✨ A Festa da Transfiguração do Senhor comemora o evento em que Jesus, no alto de uma montanha, revelou a sua glória divina a três de seus apóstolos mais próximos: Pedro, Tiago e João. Este ato não foi apenas uma demonstração de poder, mas um profundo ato pedagógico: visava fortalecer a fé dos discípulos antes do escândalo da Cruz, mostrando-lhes um vislumbre da glória da Ressurreição. A presença de Moisés, representando a Lei, e de Elias, representando os Profetas, testemunhou que Jesus é o cumprimento de todas as Escrituras. A voz do Pai vinda da nuvem – "Este é o meu Filho amado" – confirmou a identidade divina de Cristo e a sua missão, oferecendo aos apóstolos e a toda a Igreja uma antecipação da glória celestial que é prometida aos fiéis.
Introito (Sl 76, 19 | Sl 83, 2-3)
Illuxérunt coruscatiónes tuæ orbi terræ... Vossos raios iluminaram o orbe; abalou-se e estremeceu a terra. Sl. Como são amáveis os vossos tabernáculos, Senhor dos exércitos! Desfalece a minha alma, suspirando pelos átrios do Senhor. ℣. Glória ao Pai…
Coleta
Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração do vosso Filho Unigênito confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho dos patriarcas e, pela voz saída da nuvem resplendente, maravilhosamente proclamastes a adoção perfeita de vossos filhos, concedei benigno, a graça de nos tornarmos co-herdeiros deste Rei da glória, fazendo-nos participar da mesma glória. Pelo mesmo J. C.
Epístola (II Pe 1, 16-19)
Caríssimos: Não foi seguindo fábulas engenhosas, que vos fizemos conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas depois de havermos sido espectadores de sua grandeza. Com efeito, Ele recebeu de Deus Pai, honra e glória quando da excelsa glória desceu sobre Ele esta voz: Este é o meu Filho amado, em quem pus as minhas complacências: escutai-O. Também nós ouvimos esta voz, vinda do céu, quando estávamos com Ele na montanha sagrada. Por isso ainda mais segura se tornou a palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em atender, como se fora uma lâmpada acesa em um lugar escuro até que venha o dia, e a estréia da manhã se levante em vossos corações.
Gradual (Sl 44, 3 e 2 | Sab 7, 26)
Ultrapassais em formosura os filhos dos homens; a graça expande-se em vossos lábios. ℣. Exulta meu coração em alegre canto; ao Rei dedico as minhas obras. Aleluia, aleluia. ℣. Este é o Esplendor da Luz eterna, o espelho sem mancha [da majestade de Deus] e a imagem de sua bondade. Aleluia.
Evangelho (Mt 17, 1-9)
Naquele tempo, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os de parte a um monte muito alto. E transfigurou-se diante deles Seu rosto resplandeceu como o sol, e suas vestes tornaram-se brancas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias, falando com Ele. Então Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se quiserdes, faremos aqui três tabernáculos, um para Vós, outro para Moisés e o terceiro para Elias. Ainda falava ele, quando uma nuvem brilhante os envolveu, e da nuvem soou uma voz que dizia: Este é o meu Filho muito amado. N’Ele pus toda a minha complacência; escutai-O. Ouvindo isto, os discípulos caíram com a face em terra e ficaram muito atemorizados. Aproximou-se, porém, Jesus, e, tocando-os, disse-lhes: Levantai-vos e não temais. E erguendo eles os olhos, não viram ninguém, senão a Jesus só. E enquanto descia com eles do monte, ordenou-lhes Jesus, dizendo: A ninguém digais o que vistes, até que o Filho do homem ressuscite dos mortos.
✍️ A razão principal da Transfiguração foi remover dos corações dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão voluntariamente sofrida não perturbasse a fé daqueles a quem fora revelada a excelência da dignidade oculta (São Leão Magno, Sermão 51). Cristo apareceu entre Moisés e Elias para significar que a sua glória é testemunhada pela Lei e pelos Profetas, e que Ele mesmo é o Juiz dos vivos e dos mortos, pois Moisés morreu e Elias ainda não (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q. 45, a. 3). Suas vestes tornaram-se brancas como a neve; o que isto significa, senão a Igreja, purificada de toda mancha e ruga? (Santo Agostinho, Sermão 78). A voz do Pai vinda da nuvem ensina-nos que, enquanto as tendas que desejamos são preparadas, temos de habitar na tenda da fé, pois a nuvem era um símbolo da fé, que protege os fiéis do calor dos desejos mundanos (Santo Ambrósio, Exposição sobre o Evangelho de Lucas, VII).
🔍 O Evangelho de Lucas complementa a narrativa de Mateus com detalhes cruciais, informando que Jesus subiu ao monte "para orar" e que foi "enquanto orava" que a aparência de seu rosto se alterou. Lucas também especifica o tema da conversa entre Jesus, Moisés e Elias: eles falavam de seu "êxodo", que Ele estava para cumprir em Jerusalém, ligando diretamente a glória da Transfiguração ao seu sacrifício vindouro. Além disso, Lucas menciona que os apóstolos estavam "pesados de sono", mas, permanecendo acordes, viram a sua glória, o que acentua a magnitude da revelação que quase superou a capacidade humana deles. O Evangelho de Marcos, por sua vez, usa uma imagem mais terrena e vívida para descrever as vestes, dizendo que se tornaram mais brancas "do que qualquer lavandeiro na terra poderia branquear".
✉️ Os escritos de São Paulo, embora não narrem o evento, aprofundam teologicamente o seu significado. Em Filipenses 3:21, Paulo fala que Cristo "transformará o nosso corpo humilde, para o conformar ao seu corpo glorioso", o que ecoa a promessa contida na visão do corpo transfigurado de Jesus. A experiência dos apóstolos no monte é um prelúdio do que Paulo descreve em 2 Coríntios 3:18: "Mas todos nós, com o rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem, de glória em glória". A ordem para "escutai-O" é expandida por Paulo, que afirma que em Cristo "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (Colossenses 2:3), tornando o mandato do Pai uma orientação para toda a vida cristã. Finalmente, a ligação entre a glória e o sofrimento, implícita na descida do monte, é explicitada por Paulo em Romanos 8:17, ao afirmar que somos co-herdeiros com Cristo "se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados".
🏛️ Documentos da Igreja solidificam e expandem a compreensão da Transfiguração. O Catecismo Romano (do Concílio de Trento), na sua explicação do Credo, apresenta a Transfiguração como uma prova irrefutável da Ressurreição e uma manifestação da glória que não só pertence a Cristo como Cabeça, mas que também é prometida a todos os membros do seu Corpo. O Papa Leão XIII, na encíclica Mirae Caritatis (1902), ao falar da Eucaristia, alude à Transfiguração como um momento em que a fé dos Apóstolos foi fortalecida para que pudessem suportar a Paixão, traçando um paralelo com a forma como a Eucaristia fortalece a nossa fé para as provações da vida. A Bula Unigenitus Dei Filius (1343) do Papa Clemente VI, ao instituir o Jubileu, fala de Cristo como o "tesouro da Igreja", cuja divindade, velada na carne, foi momentaneamente desvelada aos Apóstolos no monte para confirmar a sua fé na riqueza infinita dos méritos de Cristo, que eles teriam que proclamar ao mundo.