28 nov
Féria - S. Catarina Labouré, virgem


🕊️Santa Catarina Labouré, nascida Zoe Labouré na França em 1806, foi uma humilde Filha da Caridade de São Vicente de Paulo que, no silêncio do claustro, tornou-se a confidente da Santíssima Virgem Maria nas famosas aparições da Rue du Bac, em Paris, no ano de 1830. Escolhida pela Providência não por sua erudição, mas por sua simplicidade e profunda piedade, Catarina recebeu a missão de cunhar a Medalha Milagrosa, um sacramental que propagou a devoção à Imaculada Conceição e trouxe inúmeras graças ao mundo católico. O traço mais marcante de sua vida espiritual foi a humildade heroica: durante quarenta e seis anos após as aparições, ela manteve segredo absoluto sobre sua identidade como a vidente, servindo os idosos em um asilo com dedicação total, conhecida apenas por seus confessores. Faleceu em 1876, e seu corpo permanece incorrupto até os dias de hoje; foi canonizada pelo Papa Pio XII em 1947, sendo exaltada como a "Santa do Silêncio" e modelo de virgem prudente que soube guardar o óleo da caridade em sua lâmpada até a chegada do Esposo.

📜Epístola (Eclo 51, 1-8 e 12)
Livro da Sabedoria. Glorificar-Vos-ei, ó Senhor, meu Rei, e louvar-Vos-ei, ó Deus, Salvador meu. Celebrarei o vosso Nome porque Vos fizestes meu auxílio e meu protetor e livrastes o meu corpo da perdição, do laço da língua iníqua e dos lábios dos mentirosos. Diante dos meus adversários Vos declarastes o meu defensor. Livrastes-me, segundo a vossa grande misericórdia, dos que rugiam preparados para me devorar; das mãos dos que procuravam tirar-me a vida; do poder das tribulações que me cercavam, da violência da chama que me envolvia, e, no meio do fogo, não senti calor; das profundezas do inferno e da língua impura, da palavra de mentira, de um rei iníquo e da língua injusta. Minha alma louvará o Senhor até a morte, porque Vós livrais dos perigos aqueles que em Vós esperam e os salvais das mãos dos gentios, ó Senhor, nosso Deus.

🕯️Evangelho (Mt 25, 1-13)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: O reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo e da esposa. Cinco, porém, dentre elas, eram loucas e cinco prudentes. Ora, as cinco loucas, tomando as suas lâmpadas, não trouxeram azeite consigo. As prudentes, porém, com as suas lâmpadas, tomaram azeite em suas vasilhas. Tardando o esposo a chegar, todas elas tiveram sono e adormeceram. Quando era meia-noite, ouviu-se um grito: Eis que chega o esposo, saí-lhe ao encontro. Então se levantaram todas essas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Responderam as prudentes: Talvez não seja ele suficiente para nós e para vós; ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós. Mas, enquanto elas foram comprá-lo, veio o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas; e a porta foi fechada. Mais tarde vieram também as outras virgens e chamaram: Senhor, Senhor, abri-nos. Ele lhes respondeu, dizendo: Em verdade vos digo: eu não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.

💭Reflexões

💡A parábola das dez virgens, central na liturgia de hoje, ilumina a essência da santidade de Catarina Labouré: a posse do "azeite" interior que mantém a chama da fé viva. Santo Agostinho, em seus sermões sobre este trecho, identifica as lâmpadas como as boas obras que brilham diante dos homens, mas alerta que o azeite representa a consciência pura e a caridade interior, que buscam agradar somente a Deus e não aos olhares alheios (Santo Agostinho, Sermão 93). As virgens loucas possuíam lâmpadas — a aparência externa da religiosidade —, mas faltava-lhes o óleo da intenção reta e da caridade oculta. Santa Catarina, ao manter o segredo de suas visões celestiais por quase meio século, demonstrou possuir vasos repletos desse azeite precioso. Ela não buscou a glória de ser a "vidente da Medalha", mas preferiu a obscuridade do serviço aos pobres, garantindo que, quando o Esposo chegasse à meia-noite da morte, sua lâmpada estivesse ardendo com o fogo do amor divino, e não com o fumo da vaidade humana.

🛡️A Epístola do Eclesiástico ecoa a gratidão da alma que foi preservada "da língua iníqua e dos lábios dos mentirosos", uma prefiguração da proteção que a Imaculada Conceição oferece aos seus devotos. A missão confiada a Santa Catarina estava intrinsecamente ligada ao dogma da Imaculada Conceição, a vitória total de Maria sobre o pecado e a "língua impura" da serpente antiga. Como ensina o Papa Pio IX na Bula Ineffabilis Deus, a Virgem foi preservada de toda mancha original para ser digna morada de Cristo. Ao propagar a Medalha com a jaculatória "Ó Maria concebida sem pecado", Catarina ofereceu ao mundo um escudo contra as "tribulações que cercavam" e a "violência da chama", conforme lido na Epístola. A vida espiritual, portanto, não é apenas um esforço humano de vigilância, mas uma cooperação confiante com a graça, onde a proteção materna de Maria nos livra dos perigos e nos ajuda a conservar o azeite da graça santificante em nossas almas.

🏰Por fim, a advertência final de Cristo — "Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora" — ressoa como um chamado à constância final. São Tomás de Aquino nos recorda que a perseverança é o dom que coroa todas as virtudes, pois a graça não se destina a ser um fervor passageiro, mas um estado habitual de amizade com Deus (São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 109, a. 10). O "sono" que acometeu todas as virgens pode ser interpretado como a morte física ou a fragilidade humana, mas a diferença crucial estava na preparação prévia. As virgens prudentes entraram para as bodas porque sua preparação não foi improvisada no último instante. A vida de Santa Catarina nos ensina que a verdadeira vigilância não é uma ansiedade febril, mas uma fidelidade diária e silenciosa aos deveres de estado, alimentada pelos sacramentos e pela devoção mariana, assegurando que a porta do Céu se abra para nós, reconhecidos pelo Senhor não por nossos feitos ruidosos, mas pelo amor que cultivamos no segredo do coração.