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Liturgia Diária – 23 fev - DOMINGO DA SEXAGÉSIMA

Domingo de 2ª Classe – Missa Própria – Estação em São Paulo

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 43, 23-26 | ib. 2) [Áudio]
Exsúrge, quare obdórmis, Dómine? exsúrge, et ne repéllas in finem... Acordai, Senhor, por que dormis? Levantai-Vos, não nos rejeiteis para sempre. Por que desviais a vossa face e Vos esqueceis de nossa angústia? Nosso corpo adere à terra. Levantai-Vos, Senhor, socorrei-nos e salvai-nos. Sl. Ó Deus, com os nossos ouvidos, ouvimos; nossos pais no-lo contaram.℣. Glória ao Pai.

Epístola (2 Cor 11, 19-33 e 12, 1-9)
São Paulo Apóstolo aos Coríntios. Irmãos: De bom ânimo suportais os insensatos, sendo vós, sábios. Pois tolerais que vos ponham em escravidão, que vos explorem, que se apoderem de vossos bens, que vos tratem com arrogância, que vos batam no rosto. Envergonhado confesso: neste ponto, tenho sido fraco. Em qualquer coisa, porém, que alguém se atreva (falo como insensato), também eu me atrevo. São hebreus? também eu. São descendentes de Abraão? também eu. São ministros de Cristo? (como menos sábio falo), mais o sou eu: muito mais pelos trabalhos, pelas prisões muitíssimo mais, pelos açoites sem conta, em perigos de morte frequentemente. Dos judeus recebi, cinco vezes, quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; uma noite e um dia estive no fundo do mar. Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de ladrões; em perigos dos de minha nação, em perigos da parte dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalho e fadiga, em muitas vigílias, na fome e na sede, em frequentes jejuns, no frio e na nudez. Além destas coisas, que são exteriores, a minha preocupação cotidiana, o cuidado de todas as Igrejas. Quem está enfermo que eu não fique enfermo? Quem é escandalizado, que eu não me abrase? Se convém gloriar-se, gloriar-me-ei então da minha fraqueza. O Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito nos séculos, sabe que não minto. Em Damasco, mandou o preposto do rei Aretas guardar a cidade dos damascenos para me prender, mas num cesto me desceram por uma janela, da muralha abaixo, e assim escapei de suas mãos. Se convém gloriar-se (certamente não convém), virei agora às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo, [Paulo] que, há quatorze anos (seno corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe), foi arrebatado até o terceiro céu. E sei a respeito desse homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe) que foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis que ao homem não é permitido proferir. Nisto é que me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser de minhas fraquezas. Verdade é que, se me quisesse gloriar, não seria insensato, porque diria a verdade; abstenho-me, no entanto, para que ninguém me estime acima do que vê em mim ou de mim ouve. E para que não me ensoberbecesse a grandeza das revelações, foi-me dado o estímulo de minha carne [provavelmente doenças físicas], qual anjo de Satanás que me esbofeteie. Por causa dele roguei ao Senhor três vezes que de mim o desviasse. E Ele medisse: Basta-te a minha graça, porque a força [de Deus] se manifesta de modo mais completo na fraqueza [humana]. Portanto, de bom grado me gloriarei em minhas fraquezas, para que habite em mim a fôrça do Cristo.

Evangelho (Lc 8, 4-15)
Naquele tempo, tendo-se reunido muito povo, e como os habitantes de várias cidades tivessem ido a Jesus, propôs-lhes Ele esta parábola: Saiu o semeador a semear sua semente; e ao semeá-la, parte caiu junto ao caminho e foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra parte caiu sobre a pedra, e quando nasceu, secou logo, por não haver umidade. Outra parte caiu entre os espinhos, e os espinhos, nascendo com ela, a sufocaram. E outra parte caiu em boa terra, e depois de nascer, deu fruto, cento por um. Dito isto, clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Seus discípulos perguntaram-Lhe, pois, que significava essa parábola. E Ele lhes respondeu: A vós é dado conhecer o Mistério do Reino de Deus, porém aos outros se fala em parábolas, para que, olhando, não vejam, e ouvindo, não entendam. Este é, pois, o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho, são os que a ouvem, mas vindo depois o diabo, tira-lhes a palavra do coração, para que se não salvem, crendo nela. Os de sobre a pedra, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; porém estes não têm raízes; até certo tempo creem, mas no tempo da tentação, desviam-se. A que caiu entre os espinhos: são estes os que ouviram, porém indo, afogam-se com cuidados, riquezas e deleites da vida e não dão fruto. E a que caiu em boa terra: são os que, ouvindo a palavra, guardam-na com o coração bom e perfeito e dão fruto na paciência.

Homilias

2 Coríntios 11,19-33; 12,1-9 - São João Crisóstomo, em Homilia 26 sobre 2 Coríntios, um dos maiores pregadores da história da Igreja, oferece uma análise profunda e vibrante desse texto paulino, destacando a humildade e a força paradoxal de Paulo em suas fraquezas. Ele começa enfatizando que Paulo não se gloria de suas virtudes ou sucessos, mas de suas tribulações, porque essas são o palco onde a graça de Deus se manifesta mais plenamente. Crisóstomo interpreta as enumerações de sofrimentos – açoites, naufrágios, perigos – como uma demonstração de que a vida apostólica não é glamorosa, mas um combate constante, onde o poder humano é reduzido a nada para que o divino resplandeça. Sobre o “espinho na carne”, ele argumenta que Paulo não revela sua natureza exata para que cada ouvinte possa aplicar o ensinamento às suas próprias lutas, sejam elas físicas, espirituais ou emocionais. Para Crisóstomo, a resposta divina “Basta-te a minha graça” é o cerne da mensagem: Deus não remove as fraquezas para ensinar que a dependência dele é a verdadeira força. Ele exalta a ironia de Paulo se gloriar em ser “fraco” e escapar de Damasco num cesto, mostrando que até nos momentos de humilhação humana, a providência divina triunfa. Quanto às visões e revelações, Crisóstomo as vê como um raro vislumbre da glória celestial, mas insiste que Paulo as menciona com relutância, preferindo a humildade à exaltação própria. A homilia sublinha que a vida cristã é um chamado à resiliência, onde as fraquezas não são derrotas, mas oportunidades para a vitória de Cristo em nós.

Lucas 8,4-15 – Santo Agostinho, em seu Sermão 101, oferece uma leitura rica e alegórica da parábola do semeador, focando na semente como a Palavra de Deus e nos tipos de solo como as disposições do coração humano. Ele descreve os que estão à beira do caminho como aqueles cujo coração é endurecido pelo tráfego do mundo, permitindo que Satanás roube a semente antes que ela crie raízes; são os distraídos e indiferentes. Os solos pedregosos, para Agostinho, representam os que se entusiasmam inicialmente com a fé, mas desistem quando enfrentam dificuldades, como a perseguição ou a aridez da vida espiritual, por falta de profundidade interior. Os espinhos são interpretados como as seduções do mundo – riquezas, prazeres, ambições – que sufocam a Palavra, impedindo-a de frutificar; aqui, ele adverte contra o apego material que mata a vida espiritual. Já o solo bom é o coração aberto, humilde e perseverante, que acolhe a Palavra com amor e a faz produzir frutos abundantes de virtude e caridade. Agostinho insiste que o semeador, Cristo, lança a semente generosamente a todos, mas o resultado depende da receptividade de cada um. Ele exorta os ouvintes a examinarem seus corações, a removerem os espinhos e a cultivarem a terra interior para que a Palavra floresça, destacando que a perseverança é essencial para a salvação.