2a classe
Intróito
Sl 30:3-4 Esto mihi in Deum protectórem, et in locum refúgii, ut salvum me fácias... Sede, ó Deus, o meu protector e o lugar de refúgio, onde encontre a salvação; pois sois o meu sustentáculo e o meu refúgio, e, pela glória do vosso nome, me conduzireis e sustentareis. Sl 30:2 Em Vós, Senhor, pus a minha confiança; não serei confundido para sempre. Segundo a vossa justiça, livrai-me, salvai-me.
Epístola 1 Cor. 13:1-13
São Paulo Apóstolo aos Coríntios. Irmãos, Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade.
Evangelho Lc 18:31-43
Naquele Tempo, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém. Tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem será cumprido. Ele será entregue aos pagãos. Hão de escarnecer dele, ultrajá-lo, desprezá-lo; bater-lhe-ão com varas e o farão morrer; e ao terceiro dia ressurgirá. Mas eles nada disto compreendiam, e estas palavras eram-lhes um enigma cujo sentido não podiam entender. Ao aproximar-se Jesus de Jericó, estava um cego sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo o ruído da multidão que passava, perguntou o que havia. Responderam-lhe: É Jesus de Nazaré, que passa. Ele então exclamou: Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim! Os que vinham na frente repreendiam-no rudemente para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais forte: Filho de Davi, tem piedade de mim! Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Chegando ele perto, perguntou-lhe: Que queres que te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu veja. Jesus lhe disse: Vê! Tua fé te salvou. E imediatamente ficou vendo e seguia a Jesus, glorificando a Deus. Presenciando isto, todo o povo deu glória a Deus.
Homilias
Epístola 1 Cor. 13:1-13 Santo Agostinho, em seus sermões sobre este trecho, enfatiza que o amor é a essência de toda a vida cristã e o fundamento sobre o qual todas as virtudes se sustentam, indo além do que Paulo descreve ao afirmar que sem amor até os dons mais extraordinários são vazios e sem vida, como um corpo sem alma. Ele explica que o "bronze que ressoa" e o "címbalo que retine" representam ações externas que, embora impressionantes aos olhos humanos, carecem de valor eterno se não forem animadas pelo amor, que é a presença de Deus no coração. Agostinho interpreta a paciência e a bondade do amor como reflexos da própria paciência de Deus para com os pecadores, e diz que o amor "tudo suporta" porque é o vínculo que une a alma ao Criador, permitindo que o homem persevere nas tribulações. Ele vai além do texto ao ensinar que o "conhecimento parcial" e a visão "em espelho" apontam para a limitação da vida terrena, onde só o amor pode nos guiar ao pleno conhecimento de Deus, que será revelado na eternidade. Para Agostinho, a supremacia do amor sobre a fé e a esperança reside em sua eternidade: enquanto a fé se tornará visão e a esperança se cumprirá, o amor permanecerá para sempre como o laço entre Deus e os homens no Reino celeste.
Lucas 18:31-43 São João Crisóstomo enfatiza que o texto revela dois tipos de cegueira: a dos discípulos, que não compreendem as palavras de Jesus sobre o sofrimento e a ressurreição, e a do cego de Jericó, que, apesar de sua limitação física, demonstra uma visão espiritual superior. Crisóstomo destaca que os discípulos, mesmo estando tão próximos de Jesus, permanecem cegos para o mistério da cruz, presos a expectativas terrenas de poder e glória. Em contraste, o cego, marginalizado e desprovido de visão física, reconhece em Jesus o Messias, o "Filho de Davi", e clama por misericórdia com uma fé simples, mas poderosa. Para Crisóstomo, o grito do cego é um modelo de oração perseverante: ele não se cala diante das repreensões da multidão, mostrando que a fé autêntica não se dobra às pressões externas. Quando Jesus pergunta "Que queres que eu te faça?", o cego pede visão, mas Crisóstomo interpreta isso como um pedido que vai além do físico — é um clamor por iluminação espiritual, que o leva a seguir Jesus e glorificar a Deus. O santo também reflete sobre a ressurreição anunciada por Jesus, sublinhando que o sofrimento e a morte do Filho do Homem não são o fim, mas o caminho para a vitória, um mistério que os discípulos só entenderão após Pentecostes. Ele conclui que a cura do cego é um sinal visível daquilo que Jesus veio realizar interiormente em todos: abrir os olhos da alma para a verdade divina.