4A-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA


Féria de 3ª Classe

Comemoração de S. Francisco de Paula, Confessor. Foi um eremita italiano nascido em 27 de março de 1416, em Paola, Calábria, e falecido em 2 de abril de 1507, em Tours, França. Fundador da Ordem dos Mínimos, ele se destacou por sua vida de extrema penitência, humildade e caridade, sendo conhecido como "O Eremita da Caridade". Desde jovem, após ser curado de um abscesso no olho por intercessão de São Francisco de Assis, dedicou-se à espiritualidade, vivendo como eremita e atraindo seguidores que compartilhavam seu ideal de simplicidade e serviço aos pobres. Entre seus feitos, construiu igrejas e mosteiros, realizou milagres como curas e profecias, e influenciou reis, como Luís XI da França, a quem auxiliou espiritualmente em seus últimos dias. Sua vida espiritual foi marcada pelo voto de "vida quaresmal" perpétua, enfatizando jejum, oração e desapego material. Uma obra significativa relacionada a São Francisco de Paula é a "Regra da Ordem dos Mínimos", aprovada pelo Papa em 1506, que reflete sua visão de humildade radical e serviço. Um texto representativo atribuído ao santo é extraído de uma de suas cartas, onde ele exorta: "A caridade de Cristo nos compele; que nossa grandeza esteja em reconhecer nossa pequenez diante de Deus."

O dia de hoje era de grande importância para os catecúmenos. Reuniam-se junto à sepultura do grande Catequista e Doutor das gentes, S. Paulo, que, em sua conversão, foi milagrosamente curado da cegueira. Os Catecúmenos eram submetidos a novo’escrutínio e realizava-se a cerimônia da abertura dos ouvidos. (O Sacerdote tocava os ouvidos dos catecúmenos, dizendo: “Ephpheta”, isto é, abre-te, como ainda hoje diz, ao administrar o Batismo.) Em seguida, recebiam o Padre nosso, o Credo e o início dos quatro Evangelhos.

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Ex 36, 23-26| Sl 33, 2)
Cum sanctificátus fúero in vobis, congregábo vos de univérsis terris... Quando eu for santificado em vós, eu vos congregarei de todas as partes da terra; derramarei sobre vós uma água pura, e sereis purificados de todas as suas iniquidades; e vos darei um Espírito novo. Sl. Bendirei o Senhor em todo o tempo; o seu louvor esteja sempre em minha boca

Leitura (Ex 36, 23-28)
Profeta Ezequiel. Assim diz o Senhor Deus: Santificarei o meu grande Nome que profanado foi entre as nações e que vós aviltastes no meio delas, a fim de que os povos saibam que sou o Senhor, quando eu tiver sido santificado em vós, diante delas. Porque vos tirarei dentre as nações, vos congregarei de todas as terras e vos levarei ao vosso país. E sobre vós derramarei uma água pura, é purificados sereis de todas as vossas iniquidades; e de toda a vossa idolatria vos limparei, Dar-vos-ei um coração puro, e um novo Espírito porei no meio de vós; tirarei o coração de pedra de vosso corpo e vos darei um coração de carne. Colocarei o meu Espírito em vosso interior, e farei que caminheis em meus preceitos, guardando e praticando os meus mandamentos. Habitareis na terra que por mim foi dada a vossos pais. Vós sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus, disse o Senhor Onipotente.

Epístola (Is 1, 16-19)
Profeta Isaías. Eis o que diz o Senhor Deus: Lavai-vos, purificai-vos, afastai de meus olhos a malícia de vossos pensamentos. Deixai de agir com perversidade e aprendei a fazer o bem. Procurai a justiça, assisti ao oprimido, protegei ao órfão, defendei a viúva. Vinde, e discuti comigo, diz o Senhor. Se forem os vossos pecados como o escarlate, ficarão brancos como a neve; se forem rubros como o carmim, tornar-se-ão brancos como a lã. Se quiserdes e me escutardes, comereis os bens da terra, disse o Senhor Todo-poderoso.

