🕊️São Calisto I (m. 222), papa de 217 a 222, foi um ex-escravo que se tornou o guardião dos cemitérios cristãos na Via Ápia, hoje conhecidos como as Catacumbas de São Calisto. Seu pontificado foi marcado por uma profunda misericórdia para com os pecadores arrependidos, defendendo que a Igreja tinha o poder, conferido por Cristo a Pedro, de perdoar todos os pecados, inclusive os mais graves como apostasia e adultério. Esta posição pastoral o colocou em conflito com rigoristas como Tertuliano e Hipólito, que o acusaram de frouxidão. A tradição sustenta que ele sofreu o martírio durante uma revolta popular anticristã. Sua firmeza na defesa da autoridade e da misericórdia da Igreja reflete as palavras do Senhor: "Tudo o que ligares sobre a terra, será ligado nos céus".
📖Epístola (I Pe 5, 1-4. 10-11)
Caríssimos: Aos anciãos entre vós exorto eu, ancião como eles e testemunha dos padecimentos de Cristo, como também companheiro na glória que se há de manifestar. Apascentai o rebanho de Deus que vos está confiado; tende cuidado dele, não constrangidos, mas de bom grado, segundo Deus, não por amor de lucro vil, mas por dedicação, não como que exercendo domínio sobre os Eleitos, mas fazendo-vos de coração modelos do rebanho. Quando então aparecer o Supremo Pastor recebereis a coroa imarcessível da glória. O Deus de toda a graça, que no Cristo Jesus nos chamou para a sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, fortificará e consolidará. A Ele a glória e por todos os séculos. Amém.
✝️Evangelho (Mt 16, 13-19)
Naquele tempo, veio Jesus para os lados de Cesareia de Filipe, e interrogou os seus discípulos: Na opinião dos homens quem é o Filho do homem? E eles responderam: Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que Jeremias ou algum dos Profetas. Disse-lhes Jesus: E vós, quem julgais que eu sou? Tomando a palavra, Simão Pedro disse: Vós sois o Cristo, Filho de Deus vivo. E respondendo, Jesus disse: Bem-aventurado és tu, Simão Bar Jonas [filho de Jonas], porque não foi a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. E por isso te digo que és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus. E tudo que ligares sobre a terra, será ligado nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra, será desligado nos céus.
✨Reflexões
🔑Sobre a confissão de Pedro, a rocha da fé, Santo Agostinho ensina que Pedro personificava a Igreja universal ao receber as chaves, e que este poder não foi dado a um só homem, mas à unidade da Igreja. ‘Pois não foi um só homem que recebeu estas chaves, mas a unidade da Igreja’ (Sermão 295, 2). São Calisto I exerceu este poder de ‘ligar e desligar’ não como um tirano, mas como um pastor misericordioso, compreendendo que as chaves do Reino dos Céus foram dadas para abrir as portas aos penitentes, e não para trancá-las com rigor excessivo, refletindo o próprio coração de Cristo, o Supremo Pastor.
👑São Beda, o Venerável, ao comentar sobre o pastoreio, enfatiza que o verdadeiro pastor guia ‘não por força, mas voluntariamente’, tornando-se um ‘modelo para o rebanho’ (Comentário sobre a Primeira Epístola de Pedro). A vida de São Calisto I é uma encarnação desta exortação. Ele não impôs um domínio tirânico de regras inflexíveis, mas ofereceu o modelo da misericórdia de Deus, mesmo sofrendo a oposição dos que o acusavam de frouxidão. Tendo ‘padecido um pouco’ por causa das heresias e perseguições, ele recebeu, como mártir, a ‘coroa imarcessível da glória’ prometida pelo Supremo Pastor.
🏛️A firmeza de São Calisto I em defender a autoridade do Sucessor de Pedro para perdoar todos os pecados encontra eco nos ensinamentos do Concílio de Trento, que definiu dogmaticamente o poder dos sacerdotes de absolver todos os pecados em nome de Cristo (Sessão XIV, Cânon 11). Além disso, sua vida prefigura a doutrina sobre o primado de jurisdição do Romano Pontífice, solenemente definida na Constituição Dogmática Pastor Aeternus, que afirma que o poder de ‘ligar e desligar’ foi conferido a Pedro e seus sucessores para a edificação e salvação de todo o rebanho, uma verdade que São Calisto defendeu com seu próprio sangue.