26 nov
S. Silvestre, abade


📜São Silvestre Gozzolini (vídeo), nascido em Osimo, na Itália, por volta de 1177, era de nobre linhagem e destacou-se inicialmente nos estudos de direito e teologia, tornando-se cônego, mas sua vida sofreu uma transformação radical ao contemplar, em uma sepultura aberta, o cadáver deformado de um parente que fora conhecido por sua beleza; impactado pela transitoriedade da glória terrena, exclamou a célebre frase: "O que este foi, eu sou; e o que este é, eu serei", decidindo abandonar o mundo para viver em extrema solidão e penitência. Retirando-se para o deserto e vivendo inicialmente como eremita, atraiu discípulos inspirados por sua santidade e austeridade, o que o levou a fundar, no Monte Fano, a Ordem dos Silvestrinos, um ramo reformado sob a Regra de São Bento que enfatizava a pobreza estrita e a vida contemplativa, obra que consolidou até sua morte em 1267, deixando um legado de renovação espiritual e desapego mundano.

📖Epístola (Eclo 45, 1-6)
Ele foi amado de Deus e dos homens; sua memória é abençoada. O Senhor o igualou aos Santos na glória, engrandeceu-o para temor dos seus inimigos e por suas palavras fez cessar as pragas. Glorificou-o diante dos reis; deu-lhe seus preceitos diante de seu povo e mostrou-lhe sua glória. Por sua fidelidade e mansidão o santificou e o escolheu dentre todos os homens. Deus lhe fez ouvir a sua voz e fê-lo entrar na nuvem. E deu-lhe, face a face, os seus preceitos e a lei da vida e da doutrina.

✠Evangelho (Mt 19, 27-29)
Naquele tempo, disse Pedro a Jesus: Eis que abandonamos tudo e Vos seguimos: que recompensa haverá então para nós? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo, que no dia da regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, assentar-vos-eis em doze tronos e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as terras, por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.

🕯️Reflexões

💀A liturgia de hoje nos confronta com a radicalidade do seguimento de Cristo, exemplificada na conversão de São Silvestre diante da realidade da morte e da corrupção da carne, um "memento mori" que ecoa a nulidade das vaidades temporais frente à eternidade. O Evangelho apresenta a indagação de Pedro sobre a recompensa daqueles que deixaram tudo, e a resposta de Cristo ilumina a natureza da verdadeira riqueza; ao abandonar os bens finitos, a alma não se empobrece, mas se esvazia para ser preenchida pelo Infinito, pois aquele que se apega ao mundo abraça o que perece, enquanto quem renuncia por amor ao Nome de Jesus antecipa a posse do Sumo Bem. A renúncia não é um fim em si mesma, mas o meio indispensável para a liberdade interior que permite ao homem ordenar-se inteiramente a Deus, como ensina o Doutor Angélico ao afirmar que a perfeição da caridade consiste no desapego de tudo o que retarda a mente de ser levada totalmente a Deus (Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiae, II-II, q. 184).

🌫️Na Epístola, a figura de Moisés entrando na nuvem e falando face a face com Deus prefigura a vocação monástica e contemplativa abraçada por São Silvestre e seus monges, onde o isolamento do mundo não é uma fuga covarde, mas uma entrada no mistério divino. A "nuvem" representa o obscurecimento dos sentidos carnais para que os olhos do espírito se abram à "lei da vida e da doutrina", indicando que a verdadeira sabedoria é infundida naqueles que, pela mansidão e fidelidade, se separam do tumulto secular para ouvir a voz de Deus no silêncio. Santo Agostinho nos recorda que esta visão de Deus é a recompensa final da fé, e que, nesta vida, purificamos o coração através das boas obras e da ascese para que, no dia da regeneração, possamos ver Aquele que agora contemplamos apenas por espelho e em enigma (Santo Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de São João).

⚖️A promessa do "cêntuplo" e da "vida eterna" estabelece a dimensão escatológica da esperança cristã, onde os santos, tendo participado da humilhação de Cristo na terra, participarão de Seu governo e glória no céu, sentando-se em tronos para julgar. Este julgamento não é apenas uma sentença forense, mas a manifestação da vitória da santidade sobre o pecado; aqueles que julgaram retamente a si mesmos nesta vida, condenando seus próprios vícios e escolhendo a pobreza de espírito, receberão a autoridade de julgar o mundo que desprezaram. Como nos ensina a mística carmelita, só Deus basta, e quem possui a Deus nada lhe falta, experimentando já nesta terra o cêntuplo de uma paz que o mundo não pode dar, prelúdio daquela bem-aventurança eterna onde a alma será imersa no oceano da divindade (Santa Teresa de Ávila, Poesias).