18 nov
Dedicação das basílicas de S. Pedro e S. Paulo


🏛️A liturgia de hoje celebra o aniversário da dedicação de duas das mais importantes basílicas da cristandade: a Basílica de São Pedro, no Vaticano, e a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. Ambas foram originalmente construídas pelo Imperador Constantino no século IV sobre os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, os pilares da Igreja. A Basílica de São Pedro foi reconstruída nos séculos XVI e XVII e solenemente consagrada pelo Papa Urbano VIII em 18 de novembro de 1626. A Basílica de São Paulo, após ser destruída por um incêndio em 1823, foi reconstruída e consagrada pelo Papa Pio IX em 1854, mantendo-se a celebração conjunta nesta data. Esta festa não honra apenas os edifícios de pedra, mas celebra a Igreja como Templo de Deus, construída sobre o fundamento dos Apóstolos, e a unidade da fé simbolizada pelo martírio e pelo legado destes dois grandes santos em Roma, o coração da Igreja Católica.

📖Epístola (Ap 21, 2-5)

Naqueles dias, vi a cidade santa, a nova Jerusalém, descer do céu de junto de Deus, ornada como esposa que se prepara para seu esposo. E ouvi uma voz forte, vinda do trono, que dizia: Eis o tabernáculo de Deus entre os homens. Deus habitará com eles, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo será com eles, como seu próprio Deus. E Ele enxugará todas as lágrimas de seus olhos. Não mais haverá morte, nem luto, nem queixa, nem mais dor porque as antigas tribulações passaram. Então Aquele que estava assentado no trono, disse: Eis que renovo todas as coisas.

✝️Evangelho (Lc 19, 1-10)

Naquele tempo, tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. E vivia nela um homem chamado Zaqueu, que era um dos principais entre os publicanos e pessoa rica. Ele procurava ver Jesus, para saber quem era, e não o podia conseguir por causa da muita gente, porque era pequeno de estatura. E correndo adiante, subiu a um sicômoro para vê-lo, porque por ali havia de passar. E quando Jesus chegou àquele lugar, levantando os olhos, ali o viu e lhe disse: Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje em tua casa. E desceu ele a toda a pressa e recebeu-o com alegria. E vendo isto, todos murmuravam, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um homem pecador. Entretanto Zaqueu, posto na presença do Senhor, disse-lhe: Senhor, eis que dou aos pobres a metade dos meus bens, e naquilo em que eu tiver defraudado a alguém, restituirei o quádruplo. Sobre o que lhe disse Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que tinha perecido.

묵Reflexões

🙏A celebração da dedicação de uma igreja e a narrativa da conversão de Zaqueu estão intrinsecamente ligadas pelo mistério da "morada de Deus". As basílicas de pedra são um sinal visível do verdadeiro Templo de Deus, que é a comunidade dos fiéis, a Igreja, e, em última instância, a alma de cada batizado. Quando Jesus diz a Zaqueu: "Hoje tenho que ficar em tua casa", Ele não se refere apenas à estrutura física, mas ao coração daquele homem. A salvação que "entrou nesta casa" é a consagração da alma de Zaqueu como um novo templo para o Espírito Santo. Santo Agostinho ensina que Deus não busca habitar em edifícios de mármore e ouro, mas nos corações dos justos. "Se queres construir um templo para Deus, constrói primeiro em ti mesmo a morada da santidade. O edifício que construíres será tão belo quanto o amor que tiveres pela justiça" (Santo Agostinho, Sermão 336). Assim, a liturgia nos convida a ver as basílicas de Pedro e Paulo não como meros monumentos, mas como um chamado à nossa própria consagração, para que Cristo possa fazer morada em nós, tal como fez em Zaqueu.

✨A Epístola do Apocalipse expande esta visão para uma dimensão escatológica. A "nova Jerusalém" que desce do céu é a Igreja em sua perfeição final, a Esposa de Cristo. As igrejas terrenas, especialmente as basílicas-mãe de Roma, são uma prefiguração desta realidade celestial. Elas são o "tabernáculo de Deus entre os homens" de forma sacramental e simbólica. A dedicação de um altar, o ponto central de uma igreja, é um rito que espelha a purificação de uma alma. O Missal Romano, nos ritos de dedicação, prescreve unções com o santo Crisma, incensação e a iluminação, gestos que significam a santificação e a presença de Cristo, a Luz do mundo. Esta santificação do espaço reflete a transformação de Zaqueu: sua "pequena estatura" simboliza a condição de pecador, mas ao subir na árvore, ele se eleva sobre sua miséria para encontrar Cristo. Sua restituição quádrupla é a purificação de seu coração, tornando sua casa (e sua alma) digna de receber o Senhor. A promessa de que "não mais haverá morte, nem luto" se cumpre inicialmente na alma que abandona o pecado e plenamente na glória eterna, para a qual a Igreja na terra nos prepara.

🕊️A conversão de Zaqueu, portanto, é um evangelho de dedicação pessoal. O gesto de Jesus de se convidar à sua casa é um ato de pura graça, que vai ao encontro do desejo humano de ver a Deus. Zaqueu, o publicano, representa a humanidade perdida que Cristo veio "buscar e salvar". A sua resposta é imediata e generosa, demonstrando que a verdadeira conversão se manifesta em obras de caridade e justiça. A murmuração da multidão ("foi hospedar-se em casa de um pecador") revela a distância entre a lógica humana e a misericórdia divina. É precisamente nos corações pecadores que Deus deseja edificar o seu templo. As basílicas de São Pedro e São Paulo foram construídas sobre os túmulos de homens que também conheceram a fragilidade: Pedro, que negou o Senhor, e Paulo, que perseguiu a Igreja. Sua grandeza não veio de uma perfeição inata, mas da graça que os transformou em colunas da fé. Assim, a festa de hoje nos recorda que cada um de nós, por mais pecador que seja, é chamado a tornar-se uma "pedra viva" (1 Pd 2,5) no edifício espiritual da Igreja, cuja pedra angular é o próprio Cristo.