus, apresenta elementos distintos quando comparado aos outros evangelhos. Em Mateus 8, 5-13, a narrativa paralela da cura do servo do centurião destaca a humildade do oficial, que se considera indigno de receber Jesus em sua casa, um aspecto não enfatizado em João, onde o foco recai na confiança absoluta na palavra de Cristo. Lucas 7, 1-10, similar a Mateus, adiciona que o centurião enviou emissários para interceder, sugerindo uma intermediação comunitária ausente em João, que apresenta um diálogo direto entre Jesus e o pai. Marcos não contém uma narrativa equivalente, mas em Marcos 5, 21-43, a cura da filha de Jairo complementa João ao mostrar a necessidade de fé perseverante diante da morte iminente, contrastando com a cura à distância em João, que não exige a presença física de Jesus. Esses evangelhos, ao destacarem humildade, intercessão e perseverança, enriquecem a compreensão da fé em João, que se centra na confiança imediata e na eficácia da palavra divina.
Comparação com Textos de São Paulo
Em Romanos 8, 18, Paulo afirma que os sofrimentos do tempo presente não se comparam à glória futura, ampliando a visão de Sabedoria sobre a vitória dos justos ao conectar o sofrimento terreno à esperança da ressurreição, um aspecto implícito na leitura. Em Hebreus 11, 6, Paulo sublinha que sem fé é impossível agradar a Deus, reforçando a fé do funcionário real em João como um modelo de confiança que transcende sinais visíveis, mas não explorado diretamente no evangelho. Em 1 Coríntios 1, 26-29, Paulo destaca que Deus escolhe os fracos para confundir os fortes, ecoando a juventude de Pancrácio e a conversão de Nereu e Aquileu, que abandonaram o poder militar por Cristo, um tema de eleição divina ausente nas leituras. Em Filipenses 1, 29, Paulo fala do privilégio de sofrer por Cristo, complementando a perseverança de Domitila no exílio com a ideia de que o martírio é uma graça, não apenas um sacrifício.
Comparação com Documentos da Igreja Pré-Vaticano II
O Concílio de Trento (Sessão XXV, Decreto sobre os Santos, 1563) enfatiza que os mártires, por sua imitação de Cristo, recebem honra celestial, complementando Sabedoria ao afirmar que sua intercessão é eficaz para os fiéis, um aspecto não abordado no texto bíblico. A Encíclica Quanta Cura de Pio IX (1864) condena o indiferentismo religioso, reforçando a fé inabalável do centurião em João como um modelo contra a incredulidade, enquanto o evangelho se limita a narrar o milagre. O Missal Romano de 1570 (Quo Primum Tempore, Pio V) destaca a centralidade do sacrifício eucarístico, conectando o martírio de Nereu e companheiros à oferta de Cristo, uma ligação teológica ausente nas leituras do dia. A Carta Apostólica Tra le Sollecitudini de Pio X (1903) exalta a liturgia como expressão da fé, sugerindo que a confiança do centurião reflete a participação ativa dos fiéis na missa, um tema implícito, mas não desenvolvido em João. Esses documentos ampliam a compreensão dos textos litúrgicos, vinculando fé e martírio à vida sacramental e à comunhão dos santos.