18 ABRIL - 6A-FEIRA DA PAIXÃO E MORTE DO SENHOR


Na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor a Igreja não celebra o Santo Sacrifício da Missa. Em sinal de luto e para realçar mais a morte de Nosso Senhor na Cruz, ela congrega os fiéis em redor do Sumo Sacerdote que se oferece como Vítima pelos pecados do mundo. É dia de luto universal. A solene ação litúrgica desse dia, que deve ser celebrada à tarde, das 15 horas, não, todavia, depois das 18 horas se divide em quatro partes: 1ª. as Leituras; 2ª. as Orações Solenes; 3ª. a Adoração da Cruz e 4ª. a Comunhão.

Leitura (Ex 12, 1-11)
Naqueles dias, disse o Senhor a Moisés e a Aarão, na terra do Egito: Este mês será para vós o primeiro dos meses; será para vós o primeiro dos meses do ano. Falai a toda a assembléia dos filhos de Israel, e dizei-lhes: No décimo dia deste mês, tome, cada qual, um cordeiro para sua família e para sua casa. Se em uma casa não houver número suficiente de pessoas para comer o cordeiro, chamem-se da casa do vizinho mais próximo quantas pessoas bastem para comer o cordeiro. Este cordeiro deve ser sem mancha, masculino e deste ano. Observando o mesmo rito, podeis também tomar um cabrito. Guarda-lo-eis até o décimo quarto dia deste mês: e então, à tarde, toda a multidão dos filhos de Israel o imolará. E tomar-se-á o sangue com o qual serão pintados os dois umbrais e o limiar das casas em que o cordeiro for comido. Nessa mesma noite comerão a carne assada no lume, com pão ázimo e alfaces silvestres. Dele nada comereis cru ou cozido com água, mas tudo será assado no lume: a cabeça, os pés e as entranhas serão comidos. Nada deverá ficar para o dia seguinte. Se alguma coisa sobrar, tereis o cuidado de a consumir no fogo. E é assim que deveis comer: cingidos os vossos rins, calçados os vossos pés e segurando bordões na mão. Comereis com pressa, pois é a Páscoa (isto é, a passagem) do Senhor.

