01 out
S. Remígio, Bispo e Confessor


🕊️São Remígio, conhecido como o "Apóstolo dos Francos", foi o bispo de Reims que desempenhou um papel crucial na conversão da França ao cristianismo. Seu ato mais célebre foi o batismo do rei Clóvis no Natal de 498, um evento que marcou o início da aliança entre a monarquia francesa e a Igreja. Com este ato, ele não apenas converteu um rei, mas iniciou a evangelização de toda a nação, solidificando as bases da civilização cristã na Europa. A ele é atribuída a famosa exortação a Clóvis: "Curva a cabeça, ó sicambro; adora o que queimaste e queima o que adoraste", simbolizando a total conversão do paganismo para a fé em Cristo. Sua festa em 1º de outubro comemora a trasladação de suas relíquias.

📜Introito (Sl 131, 1 | Eclo 45, 30)
Státuit ei Dóminus testaméntum pacis, et príncipem fecit eum... O Senhor fez com ele uma aliança de paz, constituindo-o príncipe, a fim de que tivesse para sempre a dignidade sacerdotal. Sl. Lembrai-Vos, Senhor, de Davi e de toda a sua submissão.

📖Epístola (Eclo 44, 16-27; 45, 3-20)
Eis o grande sacerdote que nos dias de sua vida agradou a Deus e foi considerado justo; no tempo da ira, tornou-se a reconciliação dos homens. Ninguém o igualou na observância das leis do Altíssimo. Por isso o Senhor jurou que o havia de glorificar em sua descendência. Abençoou nele todas as nações e confirmou sua aliança sobre a sua cabeça. Distinguiu-o com as suas bênçãos; conservou-lhe a sua misericórdia e ele achou graça diante do Senhor. Enalteceu-o diante dos reis e deu-lhe uma coroa de glória. Fez com ele uma aliança eterna; deu-lhe o sumo sacerdócio, e encheu-o de felicidade na glória, para exercer o sacerdócio, cantar louvores a seu Nome e oferecer-Lhe dignamente incenso de agradável odor.

✝️Evangelho (Mt 25, 14-23)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: Um homem, indo viajar para longe, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e ao terceiro um, a cada qual segundo a sua capacidade. E partiu logo depois. Aquele que havia recebido os cinco talentos, foi-se e negociou com eles, e lucrou outros cinco. Da mesma sorte, o que recebera os dois talentos ganhou também outros dois. Mas o que havia recebido um só, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor desses servos, e chamou-os a contas. Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo-lhe: Senhor, vós me entregastes cinco talentos; eis outros cinco mais que lucrei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu senhor. Apresentou-se também o que recebera os dois talentos e disse: Senhor, vós me entregastes dois talentos; eis aqui outros dois mais que eu ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu Senhor.

🤔Reflexões

🧠A Epístola descreve o ideal do sacerdote fiel, e o Evangelho ilustra o prêmio dessa fidelidade. São Remígio personifica o "servo bom e fiel" que, recebendo os talentos da graça episcopal e da oportunidade histórica, não os enterrou, mas os multiplicou, trazendo um reino inteiro para Cristo. Os talentos representam os dons de Deus, especialmente a doutrina do Evangelho, que os ministros de Deus devem propagar. "O homem que viaja para longe é Cristo, que, ao subir vitorioso ao Pai após a ressurreição, confiou aos seus Apóstolos a doutrina evangélica" (São Jerônimo, Comentário sobre Mateus). A recompensa "entra na alegria do teu senhor" não é apenas um gozo futuro, mas a participação na própria vida divina, iniciada aqui pela caridade e consumada na glória. "Aquele que dá aos seus servos os bens para negociar promete-lhes, no seu regresso, o reino dos céus e chama-os a isso ‘entrar na sua alegria’" (Santo Agostinho, Sermão 9 sobre as Escrituras). Assim, todo dom divino, por menor que pareça, é um chamado à ação e um meio para a santificação. "Ninguém, pois, diga: ‘Recebi apenas um talento, nada posso fazer com ele’. Pois, mesmo com um só talento, podes agir de modo meritório" (São Gregório Magno, Homilia 9 sobre os Evangelhos).

🔄A parábola dos talentos em Mateus é complementada pela parábola das minas em Lucas (Lc 19, 11-27). Enquanto Mateus distribui talentos diferentes (cinco, dois, um) "a cada qual segundo a sua capacidade", Lucas dá a cada um de seus dez servos a mesma quantia (uma mina), destacando que a recompensa é proporcional ao fruto do trabalho, não ao dom inicial: o servo que lucrou dez minas recebe autoridade sobre dez cidades. Além disso, a versão de Lucas insere um contexto político explícito: um nobre parte para receber a realeza, mas seus cidadãos o odeiam e enviam uma delegação dizendo: "Não queremos que este reine sobre nós", uma clara alusão à rejeição de Cristo por parte de muitos. Isso enriquece a parábola, mostrando que o serviço fiel ocorre em meio à hostilidade e à rejeição do Rei.

✉️O apóstolo São Paulo aprofunda o tema dos "talentos" ao falar dos dons espirituais (carismas) e da responsabilidade ministerial. Em 1 Coríntios 12, ele ensina que os diversos dons — sabedoria, ciência, fé, profecia — são distribuídos pelo mesmo Espírito para o "bem comum" (1 Cor 12, 7), refletindo a ideia de que os talentos não são para proveito próprio, mas para o serviço da Igreja. A fidelidade exigida do servo no Evangelho ecoa a autodefinição de Paulo como "dispenseiro dos mistérios de Deus", de quem se requer que "seja encontrado fiel" (1 Cor 4, 1-2). A "coroa de glória" mencionada na Epístola encontra um paralelo na "coroa da justiça" que Paulo espera receber do "justo Juiz" por ter combatido o bom combate e guardado a fé (2 Tm 4, 7-8), ligando o serviço sacerdotal à recompensa escatológica.

🏛️Os documentos da Igreja reforçam a teologia do sacerdócio e da responsabilidade apresentada na liturgia do dia. O Concílio de Trento, em seu decreto sobre o sacramento da Ordem, descreve a sublime dignidade do sacerdócio, instituído por Cristo para consagrar, oferecer e administrar Seu Corpo e Sangue, e para perdoar os pecados. Essa função sagrada é o "talento" por excelência confiado aos clérigos. O Catecismo Romano, derivado do mesmo Concílio, detalha os deveres dos bispos, como o de ensinar a sã doutrina e governar a porção do rebanho de Cristo que lhes foi confiada, agindo não como dominadores, mas como modelos. A vida de São Remígio, que usou sua autoridade e graça para converter uma nação, é a encarnação perfeita deste ensinamento, mostrando que a hierarquia eclesiástica não é um fim em si mesma, mas um instrumento ordenado à salvação das almas, o maior "lucro" que um servo pode apresentar ao seu Senhor.