Introito (Eclo 15, 5 | Sl 91, 2)
In médio Ecclésiæ apéruit os eius... No meio da Igreja, o Senhor o fez falar; encheu-o do Espírito de sabedoria e inteligência, e revestiu-o com uma túnica de glória. Sl. É bom louvar ao Senhor e cantar salmos a vosso Nome, ó Altíssimo.
Epístola (II Cor 4, 5-14)
São Paulo Apóstolo aos Coríntios. Irmãos: Não pregamos a nós mesmos, porém a Jesus Cristo Senhor nosso; nós somos, porém, vossos servos por amor de Jesus; porque Deus, que ordenou à luz para brilhar no seio das trevas, fez também resplandecer sua luz em nossos corações para que façamos brilhar a luz do conhecimento da glória de Deus na pessoa do Cristo Jesus. Temos entretanto esse tesouro em vasos de terra [frágeis] a fim de que a grandeza do poder seja atribuída a Deus e não a nós. De todos os lados nos vem a tribulação, mas não ficamos angustiados; somos cercados de embaraços, mas não desesperados; perseguidos, porém não abandonados; oprimidos, mas não somos desanimados. Trazemos sempre em nós a mortificação de Jesus, para que a vida de Jesus seja também manifesta em nosso corpo. Porque nós, enquanto vivemos, somos sempre entregues à morte por Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também visível em nossa carne mortal. A morte domina em nós, e em vós, a vida. E como temos o mesmo espírito de fé, conforme está escrito: Eu creio, eis porque falo, nós cremos também e eis porque falamos. Sabemos que O que ressuscitou a Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos reunirá a vós.
Evangelho (Mt 10, 23-28)
Naquele tempo, disse Jesus, a seus discípulos: Quando vos perseguirem em uma cidade, fugi para outra. Em verdade, eu vos digo: vós não tereis acabado de percorrer as cidades de Israel, antes que chegue o Filho do homem. Não está o discípulo acima de seu mestre, nem o servo acima de seu senhor. E’ suficiente para o discípulo que lhe aconteça como a seu mestre, e ao servo como a seu senhor. Se chamaram ao Pai de família [a mim] de Beelzebul, que não chamarão aos servidores [a vós] ? Não os temais, portanto. Nada há de oculto que não possa ser revelado, nem nada de secreto, que não deva ser conhecido. O que vos digo nas trevas [particularmente] dizei-o à luz [publicamente]; e o que vos é dito ao ouvido, pregai-o de cima dos tetos. Não receeis os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes o que pode lançar a alma e o corpo no inferno.
Homilias e Explicações Teológicas
A verdadeira glória do apóstolo reside em carregar em si a fraqueza de Cristo, pois é na humilhação e no sofrimento que o poder divino se manifesta, unindo o servo ao mistério pascal de morte e ressurreição, de modo que a vida de Jesus se revele no corpo mortal (Santo Agostinho, Sermões sobre as Epístolas de Paulo, 4). A perseguição, como descrita no Evangelho, não é apenas um evento externo, mas uma participação na cruz de Cristo, onde o discípulo, ao ser rejeitado, torna-se um reflexo do Mestre, cuja verdade liberta o coração do medo humano (São João Crisóstomo, Homilias sobre Mateus, 34). A confiança no Espírito Santo, que guia os discípulos diante dos tribunais, é a garantia de que a palavra de Deus não é acorrentada, mas ressoa através da fraqueza humana, transformando a provação em testemunho (Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de Mateus, 10). A vida apostólica, marcada pela tribulação, é um reflexo da economia divina, onde a graça abundante de Deus sustenta o vaso frágil do homem, para que a glória seja de Deus e não do servo (Santo Atanásio, Sobre a Encarnação do Verbo, 45). O temor humano deve ceder ante o temor de Deus, pois aquele que guarda a alma para a eternidade encontra na confissão pública de Cristo a verdadeira liberdade, que transcende as ameaças temporais (São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 15).
Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos
O texto de Mateus 10, 23-28, que aborda a perseguição dos discípulos e a exortação a não temer os homens, mas a proclamar a verdade, encontra complementos significativos nos outros Evangelhos. Em Marcos 13, 9-13, há uma ênfase maior no papel do Espírito Santo, que concede sabedoria aos discípulos para falar diante das autoridades, detalhe menos explícito em Mateus. Lucas 12, 11-12 reforça essa ideia, destacando a espontaneidade da inspiração divina no momento da provação, enquanto Mateus foca mais na coragem de confessar Cristo publicamente. João 15, 18-20 amplia a perspectiva teológica, explicando que a perseguição decorre da rejeição do mundo a Cristo, um aspecto que Mateus apenas insinua. Além disso, João 16, 2-3 adiciona a gravidade de os perseguidores acreditarem estar servindo a Deus, o que aprofunda a compreensão do contexto de hostilidade em Mateus. Esses elementos complementam Mateus ao detalhar a assistência divina e a origem espiritual da oposição enfrentada pelos discípulos.
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
O Evangelho de Mateus 10, 23-28, que exorta os discípulos a enfrentarem a perseguição com coragem e confiança em Deus, é enriquecido por textos paulinos que abordam a missão apostólica e o sofrimento. Em Filipenses 1, 12-14, Paulo destaca que suas próprias prisões serviram para avançar o Evangelho, um resultado positivo da perseguição que Mateus não menciona explicitamente. Em Romanos 8, 35-39, Paulo aprofunda a segurança dos discípulos, afirmando que nenhuma tribulação pode separá-los do amor de Cristo, complementando a exortação de Mateus a não temer os homens. Em I Coríntios 4, 9-13, Paulo descreve os apóstolos como “espetáculo para o mundo”, detalhando as humilhações enfrentadas, o que dá uma dimensão concreta às perseguições aludidas em Mateus. Finalmente, em Gálatas 6, 17, Paulo menciona carregar as “marcas de Jesus” em seu corpo, oferecendo uma imagem vívida da identificação física com o sofrimento de Cristo, que amplia a ideia de testemunho em Mateus. Esses textos paulinos reforçam a resiliência e o propósito divino no sofrimento, aspectos menos desenvolvidos no Evangelho.