Júdica, Dómine, nocéntes me, expúgna impugnántes me... Julgai, Senhor, aos que me fazem mal; vencei aqueles que me combatem! Tomai as armas e o escudo, e erguei-Vos em meu auxílio, Senhor, minha força e minha salvação. Sl. Tirai a espada e cortai a passagem aos que me perseguem. Dizei à minha alma: Eu sou a tua salvação — Julgai-me, Senhor…
Epístola (Is 50, 5-10)
Epístola (Is 50, 5-10)
Leitura do Profeta Isaías.Naqueles dias, assim falou Isaías [Cristo]: O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não O contradigo: não retrocedi. Abandonei meu corpo àqueles que me batiam e a minha face aos que me arrancavam a barba, e não desviei o meu rosto dos que me cobriam de insultos e cusparadas. O Senhor Deus é o meu defensor; eis porque não serei confundido; por isso tornei o meu rosto qual pedra duríssima e sei que não serei envergonhado. junto a mim está quem me justifica; quem há de me contradizer? Compareçamos juntos; quem é meu adversário ? Chegue-se ele a mim. O Senhor Deus é meu auxílio; quem me poderá condenar ? Eis que todos [os meus inimigos] se gastarão como vestes; serão roídos pela traça. Quem, dentre Vós, teme o Senhor e ouve a voz de seu servo ? O que anda nas trevas e não tem luz confie no Nome do Senhor e se apoie em seu Deus.
Evangelho (Jo 12, 1-9)
Evangelho (Jo 12, 1-9)
Seis dias antes da Páscoa, veio Jesus a Betânia, onde morrera Lázaro, a quem Jesus ressuscitara. Ofereceram-Lhe ali uma ceia. Marta servia e Lázaro fazia parte dos que comiam à mesa com Ele. Maria tomou então uma libra de bálsamo verdadeiro, de nardo, de grande valor, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-os com os seus cabelos, ficando toda a casa perfumada pelo bálsamo. Disse então um dos discípulos de Jesus, Judas Iscariotes, o que O havia de trair: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos dinheiros, para se dar [o dinheiro] aos pobres? Disse ele isto, não porque tivesse pena dos pobres, mas porque era ladrão, e tendo a bolsa, tirava para si o que se lançava na mesma. Mas Jesus lhe disse: Deixai-a, para que ela o faça para o dia de minha sepultura. Pobres sempre os tereis entre vós, porém a Mim nem sempre tereis. Muitos judeus souberam que Jesus ali estava e vieram não somente por causa d’Ele, como ainda para ver a Lázaro a quem Ele havia ressuscitado dentre os mortos.
Homilias e Explicações Teológicas
Homilias e Explicações Teológicas
A obediência do Servo Sofredor, que não recua diante da missão divina, revela a profundidade da confiança em Deus, que guia os humildes mesmo nas trevas da dúvida, mostrando que a verdadeira força reside na entrega à vontade divina, pois o Senhor é a luz que dissipa toda escuridão (Santo Agostinho, Sermões sobre Isaías, 50). A unção de Maria em Betânia manifesta o excesso do amor humano que, ao derramar o perfume precioso, prefigura o sacrifício de Cristo, indicando que o coração generoso, movido pela caridade, participa do mistério redentor, enquanto o cálculo mesquinho de Judas representa a resistência à graça (São Gregório Magno, Homilia sobre João 12). A humildade do Servo, que aceita o sofrimento sem revolta, ensina que a verdadeira justiça não busca glória terrena, mas a glorificação que vem de Deus, unindo-se à entrega de Maria, que, ao ungir Jesus, reconhece intuitivamente a realeza sacrificial do Messias (São Bernardo de Claraval, Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, 75). A luz divina prometida ao Servo é a mesma que ilumina o gesto de Maria, pois ambos, em sua radicalidade, apontam para a vitória pascal, onde o amor e a obediência superam a traição e a morte (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre Isaías, cap. 50). Os textos de Isaías 50,5-10 e João 12,1-9 convergem na obediência e no amor sacrificial, que prefiguram a paixão de Cristo, unindo a confiança do Servo à entrega de Maria.
Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos
Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos
O evangelho de João 12,1-9, que narra a unção de Jesus por Maria em Betânia, apresenta diferenças e complementos nos sinóticos. Em Mateus 26,6-13 e Marcos 14,3-9, a mulher não é identificada como Maria, mas como uma figura anônima, e a unção ocorre na casa de Simão, o leproso, destacando o contraste entre o gesto generoso e a crítica dos discípulos, sem mencionar Judas explicitamente como em João. Mateus e Marcos enfatizam que o perfume é derramado sobre a cabeça de Jesus, sugerindo uma unção régia, enquanto João foca nos pés, simbolizando humildade e serviço. Lucas 7,36-50 apresenta uma narrativa distinta, onde uma mulher pecadora unge os pés de Jesus na casa de um fariseu, com ênfase no perdão dos pecados, não na preparação para a sepultura, como em João. Lucas adiciona o detalhe de Jesus contrastando a hospitalidade ausente do anfitrião com a generosidade da mulher, um aspecto ausente em João.
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
O evangelho de João 12,1-9, com o gesto de Maria ungindo Jesus, encontra complementos nas epístolas paulinas. Em 2 Coríntios 2,14-16, Paulo descreve os cristãos como o “bom perfume de Cristo”, que se espalha para a salvação ou perdição, ecoando o perfume de Maria como sinal do sacrifício redentor, mas ampliando sua significação para a missão evangelizadora, ausente em João. Em Filipenses 2,5-11, a humildade de Cristo, que se esvazia até a morte, ressoa com a unção de Maria, mas Paulo explicita a exaltação posterior de Jesus, um aspecto implícito em João. Em Romanos 12,1, Paulo exorta os cristãos a oferecerem seus corpos como sacrifício vivo, complementando o gesto de Maria com a ideia de que a entrega pessoal é uma resposta universal à graça, enquanto João foca no ato singular de Maria como prefiguração da paixão.