Paixão (Jo 18, 1-40; 19, 1-42)
Naquele tempo, passou Jesus com os seus discípulos à outra banda do rio Cedron, onde havia um horto no qual entrou com os seus discípulos. Judas, que o traía, conhecia também esse lugar, porque muitas vezes Jesus ali viera com os seus discípulos. Tendo pois, tomado uma companhia de soldados e de servos, fornecidos pelos pontífices e fariseus, veio Judas a esse lugar, com lanternas, archotes e armas. Jesus, que sabia tudo o que ia acontecer, foi-lhes ao encontro e disse: A quem procurais? Eles responderam: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. Ora, Judas, que o atraiçoava, estava também com eles. Apenas Jesus lhes disse: Sou eu, retrocederam e caíram por terra. Perguntou-lhes Jesus, pela segunda vez: A quem procurais? Responderam eles: A Jesus Nazareno. Respondeu Jesus: Já vos disse que sou eu; se, pois, só a mim buscais, deixai ir a estes. Assim se cumpriu a palavra que havia dito: Não perdi nenhum dos que me destes. Então Simão Pedro, que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu um servo do pontífice, cortando-lhe a orelha direita. Este servo chamava-se Malco. Disse Jesus a Pedro: Mete a tua espada na bainha. O cálice que meu Pai me deu, não o beberei eu? Então, a corte, o tribunal e os servos dos judeus prenderam a Jesus e O amarraram; e O conduziram primeiramente a Anaz, porque era sogro de Caifás que era o pontífice naquele ano. Ora, Caifás era o que havia dado este conselho aos judeus: Convém que um homem morra pelo povo. Entretanto Simão Pedro e o outro discípulo [João] seguiram a Jesus. Este discípulo, que era conhecido do pontífice, entrou com Jesus no pátio do palácio; mas Pedro ficou fora, à porta. Saiu então o discípulo que conhecia o pontífice, falou à porteira e esta fez Pedro entrar. E então disse a porteira a Pedro: Não és tu também um dos discípulos desse homem? Respondeu ele: Não sou. Estavam ali os servos e os guardas em torno do braseiro, aquecendo-se, porque fazia frio; e com eles estava Pedro, de pé, aquecendo-se também. O pontífice, no entanto, inquiriu Jesus acerca de seus discípulos e de sua doutrina. Respondeu-lhe Jesus: Eu falei publicamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo a que afluem todos os judeus; e nada disse ocultamente. Por que me interrogas? Pergunta àqueles que me ouviram; eles sabem o que lhes ensinei. Tendo Jesus proferido estas palavras, um dos guardas que aí se achavam, deu-Lhe uma bofetada, dizendo: Assim respondes ao pontífice? Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, traze-me o testemunho do mal, mas se falei bem, por que me bates? E Anás enviou-O maniatado ao pontífice Caifás. Ainda ali estava Simão Pedro, de pé, a aquecer-se. Disseram-lhe então: Não és também um dos seus discípulos ? Ele negou, dizendo: Não sou. Disse-lhe um dos servos do pontífice, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: Porventura não te vi eu no horto com Ele? E Pedro negou outra vez; e logo depois o galo cantou. Conduziram então Jesus da casa de Caifás ao pretório. Era manhã, e eles não entraram no pretório para não ficarem impuros e poderem comer o cordeiro pascal. Pilatos veio fora, junto a eles e disse-lhes: Que acusações trazeis contra este homem? Replicaram-lhe com estas palavras: Se não fosse um malfeitor, não O entregaríamos a ti. Disse-lhes Pilatos: Levai-O e julgai-O segundo a vossa lei. Responderam-lhe os judeus: Não nos é permitido matar ninguém. Foi dito isto para que se cumprisse a palavra que Jesus dissera, indicando de que morte havia de morrer Entrou Pilatos outra vez no pretório, chamou Jesus e disse-Lhe: És Tu o Rei dos judeus? Respondeu Jesus: Dizes isso de ti mesmo ou foram outros que to disseram de mim? Respondeu Pilatos. Sou eu, porventura, judeu? Tua gente e os pontífices Te entregaram a mim. Que fizeste pois? Respondeu Jesus: Meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, meus ministros pelejariam para que eu não fosse entregue aos judeus; agora porém, não é daqui o meu Reino. Disse-Lhe então Pilatos-. Logo, Tu és Rei ? Respondeu Jesus: Tu dizes; eu sou Rei. Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo a fim de dar testemunho à verdade. Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz. Disse-Lhe Pilatos: Que coisa é a verdade? E dizendo isto, foi ter outra vez com os judeus e lhes disse: Nenhum crime acho n’Ele. É porém costume entre vós que eu vos liberte um preso pela Páscoa; quereis, pois, que vos solte o Rei dos judeus? Então tornaram todos a clamar, dizendo: Este não, e sim Barrabás. Ora, Barrabás era um ladrão. Então Pilatos prendeu a Jesus e O mandou, açoitar. E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a cabeça de Jesus e O revestiram com um manto de púrpura. E aproximavam-se d’Ele e diziam-Lhe: Salve, Rei dos judeus! E davam-Lhe bofetadas. Pilatos tornou ainda a sair e disse-lhes: Ei-Lo, aqui O trago para que saibais que não acho n’E!e nenhum delito. (Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura.) E disse-lhes Pilatos: Eis o homem. Vendo-O, os pontífices e os guardas puseram-se a gritar: Crucifica-O, crucifica-O. Disse-lhes Pilatos: Tomai-O vós e crucificai-O: porque não acho n’ Ele crime algum. Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo essa lei, Ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus. Quando Pilatos ouviu estas palavras, temeu ainda mais. E entrou outra vez no pretório e disse a Jesus: Donde és Tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-Lhe então Pilatos: Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te crucificar e poder para te por em liberdade? Respondeu Jesus: Não terias poder algum sobre mim, se te não fosse dado do alto. Por isso aquele que a ti me entregou, tem maior pecado. Desde esse momento, procurava Pilatos o meio de O livrar. Mas os judeus gritavam: Se soltas este homem, não és amigo de César; porque todo aquele que se faz rei, declara-se contra César. Ao ouvir Pilatos estas palavras, trouxe Jesus para fora e assentou-se em seu tribunal, no lugar chamado em grego Lithóstrotos e em hebraico Gabbatha. Era o dia da preparação da Páscoa, e quase à hora sexta. E disse Pilatos aos judeus: Eis o vosso Rei. Eles, porém, clamavam: Fora! fora com Ele! Crucifica-O. Disse-lhes Pilatos: Pois hei de crucificar o vosso Rei? Revidaram os pontífices: Não temos outro Rei senão César. Então, finalmente, Pilatos lhes entregou Jesus para ser crucificado. Eles tomaram pois a Jesus e O levaram. E Jesus, carregando a sua cruz às costas, saiu para o lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota, onde O crucificaram, e com Ele dois outros, um de cada lado, e Jesus no meio. Escreveu também Pilatos um título que mandou colocar sobre a cruz. E nele estava escrito: Jesus Nazareno, Rei dos judeus. Muitos dos judeus leram esse título, porque era perto da cidade o lugar onde Jesus fora crucificado. E a inscrição era em hebraico, grego e latim. Diziam pois a Pilatos os pontífices dos’ judeus: Não escrevas: Rei dos judeus, mas sim como Ele disse: Sou o Rei dos judeus. Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi. Os soldados, porém, depois de haverem crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes (dividindo-as em quatro partes, uma para cada soldado); e tomaram também a túnica. Esta era sem costura, toda tecida de alto a baixo. E disseram então uns aos outros: Não a rasguemos; mas tiremos por sorte quem há de levá-la. Para que se cumprisse a Escritura, que diz: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitaram sortes. E assim mesmo fizeram os soldados. Estavam de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe, e a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua Mãe e perto dela o discípulo que Ele amava, disse à sua Mãe: Mulher, eis o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis a tua Mãe. E desde aquela hora, recebeu-a o discípulo em sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para que ainda se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede. Havia ali um vaso cheio de vinagre. E os soldados embeberam no vinagre uma esponja, que prenderam num hissopo, e chegaram-na à sua boca. Havendo Jesus tomado o vinagre, disse: Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, expirou. (Aqui todos se ajoelham, havendo uma pausa, para honrar a morte de Nosso Senhor). Como era a preparação da Páscoa, para que não ficassem na cruz os corpos em dia de sábado (porque aquele dia de sábado era de grande solenidade), rogaram os judeus a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e os corpos fossem tirados. Vieram pois os soldados e quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que com Ele fora crucificado. Tendo vindo depois a Jesus, como O viram já morto, não Lhe quebraram as pernas. Mas um dos soldados Lhe abriu o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. E aquele que o viu, deu testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. E ele sabe que disse a verdade, para que também o creiais. Porque estas coisas aconteceram para que se cumprissem as palavras da Escritura: Não lhe quebrareis osso algum. E também diz outro aqueles a quem traspassaram, Depois disso, José de Arimateia (que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos consentiu. José veio, pois, e tirou o corpo de Jesus. Nicodemos, aquele que fora visitar a Jesus pela primeira vez, à noite, veio também, trazendo uma mistura de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e O envolveram em lençóis com aromas, segundo o costume de sepultar dos judeus. Havia no lugar em que Jesus fora crucificado, um horto, e nele uma sepultura nova onde ninguém fora ainda depositado. Ali pois, por ser o dia de Parasceve dos judeus, e porque aquele sepulcro estava perto, colocaram a Jesus.

