Nos autem gloriári oportet in Cruce Dómini nostri Jesu Christi... Quanto a nós, devemos gloriar-nos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele está nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres. Sl. Deus tenha piedade de nós e nos abençoe, faça resplandecer sobre nós a sua Face e se compadeça de nós. — Quanto a nós…
Epístola (Jr 11, 18-20)
Epístola (Jr 11, 18-20)
Leitura do Profeta Jeremias.Naqueles dias, assim disse Jeremias: Ó Senhor, Vós me fizestes conhecer e eu o compreendi; e então Vós me revelastes os seus planos. Eu era como manso cordeiro que é conduzido ao matadouro; e não sabia que projetos haviam formado sobre mim, dizendo: Ponhamos madeira [veneno] em seu pão e O eliminemos da terra dos vivos, para que não mais se lembrem do seu Nome. Vós, porém, ó Deus dos exércitos, julgais com sabedoria e perscrutais os rins e os corações; fazei-me ver a vossa vingança sobre eles porque Vos confiei a minha causa, ó Senhor, Deus meu.
Paixão (Mc 14, 32-72 e 15, 1-46)
Paixão (Mc 14, 32-72 e 15, 1-46)
Naquele tempo: Jesus e seus discípulos foram para um horto, cujo nome era Getsémani. E Jesus disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto faço oração. E tomou consigo a Pedro, Tiago e João; e começou a ter medo e a afligir-se. E disse-lhes: Triste até à morte está minha alma; ficai aqui e vigiai. Tendo dado alguns passos, caiu em terra. E orava para que, se possível, fosse afastada de Si aquela hora. E disse: Abba, Pai, tudo Te é possível; aparta de mim este cálice; não se faça porém como eu quero, e sim como Tu queres. E veio a seus discípulos, achando-os a dormir. E disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste velar uma hora comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito realmente está pronto, mas a carne é fraca. E afastando-se novamente, orou, repetindo as mesmas palavras. Voltando, encontrou-os ainda a dormir (porque os seus olhos estavam pesados de sono) e eles ão sabiam o que Lhe responder. E Ele voltou pela terceira vez e lhes disse: Dormi agora, e repousai. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; o que me vai trair próximo já está. E falava Ele ainda, quando chegou Judas Iscariotes, um dos doze, e com ele uma grande multidão com espadas e paus, mandada pelos príncipes dos sacerdotes, escribas e anciãos. Dera-lhes o que O traía, um sinal dizendo: Aquele a quem eu beijar, Esse é; segurai-O e levai-O com cuidado. Tendo chegado; aproximou-se logo d’Ele, e disse-Lhe: Salve, Mestre. E beijou-O. Então eles puseram a mão em Jesus e O agarraram. Um dos que estavam presentes [Pedro], tirando a sua espada, feriu o servo do sumo sacerdote e lhe cortou a orelha. E Jesus, tomando a palavra, lhes disse: Viestes como se fora contra um ladrão, armados com espadas e paus para me prender? Todos os dias estava eu no meio de vós, ensinando no templo e não me prendestes. Mas devem ser cumpridas as Escrituras. Então os seus discípulos O abandonaram, fugindo todos. Um jovem, que O seguia coberto com um lençol, foi por eles agarrado. Ele porém, abandonou o lençol, e fugiu, nu, de suas mãos. E conduziram Jesus ao sumo sacerdote; e ali estavam reunidos todos os sacerdotes, escribas e anciãos. Pedro, no entanto, O seguiu de longe, até dentro do pátio do sumo sacerdote; e sentou-se com os servos, junto ao fogo, para se aquecer. Os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho, entretanto, procuravam um testemunho contra Jesus, para O condenar à morte, mas não o encontravam. Porque muitos apresentavam falsos testemunhos contra Ele, mas não estavam de acordo. Alguns, afinal, levantando-se, apresentaram um falso testemunho contra Ele, dizendo: Nós O ouvimos dizer: Eu destruirei este templo, feito pela mão do homem e em três dias eu construirei um outro, não feito por mão de homem. Seus depoimentos, porém, não concordavam. Levantou-se então o sumo sacerdote no meio da assembléia e interrogou a Jesus, dizendo: Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra Ti? Mas Jesus se calava e nada respondeu. Novamente o sumo sacerdote O interrogou, e Lhe disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus, o Bendito ? Jesus lhe respondeu: Eu o sou. E vereis o Filho do homem, assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu. Então o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: Que testemunhas precisaremos ainda? Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos condenaram a Jesus, como sendo réu de morte. Então começaram a cuspir sobre Ele, velando-Lhe o rosto, dando-Lhe punhadas, e dizendo-Lhe: Adivinha. E os servos Lhe davam bofetadas. Enquanto Pedro estava no pátio, em baixo, apareceu uma das criadas do sumo sacerdote, e vendo Pedro a aquecer-se, o encarou e disse: Também tu estavas com Jesus Nazareno. Ele porém negou, dizendo: Não sei, nem compreendo o que dizes. E indo para fora do pátio, o galo cantou. Vendo-o novamente, a criada pôs-se a dizer aos presentes: Este é um deles. E Pedro de novo negou. Pouco depois, alguns dos que ali estavam diziam a Pedro: Certamente és um deles,: porque és também galileu. Ele porém começou a praguejar e a jurar: Não conheço este homem de quem falais. E neste momento o galo cantou segunda vez. Lembrou-se então Pedro da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante segunda vez, três vezes tu me negarás. E começou a chorar. Logo ao amanhecer, fazendo uma reunião, deliberaram os príncipes dos sacerdotes, os anciãos, os escribas e todo o conselho; e amarrando a Jesus, O levaram e O entregaram a Pilatos. E interrogou-O Pilatos: Tu és o Rei dos judeus? E ele, em resposta, lhe disse: Sim, eu o sou. Os príncipes dos sacerdotes O acusavam de muitas coisas. Pilatos O interrogou novamente, dizendo: Não respondes coisa alguma? Ouve de quanto Te acusam! Jesus porém, nada mais respondeu, o que encheu de admiração a Pilatos. Ora, no dia da festa, era costume soltar-lhes um dos presos, qualquer que fosse pedido por eles. Havia então um, chamado Barrabás, que fora preso com revoltosos, porque num motim, fizera um homicídio. Tendo subido, a multidão começou a rogar-lhe que lhes concedesse o que era de costume. Pilatos lhes respondeu e disse: Quereis que vos solte o Rei dos judeus? Porque ele sabia que fora por inveja que os príncipes dos sacerdotes O haviam entregado. Os pontífices, porém, aconselharam à turba, a que, de preferência, fizesse soltar a Barrabás. Pilatos, tomando novamente a palavra, lhes disse: Que quereis que eu faça ao Rei dos judeus? E eles gritavam com mais força ainda: Crucifica-O. Pilatos, porém, lhes dizia: Que mal entretanto fez Ele? E ainda mais vociferavam: Crucifica-O. Pilatos, querendo satisfazer ao povo, entregou-lhes Barrabás e após ter feito flagelar a Jesus, O entregou para ser crucificado. Então os soldados O conduziram ao pátio do pretório, e reunida toda a corte, O revestiram com a púrpura, pondo em sua cabeça uma corôa que haviam tecido com espinhos. E em seguida O saudavam: Salve, Rei dos judeus. Batiam-Lhe então na cabeça com uma cana e cuspiam sobre Ele; e dobrando os joelhos, eles O adoravam. Após terem assim zombado d’Ele, O despojaram da púrpura e Lhe puseram as suas vestes. E depois O levaram para O crucificar. Arranjaram então um certo homem que passava, vindo do campo, Simão, de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, para levar a cruz de Jesus. E O conduziram ao lugar chamado Gólgota, que significa lugar do Calvário. E davam-Lhe a beber vinho com mirra. Ele porém, não o tomou. Após O terem crucificado, eles partilharam as suas vestes, fazendo sortes sobre elas para ver o que caberia a cada um. Era a hora terceira, quando O crucificaram. E a inscrição sobre a causa de sua morte era: Rei
