Introito (Gal 2, 19-20 | Sl 40, 2)
Christo confíxus sum Cruci... Com o Cristo estou pregado na Cruz; vivo, mas não sou eu que vivo; o Cristo vive em mim. Eu vivo na fé do Filho de Deus, que me amou, e por mim se entregou, aleluia, aleluia. Sl. Feliz aquele que tem piedade do indigente e do pobre; no dia mau o Senhor o livrará.
Epístola (I Cor 1, 17-25)
São Paulo Apóstolo a Coríntios. Irmãos: Cristo não me enviou para batizar e sim para anunciar o Evangelho; não com sabedoria de palavra para que não seja diminuída a força da Cruz de Cristo. Porque a pregação da Cruz é uma loucura para aqueles que perecem, porém para os que são salvos, isto é, para nós, ela é poder de Deus. Pois está escrito: “Eu destruirei a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes”. Onde está o sábio? Onde o escriba? O investigador deste século? Não chamou Deus de loucura à sabedoria deste mundo? Porque uma vez que o mundo com sua sabedoria não conheceu a Deus, em sua sabedoria divina agradou a Deus salvar aos que creem pela loucura da pregação. Em verdade, os judeus pedem milagres e os Gregos procuram a ciência; porém nós pregamos o Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos; mas para os que são chamados, judeus ou Gregos, o Cristo é poder de Deus, é sabedoria de Deus. Porque o que parece estultícia em Deus, é mais sábio que os homens e o que parece fraqueza em Deus, é mais forte que os homens.
Evangelho (Lc 10, 1-9)
Naquele tempo, designou o Senhor outros setenta e dois discípulos e mandou-os, dois a dois, em sua frente, por todas as cidades e lugares onde Ele próprio devia ir. Ele lhes dizia: A messe é grande, mas os operários são poucos. Rogai, pois, ao dono da seara que mande operários para sua messe. Ide, eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado e pelo caminho a ninguém saudeis. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. E se aí houver um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; se não, voltará ela para vós. Na mesma casa ficai, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois o operário merece seu salário. Não andeis de casa em casa. E se entrardes em alguma cidade e vos receberem, comei o que vos derem. Curai os enfermos que aí houver e dizei-lhes: Aproximou-se de vós o Reino de Deus.
Homilias e Explicações Teológicas
A cruz, que aos olhos humanos parece fraqueza e loucura, é o ápice da sabedoria divina, pois nela se revela o amor que transcende a justiça e a razão humanas, escolhendo os humildes para confundir os sábios, de modo que a salvação não se baseia em méritos próprios, mas na graça de Deus (Santo Agostinho, Sermões sobre a Primeira Carta aos Coríntios, 1,18). A missão dos setenta e dois discípulos, enviados como cordeiros entre lobos, manifesta a confiança na providência divina, que capacita os fracos para anunciar a paz e o Reino, mostrando que a força do evangelho não reside na persuasão humana, mas na ação do Espírito (São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 17). A escolha dos discípulos, enviados sem bens materiais, sublinha que a pregação do Reino exige desapego e humildade, para que o pregador seja um reflexo da pobreza de Cristo, cuja cruz é o verdadeiro tesouro (São Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho de Lucas, 10,1-9). A cura dos enfermos e a proclamação da proximidade do Reino revelam que a missão cristã não é apenas verbal, mas encarnada em atos de caridade, que tornam visível a presença de Deus no mundo (São João Crisóstomo, Homilias sobre Lucas, 10,4-9).
Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos
O envio dos setenta e dois em Lucas 10,1-9 é único por sua escala e simbolismo, sugerindo a missão universal que abrange todas as nações, um aspecto não enfatizado em Mateus ou Marcos. Em Mateus 10,5-15, o envio é restrito aos doze apóstolos e às “ovelhas perdidas de Israel”, com instruções mais detalhadas sobre rejeição, enquanto Lucas foca na urgência e na confiança na providência, sem menção explícita a limites geográficos. Marcos 6,7-13 descreve o envio dos doze com ênfase na autoridade sobre espíritos impuros e na simplicidade (sem pão ou dinheiro), mas omite a proclamação da paz e a cura como sinais do Reino, centrais em Lucas. João não apresenta um envio coletivo análogo, mas em João 20,21-23, Jesus envia os discípulos com o Espírito Santo, destacando a autoridade de perdoar pecados, um elemento ausente em Lucas 10,1-9. Assim, Lucas amplia a missão, sublinhando sua universalidade e a paz como marca do Reino.
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
O evangelho de Lucas 10,1-9, com sua ênfase na missão dos setenta e dois enviados como cordeiros entre lobos, encontra complementos nos textos paulinos que aprofundam a natureza da missão cristã. Em 2 Coríntios 12,9-10, Paulo destaca que a força de Deus se aperfeiçoa na fraqueza, ecoando a vulnerabilidade dos discípulos enviados sem recursos, mas confiantes na providência. Em Romanos 10,14-15, Paulo sublinha a necessidade de pregadores para que a fé seja despertada, complementando a urgência da proclamação do Reino em Lucas, ao explicar como a mensagem chega aos corações. Em Efésios 6,15, a imagem dos pés calçados com a “prontidão do evangelho da paz” reforça a paz proclamada pelos discípulos em Lucas, mas a situa no contexto da armadura espiritual contra forças malignas, um aspecto não explicitado no evangelho. Finalmente, em Filipenses 2,15-16, Paulo exorta os cristãos a brilharem como luzes no mundo, segurando a palavra da vida, o que amplia a ideia lucana de curar e anunciar, destacando o impacto transformador da missão na sociedade.