10 dez
S. Melquiades, Papa e Mártir


🇻🇦Papa São Melquíades (vídeo), também conhecido como Miltíades, governou a Igreja num período de transição crucial, de 311 a 314. Nascido na África, seu pontificado testemunhou o fim da grande perseguição de Diocleciano e o início da paz constantiniana, formalizada pelo Edito de Milão em 313. Foi sob seu papado que a Igreja, pela primeira vez, recebeu reconhecimento legal e proteção do Império Romano. Recebeu de Constantino o Palácio de Latrão, que se tornou a residência papal e o local da primeira basílica constantiniana, a Basílica de São João de Latrão. Embora não tenha sido executado, é venerado como mártir devido aos grandes sofrimentos que suportou pela fé durante as perseguições que precederam seu pontificado. Uma de suas principais ações foi presidir o Sínodo de Latrão em 313, que condenou a heresia donatista, um cisma que ameaçava a unidade da Igreja na África do Norte. Com sabedoria e firmeza, defendeu a verdadeira doutrina e a comunhão eclesial, consolidando a autoridade da Sé de Roma num tempo de profundas transformações sociais e religiosas. Faleceu em 314.

📖Epístola (I Pe 5, 1-4, 10-11)

Caríssimos: Aos anciãos entre vós exorto eu, ancião como eles e testemunha dos padecimentos de Cristo, como também companheiro na glória que se há de manifestar. Apascentai o rebanho de Deus que vos está confiado; tende cuidado dele, não constrangidos, mas de bom grado, segundo Deus, não por amor de lucro vil, mas por dedicação, não como que exercendo domínio sobre os Eleitos, mas fazendo-vos de coração modelos do rebanho. Quando então aparecer o Supremo Pastor recebereis a coroa imarcessível da glória. O Deus de toda a graça, que no Cristo Jesus nos chamou para a sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, fortificará e consolidará. A Ele a glória e o poder por todos os séculos. Amém.

✝️Evangelho (Mt 16, 13-19)

Naquele tempo, veio Jesus para os lados de Cesareia de Filipe e interrogou os seus discípulos: Na opinião dos homens quem é o Filho do homem? E eles responderam: Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que Jeremias ou algum dos Profetas. Disse-lhes Jesus: E vós, quem julgais que eu sou? Tomando a palavra, Simão Pedro disse: Vós sois o Cristo, Filho de Deus vivo. E respondendo, Jesus disse: Bem-aventurado és tu, Simão Bar Jonas, porque não foi a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. E por isso te digo que és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus. E tudo que ligares sobre a terra, será ligado nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra, será desligado nos céus.

🔑A Pedra e o Pastor: O Fundamento da Igreja nos Sucessores de Pedro

⛪️A liturgia de hoje, ao celebrar um Papa Mártir, nos mergulha no mistério da própria Igreja, fundada sobre a rocha de Pedro e guiada por seus sucessores. O Evangelho de Cesareia de Filipe não é apenas um relato histórico, mas o ato de fundação do primado petrino. A confissão de Pedro – “Vós sois o Cristo, Filho de Deus vivo” – não brota da “carne e do sangue”, isto é, da opinião humana, mas de uma revelação do Pai. É sobre esta fé divinamente revelada que Cristo edifica a Sua Igreja. Santo Agostinho ensina que a rocha é a fé que Pedro professou: “Sobre esta pedra, que tu confessaste, [...] edificarei a minha Igreja. Pois a Pedra era Cristo (Petram erat Christus), e sobre este fundamento o próprio Pedro foi edificado” (Tratado 124 sobre o Evangelho de João, 5). O Papa, como São Melquíades, é o guardião e o proclamador desta fé. Ele exerce o poder das chaves não como um déspota, mas como o “servo dos servos de Deus”, ligando e desligando na terra aquilo que reflete a vontade do céu. A Epístola, escrita pelo próprio São Pedro, elucida a natureza deste pastoreio: não por coação, mas “de bom grado”; não por ganância, mas “por dedicação”; não como dominadores, mas como “modelos do rebanho”. São Melquíades viveu este ideal ao enfrentar o cisma donatista com a autoridade da verdade e a caridade de um pastor, buscando consolidar a unidade da Igreja. O Catecismo da Igreja Católica reafirma que “o Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade” (CIC 882). A vida de São Melquíades, marcada pelo sofrimento da perseguição e pela firmeza na paz, mostra que o pastoreio na Igreja está intrinsecamente ligado à Cruz, à participação nos “padecimentos de Cristo” para conduzir o rebanho à “coroa imarcessível da glória”.