PRÓPRIO DO DIA
Introito (Sl 30, 7-8 | ib., 2)
Ego autem in Dómino sperábo... Espero em Vós, Senhor: exulto e me regozijo por vossa misericórdia, porque Vós olhastes para minha miséria. Sl. Senhor, em Vós espero: não serei confundido para sempre; por vossa justiça, livrai-me e salvai-me.
Epístola (Ex 20, 12-24)
Livro do Êxodo. Assim disse o Senhor Deus: Honra a teu pai e a tua mãe a fim de que vivas muito tempo sobre a terra, que o Senhor, teu Deus, te concederá. Não matarás. Não cometerás adultério. Não farás furtos. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não desejarás a casa de teu próximo, nem cobiçarás a sua mulher, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença. Ora, todo o povo viu os trovões, os raios e o som da trombeta e o cume da montanha fumegando; amedrontados e possuídos de pavor, pararam ao longe, dizendo a Moisés: Fala-nos e nós te ouviremos: mas não nos fale o Senhor para que não pereçamos. E Moisés disse ao povo: Não temais, porque para vos provar veio Deus, e para que seu temor em vós esteja, e não pequeis. Continuou pois, o povo, à distância. E aproximou-se Moisés da nuvem na qual Deus se achava. Disse ainda o Senhor a Moisés: Dize isto aos filhos de Israel: Vistes que do céu eu Vos falei. Não fareis deuses de prata, nem deuses de ouro, para vós. Construireis para mim um altar de terra, e sobre ele oferecereis vossos holocaustos e hóstias de pacificação, as vossas ovelhas e os vossos bois, em todos os lugares em que se fizer memória de meu Nome.
Evangelho (Mt 15, 1-20)
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus, escribas e fariseus de Jerusalém, perguntando: Por que os teus discípulos transgridem a tradição dos antepassados? Vê que eles não lavam as suas mãos, quando comem o pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que violais a lei de Deus por causa de vossa tradição? Porquanto Deus disse: Honra a teu pai e a tua mãe. E ainda: Aquele que amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe sofra castigo de morte. No entanto vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: Toda oferenda que eu faço do meu te aproveitará, poderá deixar de honrar a seu pai ou a sua mãe; e assim o manda mento foi anulado por vós, por causa de vossa tradição. Hipócritas! Acertadamente profetizou Isaías sobre vós, quando disse-. Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração longe se acha de mim. Prestam-me um culto inútil, ensinando doutrinas e preceitos humanos. E tendo reunido as multidões, disse-lhes: Ouvi e compreendei: Não é o que entra na boca o que mancha o homem. Então, aproximaram-se os seus discípulos, dizendo: Sabeis que os fariseus, ouvindo estas palavras, ficaram escandalizados? Ele porém respondeu: Toda planta que não foi plantada por meu Pai celeste será arrancada pela raiz. Deixai-os; são cegos que conduzem cegos. Ora, se um cego conduz outro cego, ambos cairão no abismo. Respondendo, disse-Lhe Pedro: Explicai-nos esta parábola. E Ele disse: Também vós sois sem inteligência? Não compreendeis que tudo quanto entra na boca vai ao ventre e é expelido? Mas o que sai pela boca parte do coração é isso é o que mancha o homem; porque é do coração que saem os maus pensamentos: os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos e as blasfêmias. Estas são as coisas que mancham o homem. No entanto, comer sem lavar as mãos não mancha o homem.
Homilias
Santo Agostinho (Sermão 179) - A verdadeira pureza não reside nos gestos externos, mas na disposição interior da alma. Os fariseus se apegam a rituais como se estes fossem a essência da justiça, mas esquecem que a verdadeira contaminação vem do coração, onde se originam as intenções más. A lei de Deus não foi dada para ser um jugo de aparências, mas para ordenar o amor, que é o fundamento de toda a criação. Quando o homem honra tradições humanas acima dos mandamentos divinos, ele inverte a ordem estabelecida por Deus, colocando o criado acima do Criador. A boca fala o que o coração contém, e assim a impureza não é o que se ingere, mas o que se cultiva no interior: a cobiça, a inveja, o ódio. Cristo, ao ensinar isso, revela que a salvação não vem da obediência cega a regras, mas da transformação do coração pelo amor e pela graça. Os guias cegos são aqueles que, presos à letra, perdem o espírito da lei, e arrastam outros à ruína. A multidão é chamada a ouvir e entender, porque a verdadeira sabedoria é reconhecer que Deus sonda os corações, não as mãos lavadas.
São Tomás de Aquino (Suma Teológica, II-II, Q. 47, Art. 11) - A prudência, virtude suprema da razão prática, é o que falta aos fariseus que acusam os discípulos de Cristo. Eles julgam segundo a aparência externa, sem considerar a ordem da caridade que a lei divina prescreve. A pureza ritual que defendem é um bem secundário, subordinado ao bem maior da justiça e da misericórdia, que procedem do coração reto. O erro deles está em elevar a tradição humana ao nível do preceito divino, o que é uma inversão da hierarquia moral. Cristo, ao corrigir essa visão, mostra que os atos exteriores têm valor apenas enquanto expressão da intenção interior, pois o homem é um composto de corpo e alma, e a alma é a raiz de sua dignidade. Os males que profanam o homem – como a ira e a falsidade – nascem da vontade desordenada, não do corpo em si. Assim, a verdadeira religião é aquela que purifica a alma pelo alinhamento com a vontade de Deus, não aquela que se detém em práticas materiais sem propósito espiritual. Os cegos que guiam outros cegos simbolizam os mestres que, sem a luz da razão iluminada pela fé, conduzem o povo ao erro.
Santo Hilário de Poitiers, Comentário sobre Mateus - A controvérsia entre Cristo e os fariseus revela a fraqueza da compreensão humana diante da verdade divina. Os fariseus, ao insistirem na purificação das mãos, mostram que desconhecem a verdadeira fonte da santidade, que é a alma purificada pela presença de Deus. Cristo ensina que o coração é o templo onde o Espírito habita, e é dali que brotam tanto a virtude quanto o pecado. A tradição dos homens, quando contraria o mandamento divino, torna-se uma idolatria sutil, pois substitui a vontade de Deus pela vontade humana. A parábola que Pedro pede para ser explicada é um chamado à inteligência espiritual, para que os discípulos vejam além do visível e compreendam que o Reino de Deus não se constrói com rituais vazios, mas com a renovação interior. Os males elencados por Cristo são as obras da carne que guerreiam contra o espírito, e só a graça divina pode vencê-las. Assim, a verdadeira pureza é um dom que vem do alto, não um mérito das mãos humanas.