17 set
Impressão dos Estigmas de S. Francisco de Assis


✨No Monte Alverne, em 1224, dois anos antes de sua morte, São Francisco de Assis jejuava e orava intensamente quando teve a visão de um Serafim crucificado. Após a visão, marcas idênticas às cinco chagas de Cristo — nos pés, mãos e no lado — apareceram em seu corpo. Esses estigmas, que ele carregou com humildade e discrição, não eram apenas um sinal de sua união mística com a Paixão do Salvador, mas o selo visível de uma vida inteiramente configurada a Cristo crucificado. São Boaventura, seu biógrafo, narra que o santo se tornou um "retrato vivo do Varão de Dores", realizando em sua própria carne o que a Epístola do dia proclama: "trago em meu corpo os estigmas do Senhor Jesus".

📖Introito (Gal 6, 14 | Sl 141, 2)
Mihi autem absit gloriári, nisi in Cruce Dómini nostri Iesu Christi... Longe de mim o desejo de gloriar-me, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele o mundo foi para mim crucificado, como eu o fui para o mundo. Ps. Com voz forte, clamei ao Senhor; minha oração suplicante se eleva ao Senhor. ℣. Glória ao Pai.

📜Epístola (Gal 6, 14-18)
Irmãos: Longe de mim o desejo de gloriar-me, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele, o mundo foi para mim crucificado, como eu o fui para o mundo. Porque em Cristo Jesus a circuncisão e a incircuncisão são sem valor, pois o que importa é ser uma nova criatura pela graça. Sobre os que seguem esta regra, desçam a paz e a misericórdia de Deus, assim como sobre o Israel de Deus. De resto, que ninguém mais me moleste. Pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, irmãos, esteja com o vosso espírito. Amém.

✝️Evangelho (Mt 16, 24-27)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas o que perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a sofrer dano em sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma? Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai com os seus Anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras".

🤔Reflexões

✍️A glória do cristão está unicamente na Cruz, pois é por ela que o mundo morre para nós e nós para o mundo; São Francisco realizou isso de forma tão perfeita que mereceu carregar os estigmas do Senhor não apenas no coração, mas visivelmente na carne (São Boaventura, Legenda Maior). Os estigmas que Paulo declara trazer em seu corpo são as tribulações sofridas por Cristo, pois assim como os soldados se orgulham das cicatrizes de suas batalhas, o cristão se gloria nos sofrimentos que o assemelham ao seu Rei crucificado (Santo Ambrósio, Comentário sobre a Epístola aos Gálatas). Tomar a cruz significa mortificar as paixões e submeter a carne ao espírito; não é um ato único, mas um exercício contínuo de negação de si mesmo, pelo qual a alma se prepara para a vida eterna, pois quem ama sua vida no pecado, perde-a para a eternidade (Santo Agostinho, Sermão 92).

📚O Evangelho de São Mateus apresenta a condição fundamental para o discipulado: negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Cristo. São Lucas, em sua narrativa (Lc 9, 23), acrescenta uma dimensão de constância a este preceito, especificando que a cruz deve ser tomada "cada dia", o que sublinha a natureza perseverante e cotidiana do sacrifício cristão. São Marcos (Mc 8, 38) expande a advertência final de Cristo, explicitando que Aquele que se envergonhar "de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora", dele também o Filho do Homem se envergonhará ao vir na glória de seu Pai.

✉️A Epístola de São Paulo aos Gálatas, ao afirmar "trago em meu corpo os estigmas do Senhor Jesus", ecoa em toda a sua teologia do sofrimento redentor. Em 2 Coríntios 4, 10, ele aprofunda essa ideia, dizendo: "trazendo sempre por toda parte a mortificação de Jesus em nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos". Em Filipenses 3, 10, ele expressa este mesmo anseio como o ápice da vida espiritual: "para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus padecimentos, conformando-me a ele na sua morte". Finalmente, em Colossenses 1, 24, ele eleva este sofrimento a um nível eclesial, afirmando: "regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e na minha carne cumpro o que falta das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja".

🇻🇦Os documentos do Magistério da Igreja consistentemente exaltam o valor do sacrifício e da penitência em união com a Paixão de Cristo. O Concílio de Trento, na Sessão VI sobre a Justificação, ensina que os sofrimentos e as boas obras dos justos, unidos aos méritos de Cristo, são também meritórios para a vida eterna. A encíclica Miserentissimus Redemptor do Papa Pio XI reforça a doutrina da reparação, conclamando os fiéis a consolar o Coração de Jesus oferecendo os próprios sofrimentos e sacrifícios em expiação pelos pecados, unindo-se assim à Vítima Divina no altar. Essa participação ativa nos padecimentos de Cristo é apresentada não como um fardo, mas como a mais alta honra e o caminho mais seguro para a santificação.