24 ABRIL - 5A-FEIRA DE PÁSCOA


Introito (Sab 10, 20-21 | Sl 97, 1)
Victrícem manum tuam, Dómine, laudavérunt páriter, allelúia... Todos juntos louvaram, ó Senhor, a vossa mão vitoriosa, aleluia: porque a Sabedoria abriu a boca dos mudos e tornou eloquentes as línguas das crianças, aleluia, aleluia. Sl. Cantai ao Senhor um cântico novo; porque fez coisas admiráveis.

Epístola (At 8, 26-40)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.Naqueles dias, disse um Anjo do Senhor a Filipe: Levanta-te e vai em direção ao sul, no caminho que leva de Jerusalém até Gaza pelo deserto. E ele levantou-se e partiu. E eis que um homem etíope, camareiro e favorito de Candace, rainha da Etiópia e administrador de todos os seus tesouros, viera adorar em Jerusalém. Ele voltava sentado no seu carro e lia o profeta Isaías. Disse pois, o Espírito a Filipe: Aproxima-te e vai junto a esse carro. Correu então Filipe, e ouviu o etíope ler o profeta Isaías. E disse-lhe: Podes tu compreender o que lês? Ele respondeu: Como o poderia, se ninguém mo explica? E pediu a Filipe para subir e se assentar a seu lado. Ora, o trecho da Escritura que lia era este: Assim como a ovelha é levada ao matadouro e como um cordeiro, mudo ante Aquele que o tosquia, Ele não abriu a boca. Por sua humilhação, consumou-se o seu julgamento. Quem poderá descrever sua geração, pois sua vida será ceifada da terra? O camareiro, respondendo a Filipe, disse: Por favor, ensina-me: De quem o Profeta fala isto? De si mesmo ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a boca e começando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe o Evangelho de Jesus. E indo pelo caminho encontraram água, dizendo o camareiro: Eis aqui água; que impede seja eu batizado? Disse então Filipe: Se crês de todo o coração, isto é possível. Ele respondeu: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E fez o carro parar; e descendo ambos à água, Filipe batizou o camareiro. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe e o camareiro não mais o viu. Continuou, porém, cheio de alegria, o seu caminho. Filipe achou-se em Azot, e por onde passava, ensinava o Evangelho em todas as cidades (até chegar a Cesareia ), tornando conhecido o Nome de N. S. Jesus Cristo.

Evangelho (Jo 20, 11-18)
Naquele tempo, Maria [Madalena] permanecia na parte de fora do sepulcro, chorando. Por entre lágrimas, ela curvou-se e olhou para dentro do sepulcro. E viu dois Anjos vestidos de branco, sentados, um à cabeceira, e outro aos pés do sítio onde fora depositado o corpo de Jesus. Eles lhe disseram: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque levaram meu Senhor e não sei onde O puseram. Dizendo isto, ela voltou-se e viu Jesus de pé, Amas não conheceu que era Ele. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Julgando que era o jardineiro, disse ela: Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste; e eu O irei buscar. Jesus lhe disse: Maria! Voltando-se, ela exclamou: Rabboni (isto é, Mestre)! Disse-lhe Jesus: Não me toques, porque eu ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos, e dize-lhes: Eu subo para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Saiu Maria Madalena a anunciar aos discípulos: Eu vi o Senhor e eis as palavras que Ele me disse.

Homilias e Explicações Teológicas
A narrativa do encontro de Filipe com o eunuco etíope revela a ação do Espírito Santo que guia a Igreja na missão de proclamar a Cristo, mesmo aos que estão fora do povo eleito, mostrando que a salvação é universal e que a Escritura encontra seu cumprimento em Jesus; já o encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado sublinha a transformação do luto em alegria pela vitória sobre a morte, onde Cristo, ao chamá-la pelo nome, estabelece uma relação pessoal que a impulsiona a ser testemunha da ressurreição. São Gregório Magno ensina que a obediência de Filipe ao Espírito, mesmo sem compreender plenamente o propósito, é um modelo de humildade e confiança na providência divina, que conduz à conversão de corações distantes (Homiliae in Evangelia, 29). Santo Agostinho destaca que o eunuco, ao ler Isaías sem entender, representa a humanidade que busca a verdade, mas necessita da Igreja, simbolizada por Filipe, para revelar Cristo como o Cordeiro que tira o pecado do mundo (Sermo 315). São João Crisóstomo observa que a prontidão do eunuco em aceitar o batismo ilustra a força da graça divina, que não depende da origem ou condição social, mas da disposição do coração (Homiliae in Acta Apostolorum, 19). Sobre Maria Madalena, São Bernardo de Claraval afirma que seu encontro com Cristo ressuscitado é o ápice da intimidade espiritual, onde o reconhecimento pessoal por parte de Jesus transforma o discípulo em apóstolo, enviando-o a proclamar a Boa Nova (Sermo in Resurrectione Domini, 7). Santo Tomás de Aquino sublinha que a ressurreição de Cristo, manifestada a Maria, é o fundamento da esperança cristã, pois demonstra que a vida nova em Cristo transcende a morte e o pecado, chamando todos à comunhão com Deus (Summa Theologiae, III, q. 55, a. 2).

Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos
O relato de João 20,11-18 sobre Maria Madalena difere dos demais evangelhos por enfatizar o encontro pessoal e íntimo com Jesus, que a chama pelo nome, destacando sua eleição como a primeira testemunha da ressurreição. Em Mateus 28,1-10, Maria Madalena e outra Maria encontram um anjo que anuncia a ressurreição, e Jesus aparece a elas com uma saudação coletiva, sem o diálogo pessoal presente em João. Marcos 16,1-8 menciona Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, mas o relato termina com elas fugindo do sepulcro em temor, sem um encontro direto com Jesus no texto principal. Lucas 24,1-12 relata que as mulheres, incluindo Maria Madalena, recebem a notícia da ressurreição por dois anjos, e embora informem os discípulos, não há menção de um encontro com Jesus no sepulcro, apenas uma aparição posterior aos discípulos de Emaús. João, portanto, singulariza Maria Madalena como a primeira a ver e dialogar com o Ressuscitado, destacando a relação pessoal e sua missão de anunciar a ressurreição aos discípulos, um papel não explicitado nos outros evangelhos.

Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
O evangelho de João 20,11-18, centrado no encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado, encontra complementos significativos nos escritos paulinos, que aprofundam os efeitos teológicos da ressurreição. Em 1 Coríntios 15,12-20, Paulo enfatiza que a ressurreição de Cristo é a base da fé cristã, garantindo a ressurreição dos mortos, um aspecto não abordado diretamente no relato de João, que foca na experiência pessoal de Maria. Em Romanos 6,4-11, Paulo explica que os cristãos, pelo batismo, participam da morte e ressurreição de Cristo, vivendo uma nova vida em Deus, conectando-se à transformação implícita na missão de Maria como anunciadora. Em Filipenses 3,10-11, Paulo expressa o desejo de conhecer o poder da ressurreição de Cristo, um tema que ressoa com a intimidade do encontro de Maria, mas que Paulo estende à participação nos sofrimentos de Cristo, algo não explicitado em João. Assim, os textos paulinos ampliam a compreensão da ressurreição como um evento cósmico e transformador, enquanto João destaca sua manifestação pessoal e missionária.