Santas Perpétua e Felicidade
foram mártires cristãs que viveram no início do século III em Cartago, atual Tunísia, durante o Império Romano. Perpétua, uma jovem nobre de 22 anos, e Felicidade, sua escrava grávida, foram presas em 202 ou 203 d.C. por professarem a fé cristã, em meio a uma perseguição ordenada pelo imperador Septímio Severo. Batizadas na prisão, enfrentaram tormentos com coragem exemplar, culminando em seu martírio em 7 de março de 203, quando foram executadas na arena, primeiro atacadas por feras e depois degoladas. A vida espiritual de Perpétua é marcada por visões místicas registradas em seu diário, revelando uma fé inabalável e uma conexão profunda com Deus, enquanto Felicidade demonstrou fortaleza ao dar à luz na prisão e encarar o martírio com serenidade. Celebradas em 7 de março, elas são lembradas como símbolos de resistência e devoção. Uma das obras mais significativas relacionadas às santas é A Paixão de Santas Perpétua e Felicidade (Passio Sanctarum Perpetuae et Felicitatis), um relato escrito em grande parte pela própria Perpétua, complementado por testemunhas após sua morte. Este texto, um dos mais antigos documentos cristãos escritos por uma mulher, destaca-se por sua autenticidade e emoção. Um trecho representativo é: “Nos jogaram no cárcere e eu fiquei consternada, porque nunca tinha estado em um lugar tão escuro. O calor era insuportável e éramos muitas pessoas em um subterrâneo muito estreito. Parecia que ia morrer de calor e de asfixia, e sofria por não poder ter, junto a mim, o meu filho, que era de tão poucos meses e necessitava muito de mim.”
PRÓPRIO DO DIA
Introito (Sl 25,11-12 | ib., 1)
Rédime me, Dómine, et miserére mei: pes enim meus stetit in via recta... Livrai-me, Senhor, e tende piedade de mim; meu pé está no caminho reto: nas assembleias louvarei o Senhor. Sl. Julgai-me, Senhor, porque eu ando em minha inocência, e, esperando no Senhor, não vacilarei. ℣. Glória ao Pai.
Epístola (Dn 9, 15-19)
Leitura do Profeta Daniel. Naqueles dias, orou Daniel ao Senhor, dizendo: Senhor, Deus nosso, Vós tirastes vosso povo da terra do Egito com mão poderosíssima e Vos fizestes um Nome que permanece até hoje: pecamos, fizemos iniquidades, Senhor, contra a vossa lei. Eu Vos imploro, desviai a vossa ira e a vossa indignação, de Jerusalém, vossa cidade, e de vossa montanha santa, pois por causa de nossos pecados e das iniquidades de nossos país, Jerusalém e vosso povo estão hoje no desprezo de todos os que nos cercam. Agora, Deus nosso, ouvi as orações de vosso servo e suas súplicas, e mostrai vossa face sobre vosso santuário que está deserto, fazendo-o por amor de Vós mesmo. Inclinai, Deus meu, vossos ouvidos e ouvi; abri vossos olhos e vede nossa desolação e a da cidade sobre a qual foi invocado vosso Nome. Não é confiando em nossa justiça que Vos apresentamos humildemente nossas orações ante vossa face, e sim confiando na multidão de vossas misericórdias. Ouvi-nos, Senhor, e aplacai-Vos. Senhor, atendei-nos e começai a vossa obra. Não tardeis mais, por Vós mesmo, meu Deus, porque vosso Nome foi invocado sobre esta cidade e sobre vosso povo, ó Senhor, Deus nosso.
Evangelho (Jo 8, 21-29)
Naquele tempo, disse Jesus às turbas dos judeus. Eu me afasto, e vós me procurais e em vosso pecado [da incredulidade], morrereis. Onde vou, vós não podeis vir. Diziam, pois, os judeus: Porventura vai suicidar-se, desde que diz: Onde vou, vós não podeis vir? E Ele lhes disse: Vós sois daqui de baixo, e eu do alto sou. Vós sois deste mundo, e eu deste mundo não sou. Eu vos disse, pois, que morreríeis em vossos pecados; porque se não acreditais no que eu sou, morrereis em vosso pecado. Diziam-lhe eles: Quem és Tu? Respondeu-lhes Jesus: Sou o Princípio, eu que vos falo. Muitas coisas tenho a dizer de vós e a julgar. Quem me enviou, no entanto, é verdadeiro, e o que d’Ele aprendi, eu o digo no mundo. Eles não compreenderam que Ele dizia que Deus era seu pai. Jesus lhes disse, pois: Quando tiverdes elevado o Filho do homem [na Cruz], então conhecereis que sou Eu e que por mim mesmo nada faço, mas falo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou, comigo está e não me deixou só, porque eu faço sempre o que Lhe é agradável.
Homilia
São João Crisóstomo – Homilia 53 sobre o Evangelho de São João (Catena Aurea, Vol. 4: Evangelho de São João) - Cristo fala aos judeus como quem os instrui para a salvação, mas eles, endurecidos, não reconhecem a divindade do Filho que os chama à verdade; Ele anuncia que irão buscá-Lo após Sua partida, mas não O encontrarão, pois o tempo da graça será perdido para os que rejeitam a luz presente; o “lugar aonde vou” é o seio do Pai, inacessível aos impuros, e sua morte na incredulidade é o fruto da recusa em crer que Ele é o “Eu Sou”, o nome divino revelado a Moisés; não é por falta de sinais que perecem, mas por cegueira voluntária, pois preferem a glória terrena à celestial; Ele, sendo igual ao Pai, não busca Sua própria glória, mas a do que O enviou, mostrando humildade perfeita; os que O rejeitam julgam segundo a carne, mas Ele julga com justiça divina, vindo para salvar, não para condenar, embora Sua palavra seja juízo aos que a desprezam; a multidão pergunta “quem és tu?”, mas a resposta já foi dada na eternidade: Ele é o Verbo encarnado, princípio de todas as coisas, e os que não O aceitam como tal tropeçam na pedra de escândalo que é Sua humanidade; o “se não crerdes” é um aviso solene, pois a fé n’Ele é o único caminho à vida, e fora disso resta a morte eterna; assim, São João Crisóstomo exalta a paciência de Cristo, que ainda dialoga com os duros de coração, mas sublinha que o tempo de conversão é agora, antes que a porta se feche.