QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA

Féria de 3ª Classe – Missa própria – Estação na basílica SS. Silvestre e Martinho

Na igreja de S. Martinho, venerado por ter ressuscitado vários mortos, as Leituras nos falam de duas ressurreições. A mãe aflita (a Igreja) encontra um Enviado de Deus. Pelo Batismo e pela Penitência, ressurgimos a uma vida nova. É o Cristo quem no-la comunica por sua Ressurreição.

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 104, 3-4| ib., 1)
Lætétur cor quæréntium Dóminum... Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor! Procurai o Senhor e Ele vos fortalecerá; procurai sempre a sua face. Sl. Louvai o Senhor e invocai o seu Nome: anunciai as suas obras entre as nações.

Epístola (4 Reis 4, 25-38)
Naqueles dias, procurou uma Sunamita a Eliseu, no monte Carmelo. Quando esse homem de Deus a viu chegar, disse a Giezi, seu servo: Eis aquela Sunamita. Vai ao seu encontro e pergunta-lhe: Tudo vai bem para ti, para o teu marido e para o teu filho ? E ela lhe respondeu: Bem. Quando chegou junto ao homem de Deus, na montanha, abraçou os pés dele; e Giezi aproximou-se para a afastar. O homem de Deus lhe disse: Deixa-a, pois a sua alma está em amargura e o Senhor mo escondeu e não mo revelou. Disse ela então: Pedi eu, porventura, algum filho a meu senhor? Não te disse eu: Não me iludas ? Eliseu disse a Giezi: Cinge os teus rins, toma em tua mão o meu bastão e parte. Se encontrares alguém, não o saúdes; se alguém te saudar, não lhe respondas; e põe o meu bastão sobre a face do menino. Disse-lhe entretanto a mãe do menino: Pelo Senhor e por tua alma, eu não te deixarei. Ele levantou-se, pois, e a acompanhou. Giezi entretanto os havia precedido, e pusera o bastão sobre a face da criança. Esta, porém, não tinha voz, nem dava sinal de vida. Ele voltou ao encontro do seu senhor e lho anunciou, dizendo: A criança não ressuscitou. Chegando pois, Eliseu, à casa, achou a criança morta, deitada em seu leito. Entrou e logo fechou a porta sobre a criança; e orou ao Senhor. Subindo então ao leito, deitou-se sobre a criança; pôs sua boca sobre a boca do menino, os seus olhos, sobre os olhos dele e as suas mãos sobre as mãos da criança; e curvando-se sobre ela, aquecida ficou a carne da criança. Descendo, deu voltas pela casa, de um lado para o outro; e depois, subindo ao leito, deitou-se novamente sobre o menino. Então a criança bocejou sete vezes e abriu os olhos. E Eliseu chamou Giezi e disse-lhe : Chama esta Sunamita. Quando chamada, veio ela até junto dele. E Eliseu disse: Toma o teu filho. Aproximou-se a mulher e lançou-se a seus pés, adorando-o com o rosto em terra. Tomando o seu filho, retirou-se. E Eliseu regressou para Gálgala.

Evangelho (Lc 7, 11-16)
Naquele tempo, ia Jesus para uma cidade chamada Naim. Iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. E quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor moveu-se de compaixão para com ela, e disse-lhe: Não chores. Depois, aproximou-se e tocou no esquife. (E os que o levavam, pararam.) Então Jesus disse: Jovem, eu te digo, levanta-te. E o que estava morto se sentou, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos porém se encheram de temor; e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande Profeta surgiu entre nós; e Deus visitou o seu povo.

Homilias

Santo Agostinho de Hipona – Sermão 98 (Sermones in Lucam) - A ressurreição do filho da viúva de Naim é um sinal da vitória divina sobre a morte, que aponta para a ressurreição final de todos os homens. A compaixão do Senhor não é apenas um sentimento humano, mas um ato da vontade divina que restaura a vida onde a esperança estava perdida. A viúva representa a alma humana, privada de seu esposo, que é Deus, e o filho único simboliza a vida espiritual que perece no pecado. Quando Cristo toca o caixão, Ele interrompe o curso da morte, mostrando que o poder do Verbo é suficiente para reverter a corrupção. O jovem que fala após ser ressuscitado é a imagem da alma que, ao receber a graça, volta a louvar a Deus. Este milagre não é apenas para consolar uma mãe, mas para revelar que Deus visita seu povo, trazendo salvação e prometendo a ressurreição universal no fim dos tempos. A multidão que glorifica a Deus reconhece nisso o cumprimento das promessas proféticas, pois o Messias é aquele que dá vida aos mortos e renova a criação.

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Tertia Pars, Q. 53-56 (Sobre a Ressurreição de Cristo e seus sinais) - O milagre em Naim demonstra o poder de Cristo como Senhor da vida e da morte, um prenúncio de sua própria ressurreição. A compaixão manifestada não é apenas emoção, mas a expressão da vontade divina que ordena a restauração da ordem natural pervertida pelo pecado. O toque no caixão significa a união da natureza humana e divina em Cristo, pois por sua humanidade Ele se aproxima da miséria humana, e por sua divindade Ele a supera. O jovem ressuscitado, ao sentar-se e falar, mostra que a vida restaurada por Cristo é plena, não apenas física, mas também espiritual, pois a palavra é sinal da razão que retorna. Este ato é um sinal da redenção universal, pois assim como o filho é devolvido à mãe, a humanidade é restituída a Deus por meio de Cristo. A glorificação da multidão aponta para a manifestação da glória divina, que será plenamente realizada na ressurreição geral, quando todos os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e viverão. O milagre, portanto, é um testemunho da divindade de Cristo e da esperança escatológica.

Santo Ambrósio de Milão – Expositio Evangelii secundum Lucam, Livro 5 - A ressurreição do filho da viúva é um mistério da misericórdia divina que transcende a justiça humana. A viúva, desamparada e sem sustento, é figura da Igreja que, privada de seus filhos pelo pecado, clama por redenção. O Senhor, ao deter o cortejo fúnebre, interrompe o domínio da morte, mostrando que Ele é o verdadeiro esposo que não abandona sua esposa. O jovem que se levanta é a imagem da juventude espiritual renovada pela graça, que fala para proclamar a bondade de Deus. Este milagre é um sinal da vitória sobre o pecado original, que trouxe a morte ao mundo, e um anúncio da ressurreição de Cristo, que abrirá o caminho para a vida eterna. A multidão que louva a Deus reconhece a presença do Criador entre os homens, pois somente aquele que deu a vida pode retomá-la da morte. Assim, o evento em Naim é uma promessa de que a salvação não é apenas para os vivos, mas também para os mortos que serão chamados à vida no último dia.