04 MAIO - II DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA


Introito
Salmo 32, 5-6 Misericórdia Dómini plena est terra, allelúja... A misericórdia do Senhor enche a terra, aleluia: pela palavra do Senhor os céus foram firmados, aleluia, aleluia. Salmo ibid., 1 Exultai, justos, no Senhor: aos retos convém o louvor.

Epístola 1 Pedro 2, 21-25
Caríssimos: Cristo sofreu por nós, deixando-vos um exemplo, para que sigais suas pegadas. Ele não cometeu pecado, nem se encontrou engano em sua boca: quando era insultado, não insultava; quando sofria, não ameaçava; mas entregava-se ao que o julgava injustamente. Ele mesmo levou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça: por suas chagas fostes curados. Pois éreis como ovelhas errantes, mas agora vos convertestes ao pastor e bispo de vossas almas.

Evangelho João 10, 11-16
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, que não é pastor, e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo vindo, abandona as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; também estas devo conduzir, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.

Homilias e Explicações Teológicas
O mistério do sofrimento redentor de Cristo, que suporta as dores para a salvação da humanidade, revela a profundidade do amor divino que se entrega sem reservas, ensinando que a verdadeira grandeza está na humildade e no sacrifício, pois, como pastor, Ele não apenas guia, mas dá a vida para reunir em unidade aqueles que estavam dispersos (Santo Agostinho, Sermões sobre a Paixão, 46). A imagem do Bom Pastor sublinha a intimidade entre Cristo e suas ovelhas, mostrando que Ele as conhece não apenas por sua natureza, mas por uma comunhão que transcende a mera liderança, sendo um modelo de unidade para a Igreja, que deve acolher todos os povos em um só rebanho (São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 14). A obediência de Cristo ao Pai, mesmo enfrentando a cruz, manifesta a perfeita harmonia entre a vontade humana e divina, sendo um convite para que os fiéis, ao suportar tribulações, conformem suas vontades à de Deus, encontrando nisso a verdadeira liberdade (São Tomás de Aquino, Comentário à Primeira Carta de Pedro). A universalidade da missão do Pastor, que busca as ovelhas fora do aprisco, aponta para a extensão da graça divina aos gentios, mostrando que a salvação não se limita a um povo, mas abrange toda a humanidade, unida pela caridade de Cristo (São Beda, o Venerável, Comentário ao Evangelho de João).

Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos
O relato do Bom Pastor em João 10, 11-16 enfatiza a entrega voluntária de Cristo e sua relação íntima com as ovelhas, aspectos que encontram complementos nos outros evangelhos. Em Mateus 18, 12-14, a parábola da ovelha perdida destaca a busca ativa de Cristo por cada indivíduo extraviado, um elemento não explicitado em João, que foca na unidade do rebanho. Lucas 15, 4-7 reforça essa busca pessoal, mas adiciona a alegria celestial pela conversão de um pecador, sugerindo o impacto cósmico da redenção, ausente no texto joanino. Marcos 6, 34 apresenta Jesus como pastor que, movido de compaixão, ensina as multidões desorientadas, complementando João ao mostrar a liderança de Cristo também pelo ensino, não apenas pelo sacrifício. Esses textos, ao contrário de João, que centra na doação da vida e na universalidade do rebanho, destacam a iniciativa de busca, a alegria da redenção e o pastoreio através da instrução.

Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
João 10, 11-16 descreve Cristo como o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas e as reúne em unidade, tema que São Paulo complementa em suas epístolas. Em Efésios 2, 14-16, Paulo enfatiza que Cristo, ao morrer, derruba a barreira entre judeus e gentios, criando um só povo, detalhando o mecanismo da reconciliação universal apenas sugerido em João. Em Filipenses 2, 6-8, a humildade de Cristo, que se esvazia e obedece até a morte, aprofunda o aspecto da entrega voluntária do Pastor, destacando sua renúncia divina, não abordada diretamente no evangelho. Em 1 Coríntios 12, 12-13, Paulo compara a Igreja a um corpo unido pelo Espírito, expandindo a ideia do “um só rebanho” de João ao descrever a diversidade de membros funcionando em harmonia. Esses textos paulinos enriquecem o evangelho ao explicitar a reconciliação entre povos, a kenosis de Cristo e a unidade orgânica da Igreja.