05 out
Festas das santas relíquias


🙏Depois de ter celebrado a glória de todos os santos no céu, a Igreja dedica este dia para honrar as suas santas relíquias, os fragmentos de seus corpos que permaneceram na terra como sementes de imortalidade, aguardando a ressurreição gloriosa. Esta veneração remonta aos primórdios do cristianismo, quando os fiéis celebravam os Santos Mistérios sobre os túmulos dos mártires nas catacumbas, unindo o sacrifício deles ao Sacrifício de Cristo no Calvário. Com o tempo, grandiosas basílicas foram erguidas sobre os restos mortais dos mártires mais célebres, com o altar principal, ou "Confissão", posicionado diretamente sobre seu túmulo. A prática de trasladar relíquias tornou-se um rito essencial na dedicação de uma nova igreja, e o costume de inserir relíquias de mártires na pedra do altar, no chamado "sepulcrum", perpetua esta tradição. A Missa para esta festa, instituída no século XIX, inspira-se largamente no Comum dos Mártires, motivo pelo qual o sacerdote veste paramentos vermelhos. A liturgia nos recorda que, assim como uma força curadora emanava do corpo de Jesus, também Deus se digna a operar maravilhas por meio das relíquias dos seus santos, que agora O glorificam no céu, curando enfermos, expulsando demônios e concedendo graças, como testemunhas do poder de Deus que santificou seus corpos.

📜Epístola (Eclo 44, 10-15)

Estes eram homens de misericórdia, cujas obras de piedade subsistem para sempre. Os bens que deixaram permanecem para sua posteridade; seus descendentes são uma santa herança e sua raça ficou fiel à aliança. Por causa deles, seus filhos permanecem eternamente e sua glória não terá fim. Seus corpos foram sepultados em paz e seus nomes viverão de geração em geração. Exaltem os povos sua sabedoria e a Igreja proclame os seus louvores.

🕊️Evangelho (Lc 6, 17-23)

Naquele tempo, desceu Jesus da montanha, e parou na planície. A comitiva de seus discípulos e uma grande multidão do povo de toda a Judeia, de Jerusalém e da região marítima, de Tiro e de Sidon, tinham concorrido para O ouvir e se curar de todas as suas enfermidades. E os que eram vexados pelos espíritos imundos ficavam curados. E todo o povo procurava tocá-Lo, porque emanava d’Ele uma força que os curava a todos. Erguendo então os olhos para seus discípulos, disse Jesus: Bem-aventurados, vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos repelirem, carregarem de injúrias, e votarem ao desprezo o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos nesse dia e exultai, porque a vossa recompensa é grande no Reino dos céus.

✝️Reflexões

⛪O Evangelho de hoje nos apresenta uma cena de profundo significado teológico: uma força (virtus) emanava do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo e curava a todos. Esta manifestação do poder divino através do sagrado corpo do Verbo Encarnado é o fundamento da veneração que a Igreja presta às relíquias dos santos. Se o corpo de Cristo era a fonte de toda cura e santidade, os corpos dos seus santos, por união com Ele, tornaram-se templos do Espírito Santo (1 Cor 6, 19) e instrumentos da graça divina. O Catecismo da Igreja Católica, ecoando a Tradição, ensina que "os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos, mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem à cooperação com ela" (CIC 1670). As relíquias, como um dos mais veneráveis sacramentais, não possuem poder em si mesmas, mas são canais pelos quais, por intercessão dos santos e pela vontade de Deus, a mesma virtude que emanava de Cristo continua a tocar e a curar o seu povo. A multidão procurava tocar em Jesus, demonstrando uma fé que reconhecia a santidade presente no físico; da mesma forma, a Igreja venera os restos mortais dos santos, não por um apego à matéria, mas como um reconhecimento de que aquela matéria foi santificada pela graça e está destinada à glória da ressurreição.

👑As Bem-aventuranças proclamadas por Jesus encontram sua realização mais sublime na vida dos mártires, cujas relíquias a Igreja honra com especial devoção. "Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem... por causa do Filho do homem." Esta promessa divina foi a força que sustentou inúmeros cristãos no testemunho de sangue. A Epístola do Livro do Eclesiástico descreve-os perfeitamente: "Seus corpos foram sepultados em paz e seus nomes viverão de geração em geração." A glória que o mundo lhes negou, Deus lhes concedeu em abundância no Céu, e a Igreja na terra perpetua sua memória. Santo Agostinho, meditando sobre o testemunho dos mártires, afirma que eles venceram não por suas próprias forças, mas pela força Daquele que disse: "no mundo, tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo" (Jo 16, 33). As relíquias dos mártires são, portanto, troféus dessa vitória de Cristo neles. Elas são um sermão silencioso, mas eloquente, que nos recorda o preço do discipulado e a realidade da "grande recompensa no Reino dos céus". Venerá-las é tocar, de certa forma, a coragem de quem viveu as Bem-aventuranças até as últimas consequências, inspirando-nos a também nós sermos fiéis em meio às perseguições do nosso tempo.

📖A veneração das relíquias é uma prática profundamente enraizada na fé da Igreja na Comunhão dos Santos e na ressurreição da carne. São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, justifica esta prática argumentando que é justo honrar aqueles que Deus honra. Ele explica que "o corpo dos santos foi templo e órgão do Espírito Santo que neles habitou e operou. Além disso, pela semelhança com Cristo, serão por Ele configurados na ressurreição gloriosa. Por isso, Deus opera milagres na presença de seus restos mortais" (Suma Teológica, III, q. 25, a. 6). A leitura de hoje reforça essa ideia de uma "santa herança", um legado de fé que passa de geração em geração. As relíquias são parte tangível dessa herança. Elas nos conectam fisicamente à história da salvação e aos nossos irmãos e irmãs que já alcançaram a pátria celeste. Ao venerá-las, não adoramos cinzas ou ossos, mas louvamos a Deus pelo dom da santidade na vida daquela pessoa e pedimos sua intercessão, reconhecendo que eles, mesmo na glória, não se esquecem de nós. Assim, a multidão que se comprimia ao redor de Jesus na planície é um ícone da Igreja de todos os tempos, que se aproxima dos santos, amigos de Deus, para, através deles, tocar a orla do manto de Cristo e receber a cura que só Ele pode dar.