Evangelho (Jo 9, 1-38)
Naquele tempo, ao passar, viu Jesus um homem, que era cego de nascença. E os discípulos perguntaram a Jesus: Mestre, quem pecou? Este homem, ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem este pecou, nem pecaram os seus pais, mas foi para que as obras de Deus nele se manifestassem. Importa-me executar as obras d’Aquele que me enviou, enquanto é dia, pois virá a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Enquanto eu estiver no mundo, eu sou a Luz do mundo. Após ter dito isto, cuspiu na terra, fez lodo com a saliva, e com ele untou os olhos do cego, dizendo-lhe: Vai e lava-te na piscina de Siloé (que significava o Enviado). Ali foi ele, pois, e lavou-se e voltou com vista. Seus vizinhos e aqueles que antes o haviam visto como mendigo, diziam: Não é este mesmo que estava assentado e mendigava? Uns diziam: É ele. E outros: Não é, apenas com ele se parece. Ele porém dizia: Sou eu mesmo. Eles lhe disseram então: Como foram abertos os teus olhos? Respondeu: Esse homem que se chama Jesus, fez lodo, untou os meus olhos e disse-me: Vai à piscina de Siloé e lava-te. Fui, lavei-me e agora vejo. E perguntaram-lhe: Onde está Ele? Respondeu: Não sei. Eles levaram então aos fariseus aquele que fora cego. Ora, foi num sábado que Jesus fez lodo e lhe abriu os olhos. De novo, pois, lhe perguntaram os fariseus como recobrara a vista. Ele lhes respondeu: Pôs lodo sobre os meus olhos, lavei-me e vejo. Diziam então alguns dos fariseus: Aquele homem não é de Deus, desde que não observa o sábado. Outros porém, diziam: Como poderá um homem pecador fazer tais maravilhas? E havia dissensão entre eles. Disseram então, novamente, ao que fora cego: Tu que dizes d’Aquele que te abriu os olhos? Ele respondeu: Que é um Profeta. Só acreditaram no entanto os judeus que ele tivesse sido cego e estivesse vendo, quando chamaram os país do que agora via. E interrogaram-nos, dizendo: Este é o vosso filho, do qual afirmais ter nascido cego? Como é que ele agora vê? Responderam-lhe os pais dele e disseram: Sabemos que é o nosso filho e que nasceu cego. Como vê agora, não o sabemos, nem conhecemos quem lhe abriu os olhos. Interrogai-o vós mesmos; tem idade; que fale por si. Disseram eles assim, porque temiam os judeus, pois estes já haviam combinado que se alguém reconhecesse Jesus como o Messias, fosse expulso da sinagoga. Por isso os pais do que fora cego haviam dito: Já tem idade. Interrogai-o vós mesmos. Eles chamaram pois, uma segunda vez, o homem que nascera cego e lhe disseram: Dá glória a Deus, pois sabemos que aquele homem [Jesus] é um pecador. Disse-lhes ele então: Se é pecador não sei; sei apenas que eu era cego e agora vejo. Disseram-lhe eles: Que te fez Ele? Como abriu os teus olhos? Replicou-lhes: Já vos disse e o ouvistes; por que quereis ouvi-lo de novo? Pretendeis porventura ser também seus discípulos? Amaldiçoaram-no então, dizendo-lhe: Sê seu discípulo: nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que a Moisés, Deus falou; e daquele homem nem sabemos de onde é. Respondeu-lhes o homem e lhes disse: E isto que é singular: vós não sabeis de onde Ele é, e Ele me abriu os olhos. Ora, sabemos que Deus não atende aos pecadores; porém se alguém honra a Deus e faz a sua vontade, este será ouvido. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença, desde que o mundo existe. Se esse homem não viesse de Deus, não poderia fazer coisa semelhante. Responderam eles, dizendo: Tu nasceste cheio de pecados e queres nos ensinar? E expulsaram-no. Ouviu Jesus que o haviam lançado fora e tendo-o encontrado, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus? Respondeu ele, dizendo: Quem é Ele, Senhor, para que n’Ele eu creia? E disse-lhe Jesus: Tu já O viste. O que te fala, Esse é. Ele respondeu: Creio, Senhor. (Todos se ajoelham) E prostrando-se ele O adorou.

