18 mar - TERÇA-FEIRA DA 2ª SEMANA DA QUARESMA


Féria de 3ª Classe – Missa Própria, com comemoração de S. Cirilo de Jerusalém, Bispo e Doutor – Estação em S. Balbina

São Cirilo de Jerusalém
nascido por volta de 315 em Jerusalém ou arredores, foi bispo da cidade entre 350 e 386, com interrupções devido a exílios causados pela controvérsia ariana. Ordenado sacerdote por São Máximo em 345, sucedeu-o como bispo em 348, destacando-se como um defensor da ortodoxia nicena contra o arianismo, o que lhe valeu três exílios (357, 360 e 367-378). Faleceu em 18 de março de 386, sendo proclamado Doutor da Igreja em 1882 por Leão XIII. Sua vida espiritual foi marcada por uma profunda dedicação à formação dos fiéis, à ascese, ao celibato e à pobreza, refletidas em seu zelo pastoral e na luta pela pureza da fé, especialmente durante o Concílio de Constantinopla (381), onde reafirmou o símbolo niceno-constantinopolitano. Uma de suas obras mais célebres é as "Catequeses", uma série de 24 instruções destinadas aos catecúmenos, composta por volta de 350. Dividida em 19 catequeses iniciais e 5 mistagógicas, ela aborda desde a conversão até os sacramentos de iniciação cristã. Um texto representativo é: "Batizados em Cristo e dele revestidos, tornastes-vos conformes ao Filho de Deus. Deus, que nos predestinou à adoção, tornou-nos semelhantes ao corpo glorioso de Cristo" (Catequese Mistagógica 2).

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 26, 8 e 9 | ib., 1)
Tibi dixit cor meum, quæsívi vultum tuum. vultum tuum, Dómine, requíram... Meu coração Vos diz: Procuro a vossa face, Senhor, procurarei a vossa presença; não afasteis de mim a vossa face. Sl. O Senhor é minha Luz e minha Salvação; a quem temerei? 

Epístola (3 Reis, 17, 8-16)
Livro dos Reis. Naqueles dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, de Tesbé, nestes termos: Levanta-te, vai a Sarepta dos Sidônios e ali permanece: porque ordenei ali a uma mulher viúva, que te sustente. Levantou-se [Elias] e foi a Sarepta. Chegando à porta da cidade, apareceu-lhe uma mulher viúva que juntava lenha. Chamou-a, dizendo-lhe: Dá-me um pouco dágua em um vaso, para que beba. Enquanto ela ia buscar água para lhe dar, ele gritou atrás dela, dizendo. Traze-me também, suplico-te, um bocado de pão, em tua mão. Ao que ela respondeu: Pelo Senhor, teu Deus, que não tenho pão; tenho apenas um pouco de farinha, quanto possa caber em uma vasilha, e um pouco de azeite em um vaso. Venho apanhar alguns pedaços de lenha para ir aprontar comida para mim e para meu filho, para que comamos e depois morramos. E Elias respondeu: Não te [preocupes, mas vai e faze como disseste; porem prepara primeiro para mim, desse restinho de farinha, um pequeno pão cozido nas cinzas e traze-mo; farás o mesmo depois para ti e para teu filho. Porque, eis o que disse o Senhor Deus de Israel: A farinha que está na vasilha não faltará, nem o óleo diminuirá no vaso até o dia em que o Senhor faça chover sobre a terra. Foi-se pois a mulher e fez conforme a palavra de Elias; e Ele comeu, e ela, e toda a sua família. E desde esse dia, a farinha não faltou na vasilha, nem o óleo diminuiu no vaso, como o Senhor dissera pela boca de Elias.

Evangelho (Mt 23, 1-12)
Naquele tempo, falou Jesus às multidões e a seus discípulos, dizendo: Sobre a cadeira de Moisés assentaram-se os escribas e os fariseus. Tudo pois, quanto eles vos disserem, observai-o e fazei-o. Não imiteis, porém, as suas obras, porque o que dizem, não o fazem. Eles amarram fardos pesados e insustentáveis e os põem nos ombros dos homens; não querem, porém, movê-los com um dedo seu. Fazem todas as suas obras, para serem vistos pelos homens, pelo que, usam filatérias mais largas e mais compridas franjas. Gostam dos primeiros lugares nas festas, e das primeiras cadeiras nas sinagogas, das saudações no foro, e de serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não queirais ser chamados mestres, porque um só é vosso Mestre; todos vós sois, no entanto, irmãos. E não chameis de pai a ninguém na terra: um só é vosso Pai, O que está nos céus. Não vos chamem de mestres, que o vosso Mestre é só um: o Cristo. O que é o maior dentre vós será o vosso servo. Aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar exaltado será.

