🗣️São João Batista, o Precursor do Messias, é uma figura central na história da salvação, cuja vida foi um testemunho inabalável da verdade. Sua missão, profetizada desde o Antigo Testamento, era preparar o caminho para o Senhor através da pregação do arrependimento e do batismo de conversão. Vivendo com austeridade no deserto, ele personificou a penitência que anunciava. Com humildade, reconheceu sua posição em relação a Cristo, afirmando: "É preciso que Ele cresça e eu diminua". Seu ministério culminou no martírio, decapitado por ordem do rei Herodes por ter corajosamente denunciado a união adúltera do monarca com Herodíades. Sua morte não foi apenas o fim de uma vida, mas o selo de sua fidelidade profética, morrendo como viveu: uma voz que clamava pela justiça e pela verdade, mesmo diante dos poderosos da terra.
🙏 Introito (Sl 118, 46-47 | Sl 91, 2)
Loquébar de testimóniis tuis in conspéctu regum, et non confundébar... Eu falava de vossos preceitos diante dos reis, e não me confundia; e meditava em vossos mandamentos, que muito amei. Sl. É bom louvar ao Senhor e cantar salmos a vosso Nome, ó Altíssimo. ℣. Glória ao Pai.
📜 Epístola (Jeremias - Jr 1, 17-19)
Naqueles dias, a palavra do Senhor me foi dirigida nestes termos: Cinge os teus rins e levanta-te; e dize a Judá tudo quanto eu te prescrevo. Não temas aparecer diante deles, porque farei com que não tenhais medo em sua presença. Pois eu te estabeleci hoje como uma cidade forte, como uma coluna de ferro e um muro de bronze, contra toda a região, contra os reis de Judá, seus príncipes e sacerdotes, e o povo dá terra. Eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu estou contigo, para te libertar, diz o Senhor.
📖 Evangelho (Mc 6, 17-29)
Naquele tempo, Herodes ordenara que prendessem a João, e o pusera em cadeias, na prisão, por causa da mulher de seu irmão Filipe, Herodíades, que ele havia desposado. Dissera João a Herodes: Não te é lícito tomares a esposa de teu irmão. Ora, Herodíades, por isso, preparava-lhe ciladas e queria matá-lo, mas não o conseguia, porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo; ele o favorecia, fazendo muitas coisas por seus conselhos, e o ouvia de boa vontade. Chegando um dia oportuno, o aniversário de seu nascimento, Herodes deu um grande banquete aos príncipes da côrte, aos tribunos e aos nobres da Galileia. Tendo entrado a filha de Herodíades e tendo dançado, agradou a Herodes e aos que estavam presentes, dizendo o rei à donzela: Pede-me quanto quiseres e eu to darei, mesmo que seja a metade de meus domínios. Ela saiu e disse à sua mãe: Que pedirei? Sua mãe respondeu-lhe: A cabeça de João Batista. E logo ela voltou com muita pressa junto ao rei e pediu: Quero que me dês, neste instante, sobre um prato, a cabeça de João Batista. O rei se entristeceu; no entanto, por causa do seu juramento e daqueles que estavam presentes, não a quis contristar com uma recusa. Enviou, pois, um de seus guardas e ordenou-lhe que trouxesse a cabeça de João num prato. O guarda o decapitou na prisão e colocando a cabeça de João num prato, ele a levou à jovem e a jovem a deu à sua mãe. Sabendo disto os discípulos de João vieram e tomaram o seu corpo, depositando-o num sepulcro.
🤔 Reflexões
🖋️A verdade gera o ódio; porque, assim que a verdade começou a ser pregada, a verdade sofreu a perseguição (Santo Agostinho, Sermão 30, sobre a Decapitação de São João Batista). A promessa de Jeremias, de ser "uma coluna de ferro e um muro de bronze", se cumpre em João, que não cedeu à ameaça do rei. A verdade não se cala, mesmo que custe a vida; por isso João falou perante o rei e não se confundiu, como canta o Introito (São Jerônimo, Comentário sobre Jeremias). A dança de uma jovem precede a morte de um profeta; quão grande mal pode causar um banquete! No meio dos prazeres da festa, um juramento ímpio é feito, e para cumpri-lo, um crime inaudito é cometido, revelando como os vícios do mundo levam à destruição da santidade (Santo Ambrósio, Sobre Nabot, 15). Um juramento que exige um crime é uma promessa ímpia. Era um juramento ímpio; foi mais ímpio cumpri-lo, pois Herodes temeu mais quebrar sua palavra a homens do que decapitar o amigo de Deus (Santo Agostinho, Sermão 307).
🔄O Evangelho de São Mateus (Mt 14, 3-12) complementa o relato de Marcos, especificando que o próprio Herodes "queria matá-lo, mas temia o povo, que o considerava um profeta", o que intensifica o conflito interno do rei, que em Marcos parece mais inclinado a proteger João por admiração. Já São Lucas (Lc 3, 19-20) oferece um resumo mais amplo e anterior na sua narrativa, mencionando que João repreendia Herodes não apenas pela questão de Herodíades, "mas por todas as outras maldades que Herodes tinha praticado", ampliando o escopo da coragem profética de João para além de uma única transgressão moral.
⛓️A coragem de João Batista, ao falar "diante dos reis" sem se confundir, ecoa profundamente nos escritos de São Paulo. O Apóstolo exorta Timóteo a "pregar a palavra, insistir a tempo e a fora de tempo, repreender, suplicar, admoestar com toda a paciência e doutrina" (2 Timóteo 4, 2), um resumo perfeito do ministério de João. Além disso, o sofrimento de João por causa da verdade encontra um paralelo teológico na afirmação de Paulo de que "todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição" (2 Timóteo 3, 12). A fidelidade de João até a morte encarna o ideal paulino de "combater o bom combate, terminar a corrida, guardar a fé" (2 Timóteo 4, 7), tornando-se um mártir não por negar um ídolo, mas por defender a lei moral de Deus.
🏛️A firmeza de São João Batista em defender a santidade do matrimônio reflete o ensinamento perene da Igreja sobre sua indissolubilidade. O Catecismo do Concílio de Trento afirma que o vínculo matrimonial, uma vez ratificado e consumado, não pode ser desfeito por nenhum poder humano. Ao denunciar Herodes, João agiu como um guardião desta verdade divina. Adicionalmente, a questão do juramento de Herodes é esclarecida pela teologia moral, que ensina que um juramento para cometer um ato pecaminoso não tem validade e sua observância constitui um pecado ainda maior. A virtude da fortaleza, celebrada pela Igreja nos mártires, é o que permitiu a João preferir a morte a silenciar a verdade, tornando-se um modelo para todos os que são chamados a testemunhar a fé em circunstâncias hostis.