Homilias
 
Santo Agostinho - Sermão 136 - A cura do cego de nascença revela o mistério da luz divina que ilumina as trevas da alma humana. O homem, cego desde o nascimento, simboliza toda a humanidade, mergulhada na escuridão do pecado original, incapaz de ver a verdade por seus próprios meios. A saliva de Cristo, misturada ao pó da terra, aponta para a Encarnação, onde o Verbo se fez carne para restaurar a criação decaída. O tanque de Siloé, cujo nome significa "Enviado", é figura do batismo, pelo qual o homem é purificado e recebe a visão espiritual. Os fariseus, que rejeitam o milagre, representam aqueles que, confiando em sua própria justiça, permanecem cegos à graça de Deus, enquanto o cego, humilde e obediente, progride da ignorância à fé plena, adorando o Filho do Homem. Este milagre ensina que a verdadeira visão não é dos olhos do corpo, mas da alma, que só se abre à luz de Cristo pela fé e pela submissão à sua vontade. A expulsão da sinagoga mostra que o caminho da verdade muitas vezes leva ao desprezo do mundo, mas é recompensado pelo encontro com o Salvador.
 
São Tomás de Aquino - Suma Teológica, Suplemento, Q. 77, Art. 1 (interpretação teológica aplicada) - A cura do cego de nascença manifesta a ordenação divina das coisas para a glória de Deus e a salvação do homem. A cegueira desde o nascimento não é punição por pecado pessoal ou ancestral, mas um meio pelo qual a potência divina se revela, mostrando que Deus pode tirar o bem até mesmo dos males naturais. A ação de Cristo, que usa a matéria (saliva e terra) para operar o milagre, demonstra que os sacramentos, instituídos por Ele, operam pela virtude divina através de sinais sensíveis, elevando o homem do estado natural ao sobrenatural. A luz que Cristo afirma ser não é apenas física, mas a luz da graça que ilumina o intelecto para conhecer a verdade eterna. Os fariseus, ao rejeitarem o testemunho do milagre, pecam contra a luz, pois sua cegueira espiritual nasce da soberba, que os impede de reconhecer a origem divina da obra. O progresso do cego, de uma fé implícita ("é profeta") a uma fé explícita ("creio, Senhor"), exemplifica como a graça age no homem, levando-o gradualmente à beatitude pela contemplação do Filho de Deus. Assim, este evento é um espelho da redenção, onde o homem, cego pelo pecado, é restaurado pela misericórdia divina.

Santo Ambrósio - O cego de nascença é imagem da alma humana, obscurecida pela ignorância e pelo erro, que necessita da mão de Cristo para ser libertada. A cura não é apenas um prodígio do corpo, mas uma revelação da divindade de Cristo, que, como luz do mundo, dissipa as trevas do coração. O uso do lodo e da água de Siloé simboliza a humildade da Encarnação, pois o Filho de Deus se rebaixa à condição humana para elevar o homem à visão celestial. Os fariseus, com sua incredulidade, mostram que a verdadeira cegueira é a da mente que rejeita a verdade manifesta, enquanto o cego, ao lavar-se, representa a purificação da alma pelo arrependimento e pela fé. Sua expulsão pelos homens e acolhida por Cristo ensinam que a salvação vem pela cruz, e que os que sofrem por amor à verdade encontram a verdadeira comunhão com Deus. Este milagre é um convite a todos para que, deixando as trevas do orgulho, busquem a luz da humildade e da obediência, que conduz à visão da glória divina.