Homilias e Explicações Teológicas
O sacrifício do cordeiro pascal, cuja carne é consumida para a salvação dos primogênitos, prefigura o verdadeiro Cordeiro, Cristo, cuja oblação na cruz não apenas redime, mas une os fiéis em comunhão com sua divindade, sendo o sangue aspergido um sinal da nova aliança que purifica a alma do pecado (Santo Agostinho, Sermão 228). A traição de Judas, movida por cobiça, revela a fraqueza humana que contrasta com a fortaleza de Cristo, que, ao aceitar a traição, manifesta a soberania de sua vontade divina, transformando o mal em instrumento de redenção (São João Crisóstomo, Homilia sobre João 18). A flagelação e a coroação de espinhos, longe de serem apenas sofrimentos físicos, são a assunção por Cristo de todas as dores humanas, elevando o sofrimento à dignidade de sacrifício redentor, onde a humilhação se torna glória (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre João 19). A entrega de Cristo à cruz, em silêncio e obediência, é a perfeita realização da justiça divina, que não pune, mas reconcilia, oferecendo ao mundo a paz que excede toda compreensão (Santo Ambrósio, Tratado sobre o Evangelho de Lucas, adaptado para João 19). A inscrição na cruz, escrita em três línguas, proclama a universalidade do reinado de Cristo, que, mesmo na morte, governa como Rei, unindo todos os povos sob sua cruz (São Beda, o Venerável, Comentário sobre João 19).

Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos
Os evangelhos sinóticos complementam o relato de João (Jo 18,1-40; 19,1-42) com detalhes que enriquecem a narrativa da Paixão. Mateus (Mt 26,30-27,66) destaca o canto do hino após a Última Ceia, sugerindo um contexto litúrgico, e inclui o arrependimento de Judas, que devolve as moedas e se enforca, um aspecto ausente em João. Marcos (Mc 14,26-15,47) enfatiza a angústia de Jesus no Getsêmani, com sua oração intensa e suor de sangue, detalhando a humanidade de Cristo em sua luta interior, menos explícita em João. Lucas (Lc 22,39-23,56) apresenta Jesus consolando as mulheres que choram por ele no caminho do Calvário, um gesto de compaixão não mencionado em João, e registra o perdão de Jesus ao "bom ladrão", oferecendo uma perspectiva única sobre a misericórdia divina. Esses acréscimos dos sinóticos fornecem nuances emocionais e teológicas que complementam a abordagem mais teológica e simbólica de João.

Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
Os textos de São Paulo complementam o evangelho de João (Jo 18,1-40; 19,1-42) ao explicitar os efeitos teológicos e espirituais da Paixão de Cristo. Em 1 Coríntios 5,7-8, Paulo identifica Cristo como o "Cordeiro Pascal" sacrificado, conectando diretamente a morte de Jesus à libertação do pecado, um simbolismo apenas implícito em João. Em Romanos 5,8-11, Paulo destaca que a morte de Cristo reconcilia a humanidade com Deus, enfatizando a justificação pela fé, um tema que João aborda de forma mais narrativa. Em Filipenses 2,6-11, Paulo descreve a kénosis de Cristo, sua humilhação voluntária até a cruz, enriquecendo a compreensão da obediência de Jesus narrada em João. Finalmente, em Gálatas 3,13, Paulo interpreta a crucificação como Cristo se tornando "maldição" para redimir os homens da maldição da lei, um aspecto jurídico-teológico ausente no relato joanino. Esses textos paulinos amplificam a dimensão soteriológica da Paixão, oferecendo uma reflexão teológica que complementa a narrativa de João.

Cerimônia do dia na St. Gertrude the Great Roman Catholic Church