17 mar - SEGUNDA-FEIRA DA 2ª SEMANA DA QUARESMA

Féria de 3ª Classe – Missa Própria, com comemoração de S. Patrício, Bispo e Confessor – Estação em S. Clemente

São Patrício
conhecido como o "Apóstolo da Irlanda", nasceu por volta de 385 d.C., provavelmente na Britânia romana, e faleceu em 17 de março de 461 d.C., data que hoje é celebrada como o Dia de São Patrício. Filho de uma família cristã, foi capturado por piratas aos 16 anos e levado como escravo para a Irlanda, onde passou seis anos cuidando de rebanhos. Durante esse período, desenvolveu uma profunda vida espiritual, dedicando-se à oração. Após escapar, recebeu uma visão divina que o chamou a retornar à Irlanda como missionário. Ordenado bispo, Patrício converteu milhares de pagãos, enfrentou a oposição de druidas e estabeleceu igrejas e mosteiros, sendo fundamental para a cristianização da ilha. Sua espiritualidade era marcada por humildade, confiança em Deus e uso de símbolos locais, como o trevo, para explicar a Trindade. Uma das obras mais conhecidas atribuídas a São Patrício é o Confessio (Confissão), um relato autobiográfico escrito em latim que reflete sua humildade e devoção. Nele, Patrício narra sua vida, seu chamado divino e sua missão. Um trecho representativo é: “Eu sou Patrício, um pecador, o mais rude e o menor de todos os fiéis, e desprezado por muitos. Meu pai era Calpornius, um diácono (...). Não tenho outra coisa a oferecer senão o Evangelho e as promessas de Deus”

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 25,11-12 | ib., 1)
Rédime me, Dómine, et miserére mei... Livrai-me, Senhor, e tende piedade de mim; meu pé está no caminho reto: nas assembleias louvarei o Senhor. Sl. Julgai-me, Senhor, porque eu ando em minha inocência, e, esperando no Senhor, não vacilarei. ℣. Glória ao Pai.

Epístola (Dn 9, 15-19)
Profeta Daniel. Naqueles dias, orou Daniel ao Senhor, dizendo: Senhor, Deus nosso, Vós tirastes vosso povo da terra do Egito com mão poderosíssima e Vos fizestes um Nome que permanece até hoje: pecamos, fizemos iniquidades, Senhor, contra a vossa lei. Eu Vos imploro, desviai a vossa ira e a vossa indignação, de Jerusalém, vossa cidade, e de vossa montanha santa, pois por causa de nossos pecados e das iniquidades de nossos país, Jerusalém e vosso povo estão hoje no desprezo de todos os que nos cercam. Agora, Deus nosso, ouvi as orações de vosso servo e suas súplicas, e mostrai vossa face sobre vosso santuário que está deserto, fazendo-o por amor de Vós mesmo. Inclinai, Deus meu, vossos ouvidos e ouvi; abri vossos olhos e vede nossa desolação e a da cidade sobre a qual foi invocado vosso Nome. Não é confiando em nossa justiça que Vos apresentamos humildemente nossas orações ante vossa face, e sim confiando na multidão de vossas misericórdias. Ouvi-nos, Senhor, e aplacai-Vos. Senhor, atendei-nos e começai a vossa obra. Não tardeis mais, por Vós mesmo, meu Deus, porque vosso Nome foi invocado sobre esta cidade e sobre vosso povo, ó Senhor, Deus nosso.


Evangelho (Jo 8, 21-29)
Naquele tempo, disse Jesus às turbas dos judeus. Eu me afasto, e vós me procurais e em vosso pecado [da incredulidade], morrereis. Onde vou, vós não podeis vir. Diziam, pois, os judeus: Porventura vai suicidar-se, desde que diz: Onde vou, vós não podeis vir? E Ele lhes disse: Vós sois daqui de baixo, e eu do alto sou. Vós sois deste mundo, e eu deste mundo não sou. Eu vos disse, pois, que morreríeis em vossos pecados; porque se não acreditais no que eu sou, morrereis em vosso pecado. Diziam-lhe eles: Quem és Tu? Respondeu-lhes Jesus: Sou o Princípio, eu que vos falo. Muitas coisas tenho a dizer de vós e a julgar. Quem me enviou, no entanto, é verdadeiro, e o que d’Ele aprendi, eu o digo no mundo. Eles não compreenderam que Ele dizia que Deus era seu pai. Jesus lhes disse, pois: Quando tiverdes elevado o Filho do homem [na Cruz], então conhecereis que sou Eu e que por mim mesmo nada faço, mas falo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou, comigo está e não me deixou só, porque eu faço sempre o que Lhe é agradável.

Homilias

Santo Agostinho – Tratado sobre o Evangelho de João, Tratado 38 - A alma deve buscar a luz que está acima, pois os homens, presos à terra, não podem alcançar a verdade divina sem elevar seus corações. A incredulidade é a raiz da morte espiritual, pois rejeitar a divindade do Filho é fechar os olhos à salvação oferecida. Ele fala como enviado, mas sua autoridade é una com o Pai, revelando a unidade da essência divina que transcende toda compreensão humana. Quando dizem “Quem és tu?”, mostram cegueira, pois a resposta está na própria pergunta: Ele é o Verbo eterno, o princípio de tudo, que não muda, enquanto o mundo perece em suas mutações. O levantamento do Filho do Homem na cruz é o sinal supremo, não de derrota, mas de vitória, pois ali se manifesta o poder que destrói o pecado e ilumina os que creem. A presença do Pai com Ele ensina que a obediência ao querer divino é o caminho da união perfeita, e aqueles que seguem esse exemplo escapam da condenação. Os judeus, atados à carne, não veem o espírito; só os que se voltam à eternidade compreendem que Ele é o Salvador prometido.


São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Pars III, q. 46, a. 1-3 (sobre a Paixão de Cristo) - Cristo, ao dizer que vai para onde os homens não podem ir, indica sua ascensão ao Pai, que é inacessível aos que permanecem no pecado, pois o pecado separa da glória divina que Ele possui por natureza. A distinção entre “cá de baixo” e “lá de cima” revela sua origem celestial como Filho de Deus, que assumiu a humanidade sem perder a divindade, sendo assim o mediador perfeito entre Deus e os homens. A morte no pecado é a pena eternal dos que não reconhecem sua identidade divina, pois crer que “Eu sou” é aceitar que Ele é o próprio Deus encarnado, o nome revelado a Moisés agora manifesto em carne. O levantamento do Filho do Homem na cruz é o meio ordenado pela sabedoria divina para a redenção, pois a Paixão não é mero sofrimento, mas ato voluntário de oblação que satisfaz a justiça divina e reabre o caminho à vida eterna. Ele nada faz de si mesmo, mas tudo em união com o Pai, mostrando que sua vontade humana está perfeitamente submetida à vontade divina, e essa submissão é a causa de nossa salvação. O Pai não o deixa só, pois a Trindade opera em unidade, e a presença constante do Pai na Paixão é prova de que tal sacrifício é agradável e eficaz para a reconciliação do mundo.