23 nov
Último domingo depois de Pentecostes


🕯️Este solene domingo encerra o ciclo do Ano Litúrgico (vídeo), confrontando a alma fiel com as realidades últimas da escatologia: o fim dos tempos, o Juízo Final e a majestade terrível de Cristo vindo como Juiz dos vivos e dos mortos. A liturgia de hoje não celebra um santo específico, mas a consumação da história humana e o triunfo definitivo do Reino de Deus sobre o poder das trevas, conforme a profecia do próprio Salvador. A Igreja, em sua pedagogia materna, utiliza as descrições apocalípticas da ruína de Jerusalém como prefiguração da catástrofe final do mundo, instando os católicos a sacudirem a letargia espiritual e a viverem em estado de graça. É um dia de reverente temor e, simultaneamente, de imensa esperança para os eleitos, lembrando-nos de que, embora o céu e a terra passem, as palavras de Cristo jamais passarão e que fomos feitos para a herança dos Santos na luz.

✉️Epístola (Col 1, 9-14)
Irmãos: Não cessamos de orar a Deus por vós e de pedir que tenhais pleno conhecimento de sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual: para que possais andar de uma maneira digna de Deus, agradar-lhe em tudo, frutificar em toda boa obra e crescer no conhecimento de Deus; fortalecidos em toda a virtude pelo poder de sua glória; em toda a paciência, longanimidade e alegria; rendendo graças a Deus Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos Santos na luz. Ele nos tirou do poder das trevas e nos transportou ao Reino do seu Filho amado, por cujo Sangue temos a redenção dos pecados.

✠Evangelho (Mt 24, 15-35)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Quando virdes no lugar santo os horrores da desolação, que foi predita pelo profeta Daniel, quem ler, entenda. Então os que estiverem na Judeia fujam para os montes; e o que se achar no terraço, não desça para ir buscar coisa alguma de sua casa; e o que estiver no campo, não volte para tomar a sua túnica. Ai, porém, das mães e dos seus filhinhos naqueles dias! Rogai, pois, que a vossa fuga não seja nem no inverno, nem em dia de sábado. Porque haverá grande aflição, qual nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. E se esses dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria; mas por causa dos Eleitos, serão abreviados esses dias. Então se alguém vos disser: Aqui está o Cristo, ou Ele está ali, não lhe deis crédito. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes prodígios e milagres, que (se possível fora) até aos Eleitos enganariam. Vede que já vo-lo predisse. Se, pois, vos disserem: Ei-lo, está no deserto, não saiais. Ei-lo aqui, no interior da casa, não lhes deis crédito. Porque, como o raio parte do oriente e é visível até o ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. Onde quer que esteja o cadáver, aí se ajuntarão as águias. Logo após a tribulação daqueles dias, o sol se escurecerá, a lua não dará mais a sua luz, as estrelas cairão do céu, e as forças do céu serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. E enviará seus Anjos com forte clangor de trombetas e reunirão os eleitos dos quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. Da figueira aprendei, pois, uma comparação. Quando seus ramos já estão tenros e as folhas brotam, sabeis que já está próximo o verão; assim também quando virdes todas estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas se cumpram. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

💭Reflexões

⚡A profecia do Evangelho sobre o fim dos tempos e a segunda vinda de Cristo destina-se a incutir um temor salutar que purifica a alma do apego excessivo às coisas transitórias. Santo Agostinho, ao meditar sobre o Juízo, recorda-nos que o terror daquele dia não deve nos levar ao desespero, mas à correção da vida enquanto há tempo, pois Aquele que virá como Juiz é o mesmo que agora se oferece como Advogado. A "abominação da desolação" no lugar santo, prefigurada historicamente pela profanação do Templo, aponta escatologicamente para a grande apostasia e a perda da sacralidade nos corações e no mundo. Cristo exorta-nos a fugir para os "montes", que os Padres da Igreja interpretam misticamente como o refúgio nas Escrituras e na altura da contemplação divina, longe das baixezas da vida carnal que será julgada (Santo Agostinho, Epístola 199).

🌟Em contraste com a severidade do Evangelho, a Epístola aos Colossenses oferece o remédio e o caminho para enfrentar o dia da ira: viver dignamente de Deus, frutificando em boas obras. São Tomás de Aquino explica que ser "digno de participar da herança dos Santos na luz" não é mérito puramente humano, mas graça infusa que nos capacita à visão beatífica. O Doutor Angélico ensina que fomos "arrancados do poder das trevas", o que exige uma mudança ontológica em nosso comportamento; a luz da glória exige a luz da graça. A paciência e a longanimidade mencionadas por São Paulo são as armas dos eleitos para suportar a tribulação final, mantendo a fé intacta diante dos falsos profetas e dos sinais enganosos que o Evangelho prediz (São Tomás de Aquino, Super Colossenses).

⏳A imagem da figueira, cujos ramos tenros anunciam o verão, é uma parábola de esperança em meio ao cataclismo cósmico. Santa Teresa de Ávila, ao refletir sobre a transitoriedade desta vida, adverte que a verdadeira sabedoria consiste em entender que "tudo passa", mas "Deus não muda". O cristão deve ler os "sinais dos tempos" não com curiosidade mórbida, mas com a vigilância da esposa que aguarda o esposo. O fim do ano litúrgico simboliza o fim de nossa peregrinação terrestre; assim como as folhas brotam indicando a proximidade do verão, as tribulações desta vida indicam a proximidade do encontro eterno com Cristo. A certeza de que "minhas palavras não passarão" é a rocha onde a alma edifica sua morada interior, segura de que, após a tempestade do juízo, virá a bonança da eternidade (Santa Teresa de Ávila, Caminho de Perfeição).