SEXTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA


Féria de 3ª Classe

DIA DE ABSTINÊNCIA

Comemoração de S. Isidoro

(c. 560 – 4 de abril de 636) Foi um bispo, confessor e Doutor da Igreja, nascido em Cartagena, na Hispânia visigótica, e falecido em Sevilha, onde serviu como arcebispo por mais de três décadas. Educado por seu irmão Leandro, também bispo, Isidoro destacou-se como um dos maiores eruditos de sua época, contribuindo para a conversão dos visigodos do arianismo ao catolicismo e presidindo o Concílio de Toledo em 633. Canonizado em 1598 por Clemente VIII e declarado Doutor da Igreja em 1722 por Inocêncio XIII, ele fundou escolas e seminários, promovendo a educação e a disciplina eclesiástica. Sua vida espiritual foi marcada por profunda humildade, caridade e devoção à oração, penitência e meditação, influenciando a cultura cristã medieval. Sua obra mais célebre, Etymologiae (Etimologias), é considerada a primeira enciclopédia cristã, compilando o conhecimento da antiguidade em 20 livros que abrangem temas como teologia, gramática, astronomia e agricultura. Um texto representativo é: "Deus não fez todas as coisas do nada: algumas foram baseadas em alguma coisa e outras do nada. Deus criou o mundo do nada, como também os anjos e as almas"

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Sl 18, 15| ib., 2)

Meditátio cordis mei in conspéctu tuo semper... Os pensamentos do meu coração estarão sempre em vossa presença, ó Senhor, meu Auxílio e meu Redentor. Sl. Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.

Epístola (3 Reis 17, 17-24)

Naqueles dias, adoeceu o filho de uma mulher, mãe de família, e tão grande era a sua fraqueza que não havia nele respiração. Disse ela pois, a Elias: Que há entre ti e mim, homem de Deus? Vieste porventura a mim, para me lembrares os meus pecados e matares o meu filho? E disse-lhe Elias: Dá-me o teu filho. Tomando-o no seu colo, levou-o ao aposento em que morava, pondo-o sobre o seu leito. E clamando ao Senhor, disse: Senhor, Deus meu, por que afligistes esta viúva que me sustenta, chegando ao ponto de deixardes morrer o seu filho? Estendendo-se em seguida, por três vezes sobre o menino, disse ao Senhor, em oração: Senhor, Deus meu, fazei, eu Vos suplico, que a alma deste menino volte a seu corpo. E ouviu, o Senhor, a voz de Elias: a alma do menino a ele voltou e ele ressuscitou. Tomando o menino, Elias desceu do quarto ao andar térreo da casa e entregando-o à mãe dele, disse-lhe: Eis que o teu filho vive. Respondeu a mulher a Elias: Reconheço agora, por esta ação, que és um homem de Deus e que a palavra do Senhor em tua boca é verdadeira.

Evangelho (Jo 11, 1-45)

Naquele tempo, um homem chamado Lázaro estava doente em Betânia, aldeia de Maria, e de Marta, sua irmã. (Maria era aquela que ungira o Senhor com bálsamo e Lhe enxugara os pés com seus cabelos, e cujo irmão, Lázaro, adoecera.) Suas irmãs enviaram a Jesus um recado, dizendo: Senhor, aquele a quem amais, está enfermo. Ouvindo isto, Jesus disse-lhes: Esta enfermidade não é mortal, porém é para a glória de Deus e para que seja glorificado por ela o Filho de Deus. Ora, Jesus amava a Marta, a sua irmã Maria, e a Lázaro. Tendo sabido que este enfermara, ficou entretanto ainda dois dias no mesmo lugar. Só então, disse a seus discípulos: Voltemos à Judeia, novamente. Disseram-Lhe os discípulos: Mestre, não queriam os judeus Te lapidar e queres voltar para -lá? Jesus respondeu: Não tem o dia doze horas? Se alguém caminhar de dia não se magoa, porque vê a luz deste mundo. Se no entanto caminhar de noite, magoar-se-á, porque lhe falta a luz. Falando assim, após estas palavras disse: Lázaro, nosso amigo, dorme; porém, eu irei, e do sono o despertarei. Responderam os discípulos: Senhor, se ele dorme, será salvo. Jesus lhes falara, no entanto, de sua morte, porém eles julgaram que Ele falasse do descanso do sono. Então Jesus lhes disse, claramente: Lázaro morreu, e eu me alegro que lá não estivesse, por vossa causa, para que acrediteis. Vamos, porém, até ele. Disse então Tomé, chamado Dídimo, aos companheiros: Vamos também nós, e morramos com Ele! Chegou Jesus, e aconteceu que Lázaro já estava no sepulcro, havia quatro dias. (Estava Betânia quase a quinze estádios de Jerusalém - cerca de 3 km.) Muitos eram os judeus que haviam vindo consolar a Marta e Maria, por causa de seu irmão. Marta, logo que soube da vinda de Jesus, correu a seu encontro; Maria, porém, ficou em casa, sentada. Disse Marta a Jesus: Senhor, se estivésseis aqui, meu irmão não estaria morto. Sei, porém, que ainda agora,a tudo que pedirdes a Deus, Ele vo-lo dará. Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará. Disse-lhe Marta: Sei que ressuscitará na ressurreição do dia do Juízo. Jesus lhe disse: Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crer em mim, mesmo que morto esteja, viverá; e qualquer que viva e creia em mim, jamais morrerá. Crês isto? E ela: Sim, Senhor, creio que sois o Cristo, o Filho de Deus vivo, que a este mundo veio. Depois destas palavras, retirou-se ela, e chamou a Maria, sua irmã, em voz baixa, dizendo: O Mestre aí está e te chama. Ouvindo isto, Maria depressa se levantou e foi ter com Ele; porque Jesus ainda não entrara na aldeia, permanecendo no lugar em que Marta O encontrara. Os judeus, no entanto, que estavam em casa com ela, consolando-a, vendo Maria levantar-se e sair, seguiram-na, dizendo: Ela vai ao sepulcro para chorar ali. Quando Maria chegou onde estava Jesus, vendo-O, lançou-se a seus pés e disse-Lhe: Senhor, se estivésseis aqui, meu irmão não estaria morto. Jesus então, vendo-a em lágrimas e os judeus que haviam vindo com ela, a chorar, comoveu-se e perturbando-se em seu íntimo, disse: Onde o pusestes? Disseram-Lhe: Senhor, vinde e vede. E Jesus chorou. Os judeus disseram então: Vede como Ele o amava. Alguns porém insinuaram: Não poderia Este que abriu os olhos do cego de nascença, fazer com que Lázaro não tivesse morrido? Jesus estremeceu novamente em si mesmo, e aproximou-se do sepulcro. Era uma gruta, e uma lápide fora posta sobre ela. Replicou-Lhe Marta, a irmã daquele que morrera: Senhor, já cheira mal, porque há quatro dias que está aqui. Respondeu-lhe Jesus: Não te disse que se acreditares, verás a glória de Deus? Tiraram pois a lápide. E Jesus elevando os olhos aos céus, disse: Pai, graças Te dou, porque me ouviste. Sabia eu que sempre me ouves, porém se assim falei, foi por causa do povo que me cerca, a fim de que creia que foste Tu quem me enviou. Tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! E logo saiu o que estivera morto, ligados os pés e as mãos por faixas e envolta a cabeça em um sudário. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir. Muitos dos judeus que tinham vindo com Maria e Marta, e haviam visto o milagre que Jesus fizera, n’Ele acreditaram.

