QUARTA-FEIRA DA SEMANA DA PAIXÃO


Féria de 3ª Classe
PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 17, 48-49 | ib., 2-3)

Liberátor meus de géntibus iracúndis... Vós sois quem me salva da fúria dos pagãos. Vós me elevareis muito acima de meus adversários; livrar-me-eis, ó Senhor, do homem perverso. Sl. Eu Vos amo, Senhor, que sois a minha força. O Senhor é a minha rocha, e o meu libertador. — Vós sois…

Epístola (Lv 19, 1-2, 11-19 e 25)

Leitura do livro do Levítico. Naqueles dias, disse o Senhor a Moisés: Fala a toda a multidão dos filhos de Israel e dize-lhes: Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não fareis furtos. Não deveis mentir; ninguém engane a seu próximo. Não jurareis falso em meu Nome, nem profanareis o Nome de vosso Deus. Eu sou o Senhor. Não caluniareis o vosso próximo e não o oprimíreis pela violência. O salário do mercenário que vos dá o seu trabalho, não fique em vossa casa até pela manhã. Não amaldiçoareis o surdo, nem poreis diante do cego coisa que lhe possa fazer mal; mas deveis temer ao Senhor, vosso Deus, porque eu sou o Senhor. Nada fareis contra a justiça e não julgueis iniquamente. Não tenhais contemplação com a pessoa do pobre [ofendendo a justiça] nem bajuleis a pessoa do homem poderoso. Julgai o vosso próximo com justiça. Não sejais caluniador público, entre o povo, nem maldizente. Não urdireis tramas contra o sangue de vosso próximo. Eu sou o Senhor. Não odiareis o vosso irmão, em vosso coração, porém o repreendereis publicamente, para que não venhais a pecar, por sua causa. Não procureis vingar-vos, nem vos lembreis das injúrias de vossos semelhantes. Amareis o vosso próximo como a vós mesmos. Eu sou o Senhor. Guardai a minha lei. Porque eu sou o Senhor, vosso Deus.

Evangelho (Jo 10, 22-38)

Naquele tempo, celebrava-se a festa da dedicação em Jerusalém, e era inverno. E andava Jesus no templo, no pórtico de Salomão. Os judeus O cercaram, então, perguntando-Lhe: Até quando nos deixas na incerteza? Se és o Cristo, dize-nos claramente. Respondeu-lhes Jesus: Eu vos falo e vós não me credes. As obras que faço em Nome de meu Pai, testemunham de Mim: porém vós não acreditais porque não sois das minhas ovelhas. Minhas ovelhas atendem à minha voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna e jamais perecerão, e ninguém poderá tirá-las de minha mão. O que meu Pai me deu é maior que todas as coisas e ninguém o poderá tirar da mão de meu Pai. Eu e meu Pai somos um só [Deus]. Então os judeus apanharam pedras para O lapidar. Disse-lhes Jesus: Eu vos mostrei muitas obras boas, vindas de meu Pai; por qual delas; vós me quereis lapidar? Responderam-Lhe os judeus: Não é por nenhuma boa obra que Te apedrejamos, mas pela blasfêmia; e porque, sendo homem. Tu Te fazes Deus. Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito em vossa lei: Eu disse: vós sois deuses? Se ela chama deuses àqueles aos quais a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode errar — como dizeis Àquele a quem o Paí santificou e enviou ao mundo: Vós blasfemais, porque eu disse que sou o Filho de Deus? Se não fizer as obras de meu Paí, não deveis crer em Mim. Se as faço, porém, e se não me quereis acreditar, crede ao menos em minhas obras, a fim de que conheçais e acrediteis que o Pai está em Mim e eu no Pai.

Homilias

Santo Agostinho – Sermão 117 (Sermo CXVII, De Verbis Evangelii Ioannis) - A unidade entre o Filho e o Pai é a essência da divindade, não uma mera concordância de vontades, mas uma identidade de substância que transcende a compreensão humana. As ovelhas que ouvem a voz do pastor são aquelas predestinadas à salvação, marcadas pela graça divina que as separa dos que rejeitam a luz. A vida eterna prometida não é apenas uma duração sem fim, mas a participação na própria vida de Deus, uma comunhão inquebrantável que a mão do Pai protege contra todo poder adversário. A acusação de blasfêmia dos judeus surge da cegueira espiritual, pois não reconhecem que a Lei já prenunciava a elevação da humanidade à dignidade divina por meio da Palavra encarnada. As obras realizadas pelo Filho são o testemunho visível da divindade, um convite à fé que supera a incredulidade obstinada, mostrando que a união com o Pai é a fonte de toda autoridade e poder. Quem crê nas obras, mesmo sem compreender plenamente a pessoa, é levado gradualmente à verdade plena da filiação divina.

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Pars III, Q. 2, Art. 10 (Da união do Verbo Encarnado) - A declaração "Eu e o Pai somos um" revela a unidade de essência entre o Filho e o Pai, distinta da unidade de amor ou vontade, pois na Trindade há uma só natureza divina, embora com distinções pessoais. As ovelhas pertencem ao Filho por eleição divina, e sua segurança eternal repousa na onipotência do Pai, que as entregou ao Filho, demonstrando que a obra da salvação é um ato conjunto das Pessoas divinas. A resposta aos judeus sobre serem chamados "deuses" na Lei aponta para a participação da criatura racional na razão divina, mas o Filho é Deus por natureza, não por participação, sendo consagrado e enviado como o Verbo Encarnado para manifestar a glória do Pai. As obras realizadas são sinais da divindade, pois procedem da mesma potência divina que o Pai possui, e sua rejeição pelos incrédulos reflete a limitação da inteligência humana obscurecida pelo pecado. A unidade do Filho com o Pai é o fundamento da redenção, pois só o que é divino por essência pode elevar a humanidade à vida eterna.

São João Crisóstomo – Homilia 59 sobre o Evangelho de João (Homiliae in Ioannem, 59) - A Festa da Dedicação simboliza a renovação do templo espiritual, que é a alma dos fiéis, e Cristo, ao caminhar no pórtico, ensina que sua presença santifica todo lugar. Os judeus exigem uma resposta clara, mas sua incredulidade os impede de ver a verdade manifesta nas obras, que são mais eloquentes que palavras. As ovelhas seguem o pastor porque foram escolhidas desde a eternidade, e sua perseverança é garantida pela proteção divina, que nenhum poder humano ou demoníaco pode vencer. A unidade do Filho com o Pai é o mistério supremo, não apenas de concordância, mas de uma única divindade que opera a salvação do mundo. A citação da Lei sobre "deuses" mostra que a Escritura prepara o entendimento para a revelação do Filho, que supera toda dignidade criada ao assumir a carne para redimir. As obras são o selo da missão divina, e crer nelas é o caminho para a fé na pessoa do Salvador, que conduz à visão beatífica.