Missa Sancta Maria in Sabbato IV


Introito (- |Sl 44, 2)
Salve, sancta Parens, eníxa puérpera Regem... Salve, ó Santa Mãe, em cujo seio foi gerado o Rei que governa o céu e a terra, por todos os séculos dos séculos. Sl. Exulta o meu coração em alegre canto; ao Rei dedico as minhas obras.

Leitura (Eclo 24, 14-16)
Desde o princípio e antes dos séculos fui criada; e não deixarei de existir em toda a sucessão dos tempos; na morada santa exerci perante Ele o meu ministério. Fui assim firmada em Sião, e repousei na cidade santa; e em Jerusalém está o meu poder. Arraiguei-me em um povo glorioso, e nesta porção do meu Deus, que é a sua herança. Na assembléia dos Santos, estabeleci a minha assistência.

Evangelho (Jo 19, 25-27)
Naquele tempo, estavam de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe e a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, vendo, então, sua Mãe, e perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua Mãe. E desde aquela hora o discípulo a levou para a sua casa.

Homilias e Explicações Teológicas
A Virgem Maria, em sua proximidade à cruz, manifesta a perfeita união com o sacrifício de Cristo, sendo modelo de fé que acolhe a vontade divina com coração indiviso, transformando a dor em oferta redentora para a humanidade (Santo Agostinho, Sermão 215). Sua presença silenciosa junto ao Filho crucificado revela a maternidade espiritual, que abraça todos os discípulos como filhos, configurando-a como medianeira de graça e intercessora perpétua (Santo Ambrósio, De Institutione Virginis, 7). A sabedoria divina, prefigurada no Eclesiástico, encontra nela sua morada, pois Maria é o jardim fecundo onde a graça floresce e a justiça se estabelece para as gerações (Santo Beda, o Venerável, Homilia sobre a Natividade da Virgem). O salmo, ao exaltar a beleza da palavra que transborda do coração, aponta para a Mãe de Deus como aquela que guarda e proclama a Palavra encarnada, sendo a primeira a viver plenamente para a glória de Deus (Santo Hilário de Poitiers, Comentário ao Salmo 44).

Comparação com os Demais Evangelhos
O relato de João 19, 25-27, que destaca Maria ao pé da cruz recebendo João como filho, é singular em relação aos outros evangelhos. Mateus 27, 55-56 menciona as mulheres, incluindo a Mãe de Jesus, mas não detalha sua interação com Cristo, focando na observação à distância. Marcos 15, 40-41 também cita as mulheres presentes, mas omite o diálogo entre Jesus e Maria, enfatizando apenas o acompanhamento fiel. Lucas 23, 49 refere-se genericamente aos conhecidos de Jesus, sem explicitar a presença de Maria ou o momento da entrega filial, concentrando-se na multidão e no impacto da crucificação. João, portanto, oferece uma perspectiva única ao sublinhar a maternidade espiritual de Maria, estabelecendo-a como mãe da Igreja nascente, um aspecto não abordado diretamente nos sinóticos.

Comparação com Textos de São Paulo
As leituras, especialmente João 19, 25-27, encontram eco nas epístolas paulinas, que complementam a dimensão eclesial e redentora. Em Gálatas 4, 4-5, Paulo destaca que Cristo nasceu de uma mulher sob a lei para redimir os que estavam sob a lei, apontando para Maria como instrumento da encarnação, um papel implícito, mas não explicitado, no evangelho de João. Em Efésios 2, 14-18, a reconciliação pela cruz, que une judeus e gentios em um só corpo, ressoa com a entrega de João a Maria, simbolizando a formação de uma nova família espiritual. Além disso, em 1 Coríntios 1, 23-24, a cruz como sabedoria divina conecta-se ao Eclesiástico 24, onde a sabedoria encontra morada, sugerindo Maria como sede dessa sabedoria, um tema que Paulo desenvolve teologicamente sem referência direta à Virgem.

Comparação com Documentos da Igreja
A encíclica Quamquam Pluries (1889) de Leão XIII, ao tratar de São José, menciona Maria como cooperadora no plano da redenção, um papel que complementa sua posição ao pé da cruz como mãe dos fiéis, não detalhado no evangelho. O Missale Romanum (edição de 1920) na festa do Imaculado Coração de Maria destaca sua compaixão e união com o sacrifício de Cristo, ecoando o Salmo 44 ao celebrar o coração que transborda de amor divino. A bula Ineffabilis Deus (1854) de Pio IX, ao definir a Imaculada Conceição, vincula Maria como predestinada à maternidade divina, ampliando o sentido do Eclesiástico 24, onde ela é figurada como o jardim da graça, um aspecto implícito nas leituras, mas explicitado na tradição magisterial.