dos judeus. Com Ele foram crucificados dois ladrões: um à sua direita e outro à sua esquerda. Assim foi cumprida a Escritura, que diz: Ele foi enumerado entre os criminosos. Os que passavam, blasfemavam contra Ele, meneando a cabeça e dizendo: Tu, que quiseste destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias, salva-Te a Ti mesmo, e desce da Cruz. Do mesmo modo, os príncipes dos sacerdotes zombando d’Ele, diziam entre si, como os escribas: A outros Ele salvou, e não pode salvar a Si mesmo. O Cristo, Rei de Israel, desça agora da Cruz para que vejamos e acreditemos. E os que haviam sido crucificados com Ele também O insultavam. Tendo chegado a hora sexta, as trevas estenderam-se sobre toda a terra até a hora da noa. E à nona hora, Jesus exclamou em voz alta: Eloi, Eloi, lamma sabacthani? Isto é traduzido: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? Alguns dos presentes, ouvindo-O, diziam: Eis que chama por Elias. E um deles correu e ensopou uma esponja em vinagre; e pondo-a em uma cana, dava-Lhe a beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem para O libertar. Jesus, porém, lançando um grande grito, expirou (Aqui se ajoelha e se faz uma pausa) E o véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. Vendo porém, o centurião, que estava defronte, que Jesus expirara, dando esse grito, disse: Verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus. Estavam também ali Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e José, e Salomé, que O haviam acompanhado e O serviam desde que Ele estivera na Galileia. E havia muitas outras ainda que tinham subido com Ele a Jerusalém. Tendo caído a tarde, (era dia de Parasceve, que é o dia da preparação para o sábado) veio José de Arimateia, nobre conselheiro, que esperava também o Reino de Deus. Ele foi corajosamente a Pilatos, pedindo-lhe o Corpo de Jesus. Pilatos admirou-se de que já tivesse morrido. E chamando o centurião, perguntou-lhe se Jesus já estava morto. E quando disto foi certificado pelo centurião, deu o Corpo a José. Tendo José adquirido um lençol, desceu o Corpo da Cruz, envolveu-O no lençol e depositou-O no sepulcro que havia cavado na rocha: depois rolou uma pedra até a entrada da sepultura.
Homilias e Explicações Teológicas
dos judeus. Com Ele foram crucificados dois ladrões: um à sua direita e outro à sua esquerda. Assim foi cumprida a Escritura, que diz: Ele foi enumerado entre os criminosos. Os que passavam, blasfemavam contra Ele, meneando a cabeça e dizendo: Tu, que quiseste destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias, salva-Te a Ti mesmo, e desce da Cruz. Do mesmo modo, os príncipes dos sacerdotes zombando d’Ele, diziam entre si, como os escribas: A outros Ele salvou, e não pode salvar a Si mesmo. O Cristo, Rei de Israel, desça agora da Cruz para que vejamos e acreditemos. E os que haviam sido crucificados com Ele também O insultavam. Tendo chegado a hora sexta, as trevas estenderam-se sobre toda a terra até a hora da noa. E à nona hora, Jesus exclamou em voz alta: Eloi, Eloi, lamma sabacthani? Isto é traduzido: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? Alguns dos presentes, ouvindo-O, diziam: Eis que chama por Elias. E um deles correu e ensopou uma esponja em vinagre; e pondo-a em uma cana, dava-Lhe a beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem para O libertar. Jesus, porém, lançando um grande grito, expirou (Aqui se ajoelha e se faz uma pausa) E o véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. Vendo porém, o centurião, que estava defronte, que Jesus expirara, dando esse grito, disse: Verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus. Estavam também ali Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e José, e Salomé, que O haviam acompanhado e O serviam desde que Ele estivera na Galileia. E havia muitas outras ainda que tinham subido com Ele a Jerusalém. Tendo caído a tarde, (era dia de Parasceve, que é o dia da preparação para o sábado) veio José de Arimateia, nobre conselheiro, que esperava também o Reino de Deus. Ele foi corajosamente a Pilatos, pedindo-lhe o Corpo de Jesus. Pilatos admirou-se de que já tivesse morrido. E chamando o centurião, perguntou-lhe se Jesus já estava morto. E quando disto foi certificado pelo centurião, deu o Corpo a José. Tendo José adquirido um lençol, desceu o Corpo da Cruz, envolveu-O no lençol e depositou-O no sepulcro que havia cavado na rocha: depois rolou uma pedra até a entrada da sepultura.
