21 ABRIL - 2A-FEIRA DE PÁSCOA


Introito (Sl 138, 18 e 5-6 |Sl 104, 1)
Introdúxit vos Dóminus in terram fluéntem lac et mel, allelúia... O Senhor vos introduziu na terra onde corre o leite e o mel, aleluia; a lei do Senhor esteja pois, sempre em vossa boca, aleluia, aleluia. Sl. Louvai ao Senhor e invocai o seu Nome; anunciai as suas obras entre as nações.

Epístola (At 10, 37-43)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.Naqueles dias, levantou-se Pedro, no meio do povo, e disse: Meus irmãos, vós sabeis o que aconteceu por toda a Judeia, começando pela Galileia, depois do batismo que João pregou. Sabeis, como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o dom dos milagres a Jesus de Nazaré, e como Este andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do demônio, porque Deus era com Ele, E nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém. Eles O mataram, pregando-O no madeiro. Deus, porém, O ressuscitou ao terceiro dia, e fez com que Ele se mostrasse não a todo o povo, mas às testemunhas previamente escolhidas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois que ressurgiu dos mortos. E mandou-nos pregar ao povo e dar testemunho de que Ele é O que por Deus foi constituído Juiz dos vivos e dos mortos. Dão testemunho d’Ele todos os Profetas, que todos os que n’Ele creem recebem por seu Nome a remissão dos pecados.

Evangelho (Lc 24, 13-35)
Naquele tempo, caminhavam dois discípulos de Jesus, no mesmo dia [da Ressurreição] para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E falavam entre si de tudo aquilo que se havia passado. Ora, sucedeu que, enquanto conversavam e discutiam entre si, o mesmo Jesus se aproximou, indo com eles; mas os olhos deles estavam como que velados, de modo que não O reconheceram. E Ele lhes perguntou: Que conversas são essas que trocais pelo caminho, e por que estais tristes? Respondeu-Lhe um deles, chamado Cléofas: Só tu és forasteiro em Jerusalém e não soubeste do que ali se passou nestes dias? E Ele disse: Que foi? E responderam: Acerca de Jesus de Nazaré, que foi um Profeta poderoso em obras e em palavras, diante de Deus e de todo o povo; e da maneira pela qual os sumos sacerdotes e os nossos magistrados O entregaram para ser condenado à morte e O crucificaram. Ora, nós esperávamos que Ele fosse O que resgataria Israel, e agora, hoje, estamos no terceiro dia depois destes acontecimentos! É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram, pois, ao amanhecer, foram ao sepulcro e não tendo encontrado o seu Corpo, voltaram, dizendo que tinham tido uma aparição de Anjos, os quais afirmavam que Ele vive. E alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam-no tal como as mulheres haviam dito, porém a Ele não encontraram. Então disse-lhes Jesus: Ó insensatos, como sois vagarosos em crer tudo o que anunciaram os Profetas! Porventura, não era necessário que o Cristo padecesse estas coisas e que assim entrasse em sua glória? E começando por Moisés e por todos os Profetas, explicava-lhes o que a Ele se referia em todas as Escrituras. Entretanto eles se aproximaram da aldeia para onde se dirigiam; e Jesus fez como se quisesse ir para mais longe. Eles porém insistiram com Ele, dizendo: Ficai conosco porque já se faz tarde e o dia está em declínio. E Jesus entrou com eles. E aconteceu, que estando sentado com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o e partiu-o e o dava a eles. Então abriram-se-lhes os olhos e O reconheceram. Ele porém desapareceu aos seus olhos. E disseram entre si: Não estava o nosso coração a arder, enquanto Ele falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? E levantaram-se na mesma hora, voltando para Jerusalém onde acharam reunidos os onze e os que estavam com eles. E os discípulos lhes disseram: Verdadeiramente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão. E eles contaram o que lhes sucedera no caminho e como O haviam reconhecido no partir do pão.

