Ezequiel 18,1-9
E foi-me dirigida a palavra do Senhor, dizendo: Por que razão usais vós desse provérbio acerca da terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados? Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tereis mais ocasião de usar desse provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, assim também a alma do filho, ambas são minhas; a alma que pecar, essa morrerá. E o homem que for justo, e fizer juízo e justiça, que não comer sobre os montes, nem levantar os seus olhos para os ídolos da casa de Israel, e não violar a mulher do seu próximo, nem se chegar à mulher no tempo da sua separação, e não oprimir a homem algum, mas restituir ao devedor o seu penhor, não cometer rapina, dar o seu pão ao faminto, e cobrir com vestido o nu, não emprestar a usura, nem receber mais do que deu, apartar a sua mão da injustiça, fazer verdadeiro juízo entre homem e homem, andar nos meus preceitos, e guardar as minhas ordenanças, obrando segundo elas; este é justo, e certamente viverá, diz o Senhor Deus.
E saindo Jesus dali, retirou-se para as partes de Tiro e de Sidônia. E eis que uma mulher cananeia, saindo daqueles confins, clamou, dizendo: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim, que minha filha está miseravelmente atormentada do demônio. Mas ele não lhe respondeu palavra. E chegando-se os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: Despede-a, porque vem clamando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Mas ela veio, e adorou-o, dizendo: Senhor, ajuda-me. Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães. E ela disse: Verdade é, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então, respondendo Jesus, disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé; seja-te feito como queres. E desde aquela hora ficou sã a sua filha.
Homilia
São João Crisóstomo (Homilia 52 sobre Mateus, encontrada na Catena Aurea) - A mulher cananeia é um exemplo de fé que ultrapassa os limites da carne e da razão, pois, sendo gentia e sem direito às promessas de Israel, ela clama com ousadia ao Filho de Davi, mostrando que a graça divina não se restringe aos eleitos por nascimento, mas se estende aos que buscam com coração humilde e perseverante; o silêncio inicial de Cristo não é desprezo, mas um teste para revelar a profundidade de sua confiança, pois Ele, sabendo de antemão o resultado, permite que ela insista para que sua virtude brilhe diante dos homens e dos anjos; os discípulos, ao pedirem que a despedisse, mostram a fraqueza humana que teme o incômodo, mas o Senhor, em sua sabedoria, usa isso para ensinar que a misericórdia não se curva à impaciência; quando Ele fala das ovelhas de Israel e do pão dos filhos, não é para excluir, mas para provocar uma resposta que revele a universalidade da salvação, pois a mulher, ao aceitar ser como cachorrinho, transforma humilhação em triunfo, provando que até as migalhas da graça divina são suficientes para a redenção; sua fé é louvada não apenas por sua insistência, mas por reconhecer em Cristo o poder que transcende as barreiras da Lei, abrindo o caminho para os gentios entrarem na casa de Deus; assim, o milagre não é só a cura da filha, mas a demonstração de que o Reino se expande além das fronteiras visíveis, sendo a mulher um prenúncio da Igreja que reúne todos os povos.