Homilias e Explicações Teológicas
A traição sofrida por Jeremias prefigura a de Cristo, pois o justo, ao se entregar à vontade divina, enfrenta a inimizade dos homens, mas é sustentado pela certeza da justiça de Deus, que julga os corações e retribui conforme as obras (Santo Agostinho, Sermo 306). A agonia de Jesus no Getsêmani revela a profundidade de sua humanidade, onde ele assume a fraqueza da carne para ensinar que a obediência ao Pai supera todo temor, transformando a dor em redenção (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia 1.1). A negação de Pedro demonstra a fragilidade da confiança humana, mas também a misericórdia divina que restaura o pecador arrependido, mostrando que a graça supera a falha (Santo Ambrósio, Expositio Evangelii secundum Lucam 10). No julgamento perante Pilatos, Cristo silencia diante das acusações, ensinando que a verdade não necessita de defesa mundana, pois sua vitória se manifesta na cruz (São Tomás de Aquino, Super Evangelium Matthaei 27). A crucificação, com suas injúrias, manifesta o paradoxo do amor divino, que se humilha para elevar a humanidade, convidando todos à comunhão com o sacrifício redentor (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum 87). Os textos de Jeremias e Marcos destacam a entrega confiante do justo ao sofrimento, culminando na vitória divina sobre a traição e a morte.
Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos
Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos
O Evangelho de Mateus complementa Marcos ao detalhar a traição de Judas com o preço de trinta moedas de prata (Mt 26,14-16), enfatizando o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, como Zacarias 11,12-13, ausente em Marcos. Mateus também inclui o arrependimento de Judas e sua tentativa de devolver o dinheiro (Mt 27,3-5), oferecendo uma perspectiva sobre o remorso humano não mencionada por Marcos. Lucas adiciona a oração de Jesus no Getsêmani com a descrição de seu suor como gotas de sangue (Lc 22,44), intensificando a angústia física e espiritual de Cristo. Lucas também relata Jesus curando a orelha do servo cortada durante sua prisão (Lc 22,50-51), destacando sua compaixão mesmo em meio à traição, detalhe omitido por Marcos. Mateus registra as palavras de Jesus na cruz, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46), que reforçam o peso de seu abandono, enquanto Marcos apenas alude a esse clamor. Lucas, por sua vez, apresenta o diálogo de Jesus com o “bom ladrão” (Lc 23,39-43), prometendo-lhe o paraíso, um elemento de esperança e misericórdia ausente no relato de Marcos.
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
São Paulo, em Romanos 5,6-8, complementa o evangelho de Marcos ao explicar que Cristo morreu pelos ímpios, sublinhando o caráter universal e gratuito de sua redenção, um aspecto implícito, mas não desenvolvido, no relato da Paixão. Em Filipenses 2,6-8, Paulo descreve a kénosis de Cristo, que se humilhou até a morte de cruz, oferecendo uma reflexão teológica sobre a obediência de Jesus no Getsêmani e no julgamento, aprofundando o sentido de sua submissão. Em 1 Coríntios 1,18-25, Paulo chama a cruz de “loucura para os gentios” e “poder de Deus”, contrastando com a humilhação descrita por Marcos e destacando seu significado salvífico para os crentes. Em Gálatas 3,13, Paulo interpreta a crucificação como Cristo se tornando “maldição por nós”, conectando o sacrifício à redenção da lei, um tema não abordado diretamente no relato de Marcos. Finalmente, em Colossenses 1,20, Paulo afirma que Cristo reconciliou todas as coisas pelo sangue da cruz, expandindo a visão de Marcos ao sugerir que a Paixão restaura a ordem cósmica.