25 mar - ANUNCIAÇÃO DE NOSSA SENHORA

Festa de 1ª Classe – Missa própria, com comemoração da féria

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 44:13, 15 e 16 | ib., 2)
Vultum tuum deprecabúntur omnes dívites plebis... Todos os ricos do povo com dádivas suplicam o vosso olhar. Virgens que a seguem são conduzidas até o Rei; as suas companheiras são apresentadas ao Rei no meio da alegria e do júbilo. Sl. Exulta o meu coração com alegre canto: ao Rei dedico as minhas obras. 

Epístola (Is 7, 10-15)
Profeta Isaías. Naqueles dias, falou o Senhor a Acaz, dizendo-lhe: Pede ao Senhor, teu Deus, que te envie um sinal nas profundezas da terra, ou no mais alto dos céus. Acaz respondeu: Não pedirei tal, nem tentarei o Senhor. Então Isaías disse: Escutai, pois, ó casa de Davi. Porventura não vos basta cansar a paciência dos homens, senão que ainda ousais fatigar a do meu Deus? Por isso Ele mesmo vos dará um sinal. Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho e o seu nome será Emanuel. Ele tomará leite e mel, para que saiba condenar o mal e preferir o bem.

Evangelho (Lc 1, 26-38)
Naquele tempo, foi o Anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um varão que se chamava José, da casa de Davi; e o Nome da Virgem era Maria. Entrando o Anjo onde ela estava, disse-lhe: Ave, cheia de graça; o Senhor é contigo: bendita és tu entre as mulheres. Ouvindo isto, ela se assustou e pensava no que significaria esta saudação. Mas o Anjo lhe disse: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um Filho, e pôr-Lhe-ás o Nome de Jesus. Ele será grande e será chamado o Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó e seu Reino não terá fim. Perguntou então Maria ao Anjo: Como se fará isso, se-não conheço varão? Respondeu-lhe o Anjo: O Espirito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso também o Santo que nascer de ti, será chamado Filho de Deus. E eis que Isabel, tua parenta, concebeu um Filho na sua velhice; e este é o sexto mês daquela que é chamada estéril, porque a Deus nada é impossível. Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a sua palavra.

Homilias

São Bernardo de Claraval – Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, Sermão 23 - A Virgem é saudada como cheia de graça porque nela reside a plenitude da divindade, não apenas como um dom passageiro, mas como um estado permanente que a torna a morada eleita de Deus. O anúncio do anjo revela que o Verbo eterno, que estava com Deus desde o princípio, escolheu descer ao seio humano para redimir a criação caída. A humildade de Maria é o fundamento de sua eleição; ela não se exalta, mas se submete, e nisso se manifesta a verdadeira grandeza que atrai o olhar divino. O Filho que ela concebe não é apenas um rei terreno, mas o Rei dos reis, cujo domínio transcende o tempo e o espaço, estabelecendo um reino espiritual que restaura a humanidade à sua dignidade original. O consentimento de Maria é um ato de cooperação com o plano divino, um sim que ecoa através das gerações como o portal da salvação. A sombra do Altíssimo que a cobre é o mistério da encarnação, onde o humano e o divino se encontram sem confusão, um milagre que supera toda compreensão natural e exalta a fé como a luz que guia os corações à verdade.

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Parte III, Questão 30, Artigo 1 - A anunciação é o momento em que a ordem sobrenatural irrompe na criação, pois o anjo, sendo um mensageiro da vontade divina, manifesta a eleição de Maria como o instrumento pelo qual o Verbo se faz carne. A graça que a enche não é apenas um favor transitório, mas uma disposição habitual que a prepara para ser a Mãe de Deus, um estado ontológico que a eleva acima de toda criatura. O Filho que dela nasce é a Segunda Pessoa da Trindade, assumindo a natureza humana sem perder a divina, e assim se estabelece a união hipostática que é o fundamento da redenção. A resposta de Maria, "faça-se em mim", é um ato de virtude perfeita, pois demonstra a obediência da vontade humana à divina, alinhando-se ao fim último da criação, que é a glória de Deus. O Espírito Santo, ao cobri-la com sua sombra, opera um milagre que transcende as leis naturais, pois a concepção virginal não depende da causalidade humana, mas da potência infinita de Deus, que faz o impossível tornar-se real. Este evento é o início da nova aliança, onde a humanidade é elevada à participação na vida divina.

Hugo de São Vítor (De Sacramentis, Livro I, Parte VI, Capítulo 5) - A vinda do anjo à Virgem é o início visível do mistério da encarnação, pelo qual Deus, em sua sabedoria infinita, escolhe descer à condição humana para elevar o homem à divindade. A saudação "cheia de graça" proclama que Maria foi adornada com uma santidade singular, não por seus próprios méritos, mas pela eleição divina que a preparou desde o princípio para ser o tabernáculo do Verbo. Sua perturbação é sinal de uma alma contemplativa, que se volta para dentro de si mesma para discernir o significado profundo das palavras celestiais. O anúncio do nascimento de um rei eterno da casa de Davi revela que o plano de salvação abrange toda a história, unindo o Antigo e o Novo Testamento em um só desígnio de redenção. A concepção pelo Espírito Santo é um mistério que excede a razão humana, mostrando que a geração do Filho de Deus não segue as leis da natureza, mas é um ato de poder divino que santifica a carne assumida. O "faça-se" de Maria é a entrega total de sua vontade à vontade de Deus, tornando-a a primeira entre os redimidos e modelo de toda a Igreja, que deve igualmente submeter-se ao Criador. A referência a Isabel sublinha a harmonia do plano divino, onde os milagres se entrelaçam para preparar o caminho do Salvador, desde o precursor até o Messias. Este evento é a porta pela qual a eternidade entra no tempo, e a humildade da Virgem se torna o fundamento da exaltação de toda a humanidade, chamada a participar da glória do Filho.