Missa Communi Confessoris non Pontificis (1)


Introito (Sl 36, 30-31 | ib., 1)
Os justi meditábitur sapiéntiam, et lingua ejus loquétur judícium... A boca do justo fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em seu coração. Sl. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.

Epístola (Eclo 31, 8-11)
Leitura do Livro da Sabedoria.
Bem-aventurado o homem que foi encontrado sem mancha, que se não deixou atrair pelo ouro, nem pôs sua esperança no dinheiro ou em riquezas. Quem é este, para nós o louvarmos? Porque fez coisas maravilhosas em sua vida. O que assim foi provado e encontrado perfeito, terá uma glória eterna. Pôde transgredir a lei de Deus, e não a transgrediu; pôde praticar o mal e não o fez! É por isso que os seus bens estão fixos no Senhor, e que toda a assembleias dos santos publicará as suas esmolas.

Evangelho (Lc 12, 35-40)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Estejam cingidos os vossos rins, e em vossas mãos lâmpadas acesas. E sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor quando volta das bodas, para que, quando vier e bater à porta, logo a possam abrir. Bem-aventurados aqueles servos, que o Senhor, ao voltar, achar vigilantes. Em verdade vos digo: ele se cingirá e os fará sentar à mesa, e, passando por entre eles, os servirá. E se vier na segunda vigília, ou se vier na terceira e assim os encontrar, bem-aventurados esses servos! Atendei porém a isto: se o pai de família soubesse a hora em que viria o ladrão, com certeza haveria de vigiar e, sem dúvida, não deixaria invadir a sua casa. Assim, estai também vós preparados, porque à hora em que não cuidais, virá o Filho do homem.

Homilias e Explicações Teológicas
A riqueza verdadeira não reside na acumulação de bens materiais, mas na confiança absoluta na providência divina, que liberta o coração das ansiedades terrenas e o orienta para a justiça, pois o homem justo, ao desprezar o ouro corruptível, encontra sua segurança na virtude que o une a Deus (Santo Agostinho, Sermões sobre Eclesiástico, 39). A vigilância exigida aos servos fiéis é um chamado à prontidão espiritual, onde a alma, desapegada dos prazeres transitórios, mantém-se em constante oração, preparada para o encontro com o Senhor, cuja vinda é certa, mas oculta no tempo (Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de Lucas, 7). A verdadeira pobreza de espírito, que rejeita a avareza, é um reflexo da caridade perfeita, pois o coração que não se apega às riquezas terrenas está livre para amar a Deus acima de tudo (São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 13). Para o confessor, cuja vida é um testemunho de fidelidade, a renúncia às honras mundanas é um sacrifício que o conforma ao Cristo humilde, fazendo dele um servo vigilante que guia os fiéis ao Reino eterno (São Bernardo de Claraval, Sermões sobre os Santos, 22).

Comparação com os Demais Evangelhos
O chamado à vigilância em Lc 12,35-40 encontra eco em Mt 24,42-44, onde Mateus enfatiza a imprevisibilidade da vinda do Filho do Homem, comparando-a a um ladrão, mas adiciona a necessidade de discernir os sinais dos tempos, algo não explicitado em Lucas. Em Mc 13,33-37, Marcos reforça a vigilância com a parábola do porteiro, destacando a responsabilidade individual de cada servo, independentemente de sua posição, um aspecto menos detalhado em Lucas. Jo 16,16-20, embora não trate diretamente da vigilância, complementa Lucas ao abordar a tensão entre a ausência temporária de Cristo e sua volta gloriosa, sugerindo que a espera vigilante é sustentada pela esperança na alegria da ressurreição, um tema implícito, mas não desenvolvido em Lc 12,35-40.

Comparação com Textos de São Paulo
A exortação à vigilância em Lc 12,35-40 é enriquecida por 1Ts 5,2-6, onde Paulo descreve a vinda do Senhor como um “ladrão na noite”, mas enfatiza que os filhos da luz, por sua fé e sobriedade, não serão surpreendidos, adicionando uma dimensão de confiança escatológica ausente no texto lucano. Em Rm 13,11-14, Paulo conecta a vigilância à conversão moral, exortando os fiéis a abandonar as obras das trevas e revestir-se de Cristo, um apelo ético que complementa a prontidão espiritual de Lucas. A rejeição da avareza em Eclo 31,8-11 ressoa com 1Tm 6,9-11, onde Paulo adverte contra o desejo de riquezas que leva à ruína, mas destaca a busca pela justiça e piedade como caminho para a vida eterna, um objetivo escatológico mais explícito que no Eclesiástico.

Comparação com Documentos da Igreja
A vigilância de Lc 12,35-40 e a rejeição da avareza em Eclo 31,8-11 encontram ressonância na Constituição Apostólica de São Pio X, Sapienti Consilio (1908), que exorta os clérigos a uma vida de desapego material, enfatizando que a pobreza evangélica é essencial para a missão de guiar as almas, um aspecto prático não detalhado nos textos bíblicos. O Breviário Romano (edição de 1911) reforça, nas orações pelos confessores, a virtude da constância na fé, conectando a vigilância à perseverança em meio às provações, um tema implícito em Lucas, mas não desenvolvido. A encíclica Rerum Ecclesiae (1926) de Pio XI destaca a renúncia às riquezas mundanas pelos missionários é um testemunho de santidade, complementando Eclo 31,8-11 com a ideia de que tal desapego fortalece a credibilidade do anúncio evangélico.