SÁBADO DA SEMANA DA PAIXÃO


Féria de 3ª Classe  
Outrora não havia Missa neste dia, que era como uma vigília do Domingo de Ramos. Por isso seus Cânticos são os do dia anterior. Também nas Leituras vemos novamente Jeremias, imagem do Cristo perseguido. Os judeus O odeiam. Os pagãos (catecúmenos) O procuram e a estes fala Jesus de sua morte. Se o grão de trigo (Cristo) morrer, ele dará muitos frutos, que somos todos nós, remidos por seu Sangue preciosíssimo.

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 30, 10, 16 e 18 | ib., 2)

Miserére mihi, Dómine, quóniam tríbulor... Tende piedade de mim, Senhor, porque estou oprimido; livrai-me e arrancai-me das mãos de meus inimigos e dos que me perseguem. Senhor, não serei confundido, porque Vos invoquei. Sl. Em Vós, Senhor, espero; não serei confundido para sempre; livrai-me por vossa justiça — Tende piedade de mim…

Epístola (Jr 18, 18-23)

Leitura do Profeta Jeremias.Naqueles dias, disseram entre si os ímpios judeus: Vinde e conspiremos contra o Justo [Jeremias-Cristo], porque a lei não faltará ao sacerdote, nem a palavra ao profeta. Vinde e persigamo-lo com a língua e não demos importância às suas prédicas. Atendei-me, Senhor, [assim pede Jeremias] e ouvi a voz de meus adversários. Porventura, paga-se o bem com o mal, desde que cavam uma cova para minha alma? Lembrai-Vos que estou diante de Vós, para Vos falar em seu favor e para desviar deles o vosso furor. Por isso, entregai à fome os seus filhos, e fazei-os passar pelo fio da espada. Percam as suas mulheres os filhos e tornem-se viúvas,- e sejam os seus maridos entregues à morte. Seus adolescentes sejam atravessados na-luta pelo gládio. Sejam ouvidos os lamentos saídos de suas casas, pois fareis cair sobre eles, repentinamente, o salteador. Porque eles cavaram uma fossa para me apanhar e prepararam armadilhas disfarçadas para os meus pés. Vós, porém, Senhor, conheceis todos os seus planos de morte contra mim; não lhes perdoeis a sua iniquidade e o seu pecado não seja apagado diante de Vós. Caíam eles em vossa presença: no tempo de vossa ira, castigai-os severamente, ó Senhor, Deus nosso.

Evangelho (Jo 12, 10-36)

Naquele tempo, os príncipes dos sacerdotes decidiram matar também a Lázaro, porque, por sua causa, afastavam-se deles os judeus e acreditavam em Jesus. No dia seguinte, uma grande multidão, que viera para a festa, tendo sabido que Jesus vinha a Jerusalém, tomou ramos de palmeiras, e foi ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito O que vem em Nome do Senhor, o Rei de Israel. E Jesus encontrando um jumentinho, nele montou, como está escrito: Não temas, filha de Sião, eis o teu Rei que vem montado em um jumentinho. A princípio, os seus discípulos não compreenderam estas coisas, mas depois que Jesus foi glorificado, recordaram-se que elas haviam sido escritas a seu respeito e eles haviam concorrido para a sua execução. Dava-lhes pois testemunho a multidão que estava junto d’Ele quando chamara a Lázaro do sepulcro e o ressuscitara dentre os mortos. Por isso a multidão saiu ao encontro de Jesus: porque eles tinham sabido que Ele fizera tal milagre. Os fariseus disseram pois entre si: Vedes que não conseguimos nada? Eis que todo mundo vai atrás d’ Ele. Ora, havia ali alguns gentios, entre os que haviam subido para adorar no dia da festa. Eles se aproximaram de Filipe que era de Betsaida, na Galileia, fazendo-lhe este pedido: Senhor, nós queremos ver a Jesus. Veio Filipe e o disse a André; André e Filipe o transmitiram a Jesus. E Jesus lhes respondeu, dizendo: A hora é chegada em que será glorificado o Filho do homem. Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo não cair em terra e não morrer, será infecundo, porém se morrer, dará muito fruto. Aquele que ama a sua vida, perdê-la-á, mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, porque onde eu estiver, o meu servo também se achará. Quem me servir, será honrado por meu Pai. Minha alma está agora perturbada. E que direi? Pai, livra-me dessa hora. Foi, porém, para isso que cheguei a essa hora. Pai, glorifica o teu Nome. Então se fez ouvir uma voz do céu: Eu o glorifiquei e O glorificarei ainda. A multidão que estava presente e que a ouvira, dizia que fora o trovão. Outros replicavam: Foi um Anjo que Lhe falou. Respondeu Jesus e disse: Não foi para Mim que esta voz veio, mas para vós. Agora é o julgamento do mundo; agora é que o príncipe deste mundo vai ser lançado fora dele. E Eu, quando for elevado da terra,, tudo atrairei a mim. (Isto dizia Ele para indicar de que morte devia morrer.) Respondeu-Lhe o povo: Nós sabemos pela lei que o Cristo permanecerá eternamente. Como então dizeis: É preciso que o Filho do homem seja elevado? Quem é esse Filho do homem? Disse-lhes Jesus: Ainda por um pouco de tempo estará a Luz [Cristo] entre vós. Caminhai, enquanto tendes luz, para que as trevas não vos surpreendam; quem anda em trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, a fim de que sejais filhos da luz, crede na luz, a fim de que sejais filhos da luz. Jesus disse estas coisas e depois, afastando-se, escondeu-se deles.

