15 MAIO - S. JOÃO BATISTA DE LA SALLE, Confessor


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São João Baptista de La Salle
nasceu em Reims, França, em 1651, e faleceu em 1719. Fundador dos Irmãos das Escolas Cristãs (Lassalistas), dedicou sua vida à educação dos pobres, revolucionando o ensino ao criar escolas gratuitas e métodos pedagógicos inovadores, como o ensino em língua vernacular e em grupos organizados. Ordenado sacerdote em 1678, abandonou riquezas e status para viver em pobreza, confiando na Providência. Sua espiritualidade era marcada pela entrega total a Deus, pela caridade aos necessitados e por uma profunda vida de oração, vendo na educação um meio de santificação. Canonizado em 1900, foi proclamado patrono dos educadores cristãos por Pio XII em 1950. Uma das obras mais significativas de São João Baptista de La Salle é Meditações para o Tempo de Retiro, um conjunto de reflexões espirituais destinadas à formação dos Irmãos. Nela, ele enfatiza a missão do educador como um chamado divino. Um trecho representativo é: "Deus confiou-vos a educação das crianças; é uma tarefa que Ele vos deu para que possais conduzi-las ao conhecimento da verdade e à prática da virtude. Considerai que é uma graça especial que Deus vos concede, e que deveis corresponder a ela com todo o vosso zelo e fidelidade."

Introito (Sl 78, 11. 12 e 10 | ib., 1 )
Os justi meditábitur sapiéntiam, et lingua ejus loquétur judícium... A boca do justo fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em seu coração. Sl. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.

Epístola (Eclo 31, 8-11)
Bem-aventurado o homem que foi encontrado sem mancha, que se não deixou atrair pelo ouro, nem pôs sua esperança no dinheiro ou em riquezas. Quem é este, para nós o louvarmos? Porque fez coisas maravilhosas em sua vida. O que assim foi provado e encontrado perfeito, terá uma glória eterna. Pôde transgredir a lei de Deus, e não a transgrediu; pôde praticar o mal e não o fez! É por isso que os seus bens estão fixos no Senhor, e que toda a assembleia dos santos publicará as suas esmolas.

Evangelho (Mt 18, 1-5)
Naquele tempo, chegaram-se a Jesus os discípulos com esta pergunta: Quem é maior no reino dos céus? Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles e disse: Em verdade vos digo: se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no Reino dos céus. Portanto quem se tornar humilde como esta criança, este é o maior no Reino do céu. Quem acolher, em meu Nome, uma criança assim, a mim é que acolhe.

Homilias e Explicações Teológicas
A verdadeira grandeza do homem não reside na acumulação de riquezas, mas na sua capacidade de viver em retidão e confiança em Deus, como ensina o livro do Eclesiástico, que exalta a bem-aventurança do justo que não se deixa corromper pelo ouro. Esta virtude encontra eco na humildade evangélica proposta por Cristo em Mateus, onde a criança simboliza a pureza de coração e a dependência total da graça divina, uma disposição que São João Batista de La Salle encarnou ao dedicar sua vida à educação dos pobres, renunciando às honras mundanas. Santo Agostinho sublinha que a riqueza verdadeira é a posse de Deus, pois “aquele que possui Deus nada deseja, pois possui tudo” (Santo Agostinho, Sermões sobre o Evangelho de João, 40,10). São Tomás de Aquino, por sua vez, interpreta a humildade da criança como a porta para a contemplação divina, uma vez que “o reino dos céus pertence aos que se fazem pequenos para acolher a grandeza de Deus” (São Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 161, a. 2). São Gregório Magno conecta a justiça do Eclesiástico com a missão educativa de La Salle, afirmando que “o justo brilha não por suas riquezas, mas por sua caridade, que ilumina os outros como uma lâmpada” (São Gregório Magno, Moralia in Job, 12, 14). Por fim, São Bernardo de Claraval exalta a infância espiritual como um chamado à simplicidade, onde “o coração humilde se torna morada do Espírito Santo” (São Bernardo, Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, 23, 15).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Mateus 18,1-5, ao destacar a humildade da criança como condição para entrar no Reino dos Céus, encontra complementos significativos nos outros evangelhos. Em Marcos 10,13-16, Jesus não apenas acolhe as crianças, mas as abençoa, enfatizando que o Reino pertence àqueles que recebem a graça com a mesma confiança ingênua, um aspecto menos explícito em Mateus. Lucas 18,15-17 reforça essa ideia, mas adiciona que Jesus repreende os discípulos por impedirem as crianças, sugerindo uma crítica à rigidez que obstrui a simplicidade da fé. João, embora não narre um episódio idêntico, complementa em 3,3-5, onde Jesus fala a Nicodemos sobre o “nascer de novo” para ver o Reino, indicando que a infância espiritual implica uma renovação radical do coração, um tema implícito em Mateus. 

Comparação com Textos de São Paulo
Em 1 Coríntios 1,26-31, Paulo destaca que Deus escolhe os humildes e fracos para confundir os sábios, ecoando a exaltação da criança em Mateus e sugerindo que a grandeza cristã está na dependência de Deus, não nas conquistas humanas. Filipenses 2,5-8 complementa ao descrever a kénosis de Cristo, que se humilhou até a morte, oferecendo um modelo supremo de humildade que vai além da simplicidade infantil, mas a ilumina como ideal. Em 2 Coríntios 8,9, Paulo fala da pobreza de Cristo, que enriqueceu a humanidade, conectando-se com o justo do Eclesiástico que não busca ouro, mas a Deus, e com a missão de La Salle, que abraçou a pobreza para educar. 

Comparação com Documentos da Igreja
A encíclica Rerum Novarum (1891) de Leão XIII, ao abordar a justiça social, reforça o elogio do Eclesiástico ao justo que não se corrompe, destacando que a verdadeira riqueza está na virtude e no uso reto dos bens, um princípio vivido por La Salle em sua dedicação aos pobres. O Syllabus Errorum (1864) de Pio IX, condenando a exaltação do progresso material acima da fé, alinha-se com a humildade de Mateus 18,1-5, ao reafirmar que a grandeza espiritual supera as ambições mundanas. A bula Unigenitus (1713) de Clemente XI, ao condenar erros jansenistas, defende a necessidade de uma fé simples e confiante, como a das crianças, complementando a exortação de Jesus à infância espiritual.