11/abr
S. Leão I (magno), Papa, Confessor e Doutor


🦁São Leão Magno, aclamado Doutor da Igreja, foi um farol de ortodoxia e liderança em um século V marcado por invasões bárbaras e profundas crises teológicas. Eleito Papa em 440, seu pontificado foi um dos mais importantes da antiguidade cristã, notável pela defesa vigorosa da fé e pela consolidação da autoridade papal. Sua mais célebre contribuição foi o "Tomo a Flaviano", uma carta dogmática que definiu com clareza a doutrina das duas naturezas de Cristo, divina e humana, unidas em uma só Pessoa. Este documento foi a base para as decisões do Concílio de Calcedônia em 451, onde os padres conciliares exclamaram: "Pedro falou pela boca de Leão!". Além de seu gênio teológico, São Leão demonstrou uma coragem pastoral extraordinária. Em 452, foi ao encontro de Átila, o Huno, e o persuadiu a poupar Roma da destruição. Três anos depois, embora não tenha conseguido impedir o saque de Roma pelos Vândalos, negociou com Genserico para que a cidade não fosse incendiada e sua população massacrada. Pastor zeloso e administrador sábio, seus sermões revelam uma profunda espiritualidade e um amor ardente por Cristo e por sua Igreja. Faleceu em 461, deixando um legado indelével de fé, coragem e amor pastoral.

📜Epístola (I Pe 5, 1-4, 10-11)

✉️Caríssimos: Aos anciãos entre vós exorto eu, ancião como eles e testemunha dos padecimentos de Cristo, como também companheiro na glória que se há de manifestar. Apascentai o rebanho de Deus que vos está confiado; tende cuidado dele, não constrangidos, mas de bom grado, segundo Deus, não por amor de lucro vil, mas por dedicação, não como que exercendo domínio sobre os Eleitos, mas fazendo-vos de coração modelos do rebanho. Quando então aparecer o Supremo Pastor, recebereis a coroa imarcessível da glória. O Deus de toda a graça, que no Cristo Jesus nos chamou para a sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, vos aperfeiçoará, fortificará e consolidará. A Ele a glória e o poder por todos os séculos. Amém.

📖Evangelho (Mt 16, 13-19)

✨Naquele tempo, veio Jesus para os lados de Cesareia de Filipe, e interrogou os seus discípulos: Na opinião dos homens, quem é o Filho do homem? E eles responderam: Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que Jeremias ou algum dos Profetas. Disse-lhes Jesus: E vós, quem julgais que eu sou? Tomando a palavra, Simão Pedro disse: Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo. E respondendo, Jesus disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Bar Jonas [filho de Jonas], porque não foi a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. E por isso te digo que és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus. E tudo que ligares sobre a terra, será ligado nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra, será desligado nos céus.

🤔Reflexões

🔑O Evangelho de hoje nos transporta para o momento fundante da Igreja, a confissão de Pedro em Cesareia de Filipe. A pergunta de Cristo, "E vós, quem julgais que eu sou?", não busca uma mera opinião, mas uma profissão de fé que nasce da revelação divina. A resposta de Pedro, "Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo", não é fruto de sua inteligência ou percepção humana, mas um dom do Pai. É sobre esta fé, revelada e confessada, que Cristo edifica a Sua Igreja. A "pedra" (petra) não é apenas a pessoa de Simão, mas a fé que ele proclama. Ao dar-lhe as "chaves do Reino dos céus", Jesus confere a Pedro e a seus sucessores uma autoridade única para governar, santificar e ensinar, um poder que, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, "significa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja" (CIC 553). São Leão Magno compreendeu profundamente esta verdade, exercendo o ministério petrino não como um poder terreno, mas como um serviço à verdade de Cristo.

🐑A Epístola de São Pedro ecoa perfeitamente a responsabilidade que acompanha a autoridade recebida no Evangelho. O próprio Príncipe dos Apóstolos, a quem foram dadas as chaves, instrui os "anciãos" (os presbíteros e bispos) a pastorear o rebanho "não por força, mas de bom grado... não como dominadores, mas como modelos". A autoridade na Igreja não é tirania, mas serviço abnegado a exemplo de Cristo, o "Supremo Pastor". São Leão Magno é o modelo acabado deste pastorado. Ele não usou a autoridade da Sé de Roma para se impor, mas para servir à unidade da fé, defendendo a sã doutrina contra as heresias que ameaçavam dispersar o rebanho. Ao enfrentar Átila desarmado, ele não agiu com poderio militar, mas com a autoridade moral de quem representa Aquele a quem todo poder foi dado no céu e na terra, tornando-se um verdadeiro "modelo para o rebanho".

🪨Santo Agostinho, ao meditar sobre esta passagem, oferece uma visão que aprofunda a nossa compreensão. Ele explica que Cristo, ao dizer "tu és Pedro", dá-lhe um nome que reflete a sua fé na Pedra, que é o próprio Cristo. "Sobre esta Pedra, que tu confessaste, sobre esta Pedra que reconheceste ao dizer: ‘Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo’, sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja; quer dizer, sobre mim mesmo, o Filho de Deus vivo, edificarei a minha Igreja. Edificarei a ti sobre mim, e não a mim sobre ti" (Santo Agostinho, Sermão 76, 1). Esta interpretação não nega o primado de Pedro, mas o enraíza em Cristo. O Papa é o Vigário de Cristo, sua autoridade é vicária e seu fundamento é inabalável somente quando está firmemente apoiado em Cristo. São Leão Magno viveu este mistério de forma exemplar. Sua força no Concílio de Calcedônia não veio de sua pessoa, mas de sua fiel adesão à verdade sobre Cristo. Ele foi "Leão" (forte) porque estava fundado sobre a "Pedra" (Cristo), e assim, como Pedro, tornou-se a rocha visível que confirma os irmãos na fé revelada pelo Pai.