Homilias

Santo Agostinho (Doutor da Igreja Católica, Sermão 49, sobre João 11) - A ressurreição de Lázaro é um sinal sublime da divindade de Cristo, que não apenas prefigura sua própria vitória sobre a morte, mas também manifesta o poder de Deus que transcende os limites da natureza humana. O choro de Jesus revela a profundidade de sua humanidade, unida à divindade, mostrando que ele assume nossas dores e as transforma em esperança. A demora de dois dias antes de ir a Betânia não é negligência, mas um desígnio para que a glória de Deus se revele mais plenamente, pois o milagre após quatro dias sepultado dissipa qualquer dúvida de que Lázaro estava verdadeiramente morto. Cristo, ao dizer "Eu sou a ressurreição e a vida", proclama-se a fonte eterna de vida, oferecendo aos fiéis a certeza de que a morte física não é o fim, mas um passagem para a vida eterna. Este evento é um chamado à fé, para que os corações endurecidos se abram à verdade de que somente em Cristo há salvação, e sua voz, que despertou Lázaro, continua a chamar os mortos espirituais à conversão. A pedra removida do túmulo simboliza a libertação dos pecados que aprisionam a alma, e as faixas desatadas representam a liberdade concedida pela graça divina.
 
São Tomás de Aquino (Suma Teológica, Parte III, Questão 53-56) - A ressurreição de Lázaro é uma manifestação do poder divino de Cristo, que, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, opera milagres para confirmar sua missão redentora. Este ato não é apenas um retorno à vida mortal, mas um sinal da ressurreição gloriosa que Cristo realizará no fim dos tempos, quando os corpos dos justos serão glorificados. A permanência das cicatrizes no corpo de Cristo após sua própria ressurreição, que podemos inferir como modelo, indica que tais marcas são sinais de vitória e não de imperfeição, e assim também os mártires carregarão suas chagas como testemunho de glória. A demora de Jesus em atender ao chamado das irmãs demonstra que a providência divina age segundo um plano superior, ordenado à maior glorificação de Deus e ao fortalecimento da fé dos discípulos. Quando Cristo diz "Eu sou a ressurreição e a vida", estabelece-se como a causa eficiente e exemplar da ressurreição universal, pois nele reside a vida em plenitude, que ele comunica aos que creem. O milagre é, portanto, um prenúncio do triunfo final sobre a morte, assegurando que a vida eterna é o destino dos que estão unidos a ele pela fé e pela graça.
 
São Bernardo de Claraval, Sermão sobre a Ressurreição de Lázaro - A ressurreição de Lázaro é uma revelação do amor de Cristo, que se compadece da miséria humana e deseja elevar a alma à contemplação divina. O choro de Jesus não é apenas por Lázaro, mas por todos os homens mortos no pecado, pois ele veio para resgatar o que estava perdido. A espera de quatro dias simboliza as quatro etapas da queda humana – ignorância, concupiscência, fraqueza e malícia – que Cristo supera ao chamar Lázaro de volta à vida, mostrando que nenhum abismo é profundo demais para seu poder salvífico. A voz de Cristo que ordena "Lázaro, vem para fora" é a mesma que ressoa no coração dos fiéis, convidando-os a abandonar o túmulo do pecado e a viver para Deus. Este milagre é uma antecipação da ressurreição espiritual que cada alma pode experimentar na conversão, e um apelo para que os homens se unam a Cristo na caridade, pois é pelo amor que se participa da vida eterna. A pedra removida é a dureza do coração que deve ser quebrada pela fé, e as faixas desatadas simbolizam a libertação das paixões terrenas, conduzindo à união mística com Deus.