28 MAIO - VIGÍLIA DA ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR


Comemoração de S. Agostinho, Bispo e Confessor

Introito (Is 48, 20 | Sl 65, 1-2)
Vocem iucunditátis annuntiáte, et audiátur, allelúia... Com voz de júbilo, anunciai e fazei ouvir: aleluia. Proclamai até os extremos da terra: o Senhor libertou o seu povo, aleluia, aleluia. Ps. Louvai a Deus, ó terra inteira; cantai salmos em honra de seu Nome; daí-Lhe glória em seu louvor.

Epístola (Ef 4, 7-13)
Irmãos: A cada um de nós foi concedida a graça segundo a medida do dom do Cristo. Por isso se diz [na Escritura]: Subindo ao alto levou os cativos como presas, e prodigalizou dádivas aos homens. Ora, que significa: Ele subiu, senão que Ele descera antes às regiões inferiores na terra? Quem desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de cumprir todas as coisas. E Ele constituiu a uns como Apóstolos, a outros como Profetas, a outros como Evangelistas, a outros como Pastores e Doutores para o aperfeiçoamento dos Santos, para a obra do ministério, para a formação do corpo de Jesus Cristo [a Igreja] até que alcancemos todos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, a madureza de homem perfeito, e a medida da idade da plenitude do Cristo.

Evangelho (Jo 17, 1-11)
Naquele tempo, elevando Jesus os olhos ao céu, disse: Pai, chegou a hora, glorifica o teu Filho, a fim de que o teu Filho Te glorifique. A Ele deste poder sobre todos os homens para que Ele conceda a vida eterna aos que Lhe confiaste. Ora, a vida eterna é que Te conheçam como único Deus verdadeiro e Aquele a quem enviaste, Jesus Cristo. Eu Te glorifiquei sobre a terra e completei a obra que me havias dado a fazer. E agora, glorifica-me, Pai, junto a Ti mesmo, com a glória que tive junto de Ti, antes que houvesse mundo. Tornei conhecido o teu nome aos homens que Tu me deste no mundo. Eles Te pertenciam e a mim os deste; e eles conservaram a tua palavra. Agora, sabem que tudo quanto me deste vem de Ti, porque eu lhes dei as palavras que me comunicaste e eles as acolheram: e em verdade conheceram que eu saí de Ti e creram que Tu me enviaste. É por eles que eu peço: não é pelo mundo que intercedo, porém por aqueles que me deste, porque te pertencem. Tudo que é meu é teu e tudo que é teu é meu. Neles fui glorificado. Eu já não sou deste mundo, porém eles estão no mundo; e eu venho a Ti.

Homilias e Explicações Teológicas
A graça conferida a cada um, conforme a medida do dom de Cristo, revela a economia divina que ordena a diversidade de dons para a edificação do Corpo Místico, unindo os fiéis em um único propósito de santificação, de modo que a Igreja, como esposa de Cristo, cresça até a estatura plena do Salvador (Santo Agostinho, Sermão 341, 9). A oração de Jesus ao Pai, pedindo a glorificação mútua, manifesta a unidade eterna entre o Filho e o Pai, que não é apenas uma comunhão de essência, mas um modelo para a unidade dos fiéis, chamados a participar dessa glória por meio da fé e da caridade (Santo Hilário de Poitiers, De Trinitate, Livro IX, 38). Na Ascensão, Cristo eleva a natureza humana ao céu, mostrando que os dons espirituais descritos por Paulo são ordenados para conduzir os homens à participação na vida divina, preparando-os para a consumação escatológica (Santo Gregório Magno, Homilia 29 sobre os Evangelhos). A intercessão de Cristo pelos seus, para que sejam um como Ele e o Pai são um, sublinha que a unidade da Igreja não é meramente humana, mas enraizada na própria vida trinitária, sendo a Ascensão o sinal visível de que a humanidade redimida é chamada a habitar com Deus (Santo Cirilo de Alexandria, Comentário sobre o Evangelho de João, Livro XI).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de João (17, 1-11), com sua ênfase na oração sacerdotal de Jesus, destaca a glorificação do Filho e a unidade dos discípulos com o Pai de maneira única, não encontrada nos sinóticos. Em Mateus (28, 16-20), a narrativa pós-ressurreição foca na missão universal de fazer discípulos, com a promessa de Cristo de estar sempre presente, mas sem a profundidade teológica da comunhão trinitária presente em João. Marcos (16, 14-20) acentua a Ascensão como o momento da entronização de Cristo à direita do Pai e o envio dos discípulos para pregar, complementando João com a dimensão da autoridade cósmica de Jesus, mas sem mencionar a unidade dos fiéis com o Pai. Lucas (24, 44-53) conecta a Ascensão à abertura das Escrituras e à promessa do Espírito, enfatizando a alegria dos discípulos e sua espera em Jerusalém, aspectos ausentes em João, que foca na oração íntima de Cristo. Assim, João oferece uma perspectiva teológica mais elevada sobre a unidade divina, enquanto os sinóticos destacam a missão e a consumação da obra de Cristo.

Comparação com Textos de São Paulo
Efésios 4, 7-13 enfatiza a diversidade de dons concedidos por Cristo para a edificação da Igreja, apontando para a maturidade espiritual dos fiéis. Em 1 Coríntios 12, 4-11, Paulo complementa essa ideia ao detalhar a origem comum dos dons no Espírito Santo, sublinhando que, embora diversos, todos servem à unidade do Corpo de Cristo, um aspecto menos explícito em Efésios. Romanos 12, 3-8 amplia a noção de dons ao relacioná-los com a humildade e a funcionalidade prática na comunidade, destacando a interdependência dos membros, enquanto Efésios foca na meta escatológica da estatura plena de Cristo. Em Colossenses 3, 1-4, Paulo conecta a Ascensão à vida dos fiéis, exortando-os a buscar as coisas do alto, onde Cristo está entronizado, um tema que ressoa com a glorificação mencionada em João 17, mas com ênfase na transformação moral dos cristãos. Assim, os textos paulinos complementam Efésios ao detalhar a origem, a prática e a orientação escatológica dos dons, enquanto João 17 aprofunda a unidade teológica com o Pai.

Comparação com Documentos da Igreja
O Missal Romano de 1920, na Vigília da Ascensão, destaca a elevação de Cristo ao céu como o cumprimento da redenção, unindo a humanidade a Deus, o que ecoa a oração de João 17, mas sem a ênfase explícita na unidade trinitária dos fiéis. O Breviário Romano (edição pré-1911) exalta a Ascensão como o momento em que Cristo, como Cabeça da Igreja, conduz os membros à glória, complementando Efésios 4 com a ideia de que os dons são instrumentos para alcançar essa glória celestial, um ponto menos desenvolvido no texto paulino. A Encíclica Mystici Corporis Christi (1943, pré-Vaticano II) reforça a unidade do Corpo Místico descrita em Efésios, mas detalha como a Igreja, animada pelo Espírito, é o meio pelo qual os fiéis participam da vida divina, um aspecto implícito em João 17. O Catecismo Romano (1566) ensina que a Ascensão confirma a divindade de Cristo e abre o caminho para o céu, complementando a glorificação mencionada em João com uma explicação didática sobre a esperança escatológica dos fiéis. Esses documentos ampliam os textos bíblicos ao explicitar a conexão entre a Ascensão, a unidade da Igreja e a participação na vida divina.