Homilias e explicações teológicas

A luz divina, que ilumina todo homem, não é apenas um dom natural, mas uma graça sobrenatural que eleva a alma à contemplação da verdade eterna, exigindo, no entanto, a cooperação humana para não ser obscurecida pela incredulidade (Santo Agostinho, In Ioannis Evangelium Tractatus, 54.2). A glorificação de Cristo na cruz revela o paradoxo da vitória através da humilhação, pois é pela sua entrega total que a humanidade é redimida, mostrando que o verdadeiro poder divino se manifesta na fraqueza aparente (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 2.1). A multidão, cega pela expectativa de um Messias terreno, não compreende a necessidade do sofrimento redentor, pois a verdadeira visão espiritual só é alcançada quando o coração se abre à fé, superando as limitações da razão carnal (São João Crisóstomo, Homiliae in Ioannem, 67.1). A semente que morre para dar fruto simboliza a vida cristã, que deve renunciar ao amor próprio para encontrar plenitude em Deus, um chamado à imitação da cruz que transforma a morte em vida eterna (Santo Ambrósio, De Mysteriis, 7.34). A exaltação de Cristo atrai todos os homens, não por coerção, mas pelo amor, pois a cruz é o trono onde o Rei da glória reina, unindo judeus e gentios em uma única Igreja (São Beda, o Venerável, Homiliae in Evangelia, 2.15). A incredulidade persistente, mesmo diante de sinais, decorre da dureza do coração, que rejeita a luz por preferir as trevas do pecado, um mistério da liberdade humana que Deus permite sem violar (Santo Hilário de Poitiers, De Trinitate, 10.45).

Síntese comparativa com os Evangelhos Sinóticos

João 11,47-54 descreve a reunião do Sinédrio após a ressurreição de Lázaro, onde Caifás profetiza que Jesus morrerá pela nação, revelando um plano explícito para sua morte. Os sinóticos não narram essa reunião específica, mas complementam com detalhes que ampliam o contexto da oposição a Jesus. Em Mateus 26,3-5, os líderes religiosos conspiram no palácio de Caifás para prender Jesus secretamente, evitando tumultos durante a Páscoa, destacando a cautela estratégica não mencionada em João. Marcos 14,1-2 reforça essa intenção de agir furtivamente, enfatizando o temor de uma revolta popular, um aspecto apenas implícito em João. Lucas 22,2 adiciona que os principais sacerdotes e escribas buscavam uma oportunidade para eliminar Jesus, mas não explicitam o local ou a profecia de Caifás, sugerindo uma trama mais difusa. Além disso, Lucas 19,47-48 mostra Jesus ensinando diariamente no Templo, com os líderes procurando destruí-lo, mas impedidos pela popularidade dele, um detalhe que explica a hesitação não detalhada em João. Assim, os sinóticos enriquecem a narrativa com a ênfase na discrição da conspiração e na influência de Jesus sobre o povo, aspectos que complementam a decisão formal do Sinédrio em João.

Síntese comparativa com textos de São Paulo

João 11,47-54 descreve a decisão do Sinédrio de matar Jesus, com Caifás declarando que sua morte seria pelo povo, prenunciando seu sacrifício. São Paulo oferece complementos teológicos que ampliam essa narrativa. Em Romanos 5,6-8, Paulo explica que Cristo morreu pelos ímpios, destacando a gratuidade do sacrifício, um aspecto universal não enfatizado em João, que foca na nação judaica. Em 1 Coríntios 2,7-8, Paulo afirma que os “príncipes deste mundo” crucificaram Jesus por ignorância da sabedoria divina, sugerindo que a decisão do Sinédrio reflete uma cegueira espiritual mais profunda, não abordada diretamente em João. Em Gálatas 3,13-14, Paulo interpreta a morte de Jesus como redenção da maldição da Lei, conectando-a à promessa a Abraão, uma dimensão salvífica mais ampla que o contexto imediato da profecia de Caifás. Finalmente, em Filipenses 2,8-11, a obediência de Cristo até a cruz é exaltada como o caminho para sua glorificação, oferecendo uma perspectiva escatológica sobre o sacrifício que complementa a narrativa joanina sem repeti-la.