São Boaventura, frade franciscano, bispo e doutor da Igreja, destacou-se como um dos maiores teólogos e filósofos do século XIII. Nascido em Bagnoregio, Itália, ingressou na Ordem de São Francisco e tornou-se mestre em Paris, onde lecionou com grande erudição, sendo contemporâneo e amigo de Santo Tomás de Aquino. Conhecido como o “Doutor Seráfico” por sua espiritualidade ardente e sabedoria profunda, escreveu obras como o Itinerário da Mente para Deus e Comentários às Sentenças de Pedro Lombardo, unindo misticismo e rigor intelectual. Como líder da Ordem Franciscana, promoveu a unidade e a fidelidade aos ideais de São Francisco. Sua piedade, humildade e dedicação à verdade o tornaram um modelo de santidade e sabedoria, sendo canonizado em 1482 e declarado Doutor da Igreja em 1588.
Introito (Eclo 15, 5 | Sl 91, 2)
In medio Ecclesiae aperuit os ejus... No meio da Igreja, o Senhor o fez falar; encheu-o do Espírito de sabedoria e inteligência, e revestiu-o com uma túnica de glória. Sl. É bom louvar ao Senhor e cantar salmos a vosso Nome, ó Altíssimo. ℣. Glória ao Pai.
Epístola (II Tim 4, 1-8)
Caríssimo: Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos por sua vinda e por seu Reino: prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade, repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão os ouvidos da verdade para os abrirem às fábulas. Tu, porém, vigia, trabalha em todas as coisas, faze obra de um Evangelista, desempenha o teu ministério. Sê sóbrio. Quanto a mim, já estou para ser crucificado, e o tempo de minha morte se avizinha. Combati o bom combate; terminei a minha carreira: guardei a fé. Resta-me esperar a coroa da justiça que me está reservada, que o Senhor, justo Juiz, me dará nesse dia. E não só a mim, como também àqueles que desejam a sua vinda.
Gradual (Sl 36, 30-31 | Sl 109, 4)
A boca do Justo medita a sabedoria e a sua língua proferirá a equidade. ℣. A lei de seu Deus está em seu coração e os seus passos não resvalarão. Aleluia, aleluia. ℣. O Senhor jurou e não se arrependerá. Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Aleluia.
Evangelho (Mt 5, 13-19)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra. Se o sal perder a sua força, como há de receber nova força? Para nada mais presta senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Uma cidade situada sobre um monte, não pode ser escondida. E ninguém acende uma luz para pô-la debaixo do alqueire, mas sim no candieiro, para alumiar a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está no céu. Não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, e sim cumprir. Porque, em verdade vos digo: enquanto não passar o céu e a terra, nem uma letra, nem um pontinho desaparecerá da lei, até que tudo seja realizado. Aquele, pois, que transgredir um destes mandamentos por pequeno que seja e ensinar assim aos homens, será chamado mínimo no Reino dos céus; mas o que os guardar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos céus.
Reflexões
A sabedoria de São Boaventura, celebrada como um dom divino que ilumina a Igreja, ressoa no introito (Eclo 15, 5), que exalta a inteligência concedida por Deus aos justos, pois a verdadeira ciência nasce da humildade e da contemplação da cruz, que conduz a alma à união com o Criador (Boaventura, Itinerário da Mente para Deus, c. 7). A Epístola (II Tim 4, 1-8) sublinha a missão do mestre fiel que, como Boaventura, proclama a verdade com zelo, pois a pregação não busca glória própria, mas a salvação das almas, sendo um combate espiritual que culmina na coroa da justiça (Agostinho, Sermão sobre os Pastores, 46). No Evangelho (Mt 5, 13-19), a imagem do sal da terra e da luz do mundo aponta para a vocação de iluminar sem ofuscar, pois o mestre deve ser um reflexo da luz divina, não sua fonte, guiando os outros pela humildade e pela obediência à lei de Deus (Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 4). Comparado aos outros evangelhos, Mateus enfatiza o chamado à visibilidade da santidade, enquanto Lucas (Lc 6, 14-16) destaca a escolha dos apóstolos como fundamento da missão, e João (Jo 17, 11-19) aprofunda a consagração dos discípulos na verdade para serem enviados ao mundo sem pertencer a ele. Em relação aos textos paulinos, I Coríntios (1 Cor 2, 1-5) complementa a ideia de que a verdadeira luz do testemunho cristão não repousa na eloquência humana, mas no poder de Deus, enquanto Romanos (Rom 12, 1-2) exorta à transformação interior para discernir a vontade divina, um aspecto implícito na missão de ensinar a lei. Nos documentos da Igreja, o Concílio de Trento (Sessão 5, Decreto sobre a Pregação, 1546) reforça que o mestre deve viver conforme a doutrina que ensina, para que sua vida seja um reflexo da verdade, enquanto a encíclica Rerum Novarum (1891) de Leão XIII chama os fiéis a iluminar o mundo com ações concretas de caridade.