👑Para concluir solenemente o ano jubilar de 1925, o Papa Pio XI, através da encíclica Quas Primas, instituiu a Festa de Cristo Rei. Esta solenidade serve como uma admoestação universal para que toda a humanidade reconheça Jesus Cristo, o Filho de Deus, como o Rei soberano sobre toda a criação. A Ele devem submeter-se governantes, leis, artes e todas as estruturas sociais. Cristo deve reinar nas mentes pela fé, nas vontades pela obediência aos seus mandamentos, nos corações pelo amor ardente, e nos corpos como templos do Espírito Santo. A instituição de uma festa anual, segundo o Papa, teria uma eficácia pedagógica superior à de muitos documentos doutrinários, inculcando no povo a verdade do Reinado social de Cristo, cujo império visa trazer a união e a verdadeira paz para o mundo.
📜Epístola (Col 1, 12-20)
Irmãos: Damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de participar da sorte e herança dos Santos na luz; que nos tirou do poder das trevas e nos transportou ao Reino do Filho do seu Amor. N'Ele, por seu Sangue, temos a redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criatura. Porque n'Ele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, quer as visíveis, quer as invisíveis; os Tronos, as Dominações, os Principados, as Potestades: tudo foi criado por Ele e n'Ele. E Ele está acima de todas as coisas, e todas subsistem por Ele. Ele é também a Cabeça do Corpo da Igreja, é o princípio, o primogênito dentre os mortos. Para que em tudo tenha a primazia, porque foi do agrado do Pai que n'Ele residisse toda a plenitude [da perfeição divina]: para que se reconciliassem por Ele todas as coisas, pacificando pelo Sangue derramado na Cruz, tanto as coisas da terra como as coisas dos céus em Cristo Jesus, Senhor nosso.
✝️Evangelho (Jo 18, 33-37)
Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: És tu o Rei dos judeus? Respondeu Jesus: Dizes isso por ti mesmo ou foram outros que to disseram de mim? Respondeu Pilatos: Sou eu, porventura, judeu? A tua gente e os pontífices te entregaram a mim. Que fizeste, pois? Respondeu Jesus: Meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, meus servos pelejariam, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora meu Reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és Rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes: eu sou Rei. Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz.
🤔Reflexões
🗝️O diálogo entre Cristo e Pilatos revela a natureza paradoxal da realeza divina. Quando Jesus declara "O meu Reino não é deste mundo", Ele não nega a sua soberania sobre o mundo, mas esclarece a sua origem e o seu caráter. O seu poder não deriva da força militar, da conquista terrena ou da aclamação popular, mas da própria Verdade. Santo Agostinho aprofunda esta distinção: "Ouçam, pois, judeus e gentios... ouçam todos os reinos terrenos: não impeço o vosso domínio neste mundo... Que temeis? O meu reino não é deste mundo. Vinde sem temor ao reino que não é deste mundo; vinde crendo, e não sejais cruéis por medo" (Santo Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de São João, 115). A realeza de Cristo não compete com os reinos terrenos; ela os transcende e os julga. A festa instituída por Pio XI na encíclica Quas Primas foi uma resposta direta ao laicismo crescente, que buscava confinar a fé à esfera privada. A Igreja reafirma que a realeza de Cristo deve ser reconhecida publicamente, pois a sua Verdade é o fundamento da justiça e da paz social.
🌌A Epístola aos Colossenses oferece o fundamento cósmico para esta realeza. São Paulo descreve Cristo não apenas como um rei moral ou espiritual, mas como o princípio ontológico de toda a criação: "Tudo foi criado por Ele e para Ele". Ele é o "primogênito de toda a criatura" e a "Cabeça do Corpo da Igreja". Esta primazia universal é o que lhe confere o direito de reinar. O seu trono não é de ouro, mas a Cruz, e o seu cetro é a Verdade. A "paz" que Ele estabelece "pelo Sangue derramado na Cruz" é a reconciliação de todas as coisas com Deus. São Tomás de Aquino ensina que a realeza de Cristo se exerce, de modo supremo, na sua Paixão, pois foi ali que Ele venceu o pecado e a morte, reconquistando o domínio sobre a humanidade que o pecado havia usurpado. O Catecismo da Igreja Católica ecoa esta verdade, afirmando que "o Reino de Cristo já está misteriosamente presente na Igreja" e que seu senhorio se estende sobre toda a história até a sua manifestação final (CIC 668-671). A realeza que Pilatos questiona no Evangelho é, na Epístola, revelada em sua glória divina e poder criador.
❤️🔥A afirmação final de Jesus, "Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz", é um convite e um desafio. Ser súdito de Cristo Rei significa pertencer à verdade e viver em conformidade com ela. Este reinado começa no interior da alma, na submissão da inteligência e da vontade a Deus. Implica uma luta constante contra a mentira do pecado e as falsas promessas do mundo. A paz de Cristo, mencionada na liturgia do dia, não é uma mera ausência de conflito, mas a "tranquilidade da ordem" (Santo Agostinho, A Cidade de Deus, XIX, 13), que só é possível quando Deus ocupa o centro da vida pessoal, familiar e social. Ao celebrar Cristo Rei, a Igreja nos conclama a entronizá-Lo em nossos corações, a testemunhar a sua Verdade em nossas ações e a trabalhar para que a Sua lei de amor e justiça impregne todas as estruturas da sociedade, antecipando assim na terra o Reino definitivo dos céus.