17 ABRIL - 5A-FEIRA SANTA - NA CEIA DO SENHOR


Introito. Gál 6, 14. 
Nós, porém, devemos gloriar-nos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo: nela está a nossa salvação, vida e ressurreição; por ele fomos salvos e libertados. Salm. 66, 2. Que Deus tenha piedade de nós e nos abençoe; que faça resplandecer sobre nós o seu rosto e tenha piedade de nós. 

Epístola I Co 11,20-32 
São Paulo aos Coríntios. Quando pois vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque cada um toma por si mesmo a sua ceia, comendo; e um tem fome, e outro está embriagado. Não tendes porventura casas para comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que não têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto vos não louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei, que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e dando graças, o partiu, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo, que por vós será entregue; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também tomou o cálice, depois de cear, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão, e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para si mesmo juízo, não discernindo o corpo do Senhor. Por isso há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas quando somos julgados, somos castigados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.

João 13:1-15
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. E acabada a ceia, tendo o diabo já posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse, sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que viera de Deus, e que para Deus ia, levantou-se da ceia, e pôs de lado os seus vestidos; e tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chegou pois a Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? Respondeu-lhe Jesus, e disse-lhe: O que eu faço, tu não o sabes agora, mas sabê-lo-ás depois. Disse-lhe Pedro: Não me lavarás os pés jamais. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não terás parte comigo. Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. Disse-lhe Jesus: O que está lavado não necessita senão de lavar os pés, porque está todo limpo; e vós estais limpos, mas não todos. Porque ele sabia quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos. Depois que lhes lavou os pés, e tomou os seus vestidos, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se eu pois, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.

Homilias e Explicações Teológicas
A Ceia do Senhor, conforme descrita em 1 Coríntios 11,20-32, revela a dignidade do sacramento eucarístico como memorial vivo da Paixão, exigindo dos fiéis um exame de consciência para participar com reverência, pois a indigna recepção profana o próprio Corpo de Cristo, trazendo julgamento espiritual (Santo Agostinho, Sermão 227). A humildade manifestada por Jesus no lava-pés em João 13,1-15 simboliza a purificação interior necessária para a comunhão eucarística, ensinando que o serviço mútuo é a essência do discipulado cristão, refletindo a kenosis divina (São João Crisóstomo, Homilia sobre João 70). A conexão entre os textos reside na exigência de um coração purificado: enquanto Paulo enfatiza o discernimento espiritual para evitar a condenação, João apresenta Cristo como modelo de humildade que capacita o fiel a viver a caridade, fundamento da verdadeira participação na Eucaristia (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre 1 Coríntios). A profundidade do lava-pés transcende o ato físico, sendo um chamado à imitação de Cristo, que se faz servo para elevar o homem à dignidade divina, enquanto a Eucaristia, como sacramento, perpetua essa união transformadora (São Boaventura, Comentário sobre o Evangelho de João).

Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos
O relato do lava-pés em João 13,1-15 é exclusivo desse evangelho, sem paralelo direto nos sinóticos, que enfocam a instituição da Eucaristia durante a Última Ceia. Em Mateus 26,26-29, a narrativa da Ceia destaca a Eucaristia como o novo pacto no sangue de Cristo, complementando João ao explicitar o caráter sacrifical do rito, ausente no lava-pés. Marcos 14,22-25 reforça essa dimensão, enfatizando a Eucaristia como memorial da redenção, um aspecto não abordado diretamente em João 13, que prioriza a humildade e o serviço. Lucas 22,14-20 adiciona o mandato de perpetuar a Eucaristia (“fazei isto em memória de mim”), conectando o rito à continuidade apostólica, enquanto João foca no exemplo ético de Cristo como servo. Além disso, Lucas 22,24-27 registra uma disputa entre os discípulos sobre quem seria o maior, seguida do ensino de Jesus sobre a liderança como serviço, ecoando o tema da humildade do lava-pés, mas sem o ato simbólico. Assim, os sinóticos complementam João ao detalhar o contexto eucarístico e o mandato litúrgico, enquanto João aprofunda a dimensão ética do discipulado.

Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
O evangelho de João 13,1-15, centrado no lava-pés, encontra complementação em textos paulinos que ampliam a teologia do serviço e da unidade cristã. Em Filipenses 2,5-11, Paulo descreve a kenosis de Cristo, que se humilhou até a morte, oferecendo um fundamento teológico para o ato de Jesus ao lavar os pés, que João apresenta como exemplo prático de humildade. Em Gálatas 5,13-14, Paulo exorta os cristãos a servirem uns aos outros por amor, cumprindo a lei, o que ecoa o mandato de Jesus em João 13,14-15 de lavar os pés uns dos outros, mas amplia o conceito para a vida comunitária. Em 1 Coríntios 12,12-27, a imagem do Corpo de Cristo reforça a interdependência dos membros da Igreja, complementando o lava-pés ao destacar que o serviço mútuo fortalece a unidade eclesial, um aspecto implícito em João. Finalmente, em Romanos 12,1-2, Paulo chama os fiéis a oferecerem suas vidas como sacrifício vivo, um chamado que ressoa com a entrega de Jesus no lava-pés, mas enfatiza a transformação espiritual contínua do cristão. Esses textos paulinos enriquecem João ao conectarem o serviço ao amor, à unidade e à vida sacrificial.