Homilias e Explicações Teológicas

A narrativa de Atos 10,37-43 e Lucas 24,13-35 revela a centralidade da Ressurreição como fundamento da pregação apostólica e da experiência cristã, unindo o testemunho público de Pedro com o encontro íntimo dos discípulos de Emaús. Santo Agostinho ensina que a pregação de Pedro reflete a universalidade da salvação, pois o chamado aos gentios, como Cornélio, manifesta que Cristo é o juiz dos vivos e dos mortos, unindo todos os povos sob sua misericórdia, não por méritos próprios, mas pela graça divina (Santo Agostinho, Sermões sobre Atos dos Apóstolos, 10). São Gregório Magno interpreta o caminho de Emaús como uma alegoria da alma que, inicialmente cega pela dúvida, é iluminada pelo Cristo que se revela na fração do pão, significando a Eucaristia como o ápice do reconhecimento da presença divina (São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, Homilia 23). São Tomás de Aquino destaca que a Ressurreição, proclamada por Pedro e experimentada em Emaús, é a causa eficiente da remissão dos pecados, pois Cristo, ao morrer e ressuscitar, restaura a justiça original, permitindo que a fé no Ressuscitado seja o princípio da vida nova (São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 56, a. 2). São João Crisóstomo sublinha que a humildade de Cristo, que se apresenta como peregrino em Emaús, ensina que a glória da Ressurreição não elimina a proximidade do Salvador, que se adapta à fraqueza humana para elevar a alma à verdade (São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de Lucas, 24). São Beda, o Venerável, conecta os textos ao afirmar que a pregação de Pedro e o encontro de Emaús ilustram a dupla missão da Igreja: proclamar publicamente a fé e nutrir os corações dos fiéis na intimidade do mistério pascal (São Beda, Comentário aos Atos dos Apóstolos, 10).

Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos

O relato de Lucas 24,13-35, o encontro dos discípulos de Emaús, apresenta elementos únicos e complementares em relação aos outros Evangelhos. Diferentemente de Mateus 28,16-20, que foca na missão universal dada aos Onze na Galileia, Lucas enfatiza a experiência pessoal e gradual dos discípulos, cuja fé é reacendida pelo diálogo com o Ressuscitado e culmina na fração do pão, um claro simbolismo eucarístico ausente em Mateus. Em Marcos 16,12-13, uma versão abreviada do mesmo episódio aparece, mas sem detalhes sobre a conversa ou o reconhecimento na fração do pão, destacando apenas a incredulidade inicial dos discípulos. João 20,19-29, por sua vez, narra aparições em Jerusalém, com ênfase no corpo glorioso de Cristo e na fé de Tomé, mas não menciona o contexto de uma jornada ou a hospitalidade dos discípulos, aspectos centrais em Lucas. Além disso, João 21,1-14 apresenta um encontro à beira do mar com uma refeição, mas o foco está na missão de Pedro, enquanto Lucas prioriza a transformação interior dos discípulos de Emaús. Assim, Lucas 24,13-35 se distingue pela narrativa de um processo de reconhecimento espiritual mediado pela Escritura e pela Eucaristia, complementando as aparições mais missionárias ou apologéticas dos outros Evangelhos.

Síntese Comparativa com Textos de São Paulo

O evangelho de Lucas 24,13-35 encontra ecos complementares nas epístolas paulinas, que aprofundam teologicamente a experiência da Ressurreição. Em 1 Coríntios 15,3-8, Paulo lista as aparições do Ressuscitado, incluindo a si mesmo, mas, ao contrário de Lucas, foca na continuidade da tradição apostólica e na Ressurreição como fundamento da fé, sem narrar o aspecto relacional do encontro com Cristo. Em Romanos 6,4-11, Paulo explora a Ressurreição como participação mística dos fiéis, que morrem e ressuscitam com Cristo no batismo, um tema não explicitado em Lucas, onde o foco é o reconhecimento de Cristo vivo na Eucaristia. Filipenses 3,10-11 destaca a comunhão com os sofrimentos de Cristo para alcançar a Ressurreição, contrastando com a ênfase de Lucas na alegria e na surpresa dos discípulos ao encontrar o Ressuscitado. Em Gálatas 2,20, Paulo fala de Cristo vivendo no fiel, um aspecto que complementa a intimidade do encontro de Emaús, mas com uma perspectiva mais interior e existencial. Assim, enquanto Lucas 24,13-35 narra a experiência concreta de reconhecer Cristo na Escritura e no pão, as epístolas de Paulo oferecem uma reflexão teológica sobre a Ressurreição como transformação espiritual e fundamento da vida cristã.