Homilias

Santo Agostinho, "Sermão 47 sobre Mateus" - A hipocrisia dos fariseus é um veneno que corrói a alma, pois suas palavras são belas, mas suas ações revelam a podridão interior. Ensinam a verdade, mas a traem com a vida, tornando-se mestres de mentiras disfarçadas de piedade. A cátedra de Moisés é santa, mas os que nela se assentam a profanam quando buscam glória humana em vez da divina. Os fardos que impõem aos outros são as exigências da lei sem a caridade, um jugo que eles mesmos rejeitam carregar, pois preferem a aparência à essência. Alargar filactérias e franjas é ostentar santidade externa, mas o coração permanece estreito e vazio de amor. O verdadeiro mestre não é aquele que se eleva, mas o que serve, pois a grandeza está na humildade, como o Filho do Homem veio para servir e não para ser servido. Chamar alguém de "Rabi" ou "Pai" na terra é usurpar o que pertence a Deus, o único digno de tal honra. A exaltação vem da humilhação, e a queda é o destino dos soberbos, pois Deus resiste aos orgulhosos e dá graça aos humildes. Este ensinamento nos chama a examinar o interior, a rejeitar a vanglória e a abraçar a simplicidade do serviço, pois o Reino não é dos que brilham aos olhos humanos, mas dos que se escondem na cruz.

São Tomás de Aquino, "Suma Teológica, II-II, q. 186, a. 2" (sobre a vida religiosa e humildade) - Os fariseus erram ao buscar a honra dos homens, pois a verdadeira honra pertence a Deus, que sonda os corações. Suas ações visam a glória temporal, mas esta é vã e passageira, enquanto a glória eterna é o fim último do homem. A cátedra de Moisés simboliza a autoridade legítima, mas esta só é eficaz quando unida à virtude, pois o poder sem caridade é tirania. Os fardos pesados representam a lei mal interpretada, que oprime quando desprovida da graça, a qual alivia e aperfeiçoa. Alargar filactérias é um sinal de vanglória, um vício oposto à humildade, que é a raiz de todas as virtudes. A humildade não busca primeiros lugares, mas o último, pois o homem só se eleva ao se abaixar diante de Deus. Cristo, o único Mestre, ensina pelo exemplo da cruz, onde a exaltação nasce da obediência e do sacrifício. Chamar alguém de "Rabi" ou "Guia" fora de Deus é idolatrar a criatura, desviando a alma de seu fim sobrenatural. A grandeza no Reino é proporcional ao serviço, pois a ordem da caridade inverte a ordem do mundo: o servo é rei, e o exaltado, humilhado. Este texto nos ordena viver para Deus, não para os homens, pois a felicidade beatífica, e não a aprovação terrena, é o nosso destino.

Hugo de São Vítor, "De Sacramentis Christianae Fidei, Livro I, Parte IX" (reflexão sobre autoridade e humildade) - Os escribas e fariseus deturpam a autoridade divina ao usá-la para domínio próprio, pois a cátedra de Moisés foi dada para edificar, não para oprimir. Ensinam o que é justo, mas sua vida contradiz a palavra, mostrando que o conhecimento sem amor é estéril. Os fardos pesados são a letra da lei sem o espírito, uma carga que esmaga quando não elevada pela graça divina. A ostentação de filactérias e franjas revela a alma presa ao visível, enquanto o invisível, que é Deus, deve ser o objeto do desejo. A busca por primeiros lugares é uma inversão da ordem natural, pois o homem foi criado para glorificar a Deus, não a si mesmo. Cristo corrige essa desordem ao proclamar a igualdade dos irmãos, onde ninguém usurpa o título de Mestre ou Pai, reservado ao Criador. A humildade é o caminho da sabedoria, pois só quem se abaixa pode ser elevado à contemplação divina. O maior é o servo, porque o serviço imita a caridade de Deus, que se inclina para salvar. A exaltação dos humildes é a promessa do Reino, onde a alma, livre da vanglória, encontra repouso na verdade eterna. Este ensinamento nos convida a abandonar o orgulho intelectual e a abraçar a simplicidade, pois o saber sem humildade afasta de Deus.