27 out
Féria - Missa do XX domingo depois de pentecostes


🏞️Como o povo de Deus exilado, que junto aos rios da Babilônia suspirava com saudades do monte Sião, a liturgia de hoje nos convida a meditar sobre nossa condição de peregrinos neste mundo. Somos exilados que anseiam pela pátria celestial. Este tempo de vida terrena, portanto, não é para o descanso, mas para uma jornada vivida em espírito de humildade e penitência. Devemos aproveitar cada momento para discernir e cumprir a vontade de Deus, como nos exorta a Epístola. Em nossas aflições e na iminência da morte espiritual, o Evangelho nos ensina a imitar o oficial do rei: clamar com fé insistente para que o Senhor venha curar-nos, socorrer-nos e, por fim, conduzir-nos à glória eterna.

📖 Epístola (Ef 5, 15-21)

Irmãos: Tende cuidado em andar com circunspeção; não como insensatos, e sim como prudentes. Aproveitai o tempo, porque os dias são maus. Assim, pois, não sejais imprudentes, mas aplicai-vos a conhecer qual seja a vontade de Deus. E não vos embriagueis com vinho do qual nasce a impureza; mas ficai repletos do Espírito Santo. Entoai salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e salmodiai ao Senhor em vossos corações. Dai sempre e por tudo graças a Deus, nosso Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo.

✝️ Evangelho (Jo 4, 46-53)

Naquele tempo, havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Tendo ouvido que Jesus voltara da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele, e pediu-Lhe que viesse à sua casa e curasse seu filho, que estava à morte. Disse-lhe então Jesus: Se não vedes milagres e prodígios, não credes. O oficial do rei respondeu: Senhor, vinde, antes que o meu filho morra. Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. Acreditou o homem na palavra de Jesus e partiu. Quando ele já ia para casa, vieram-lhe ao encontro seus criados e deram-lhe a notícia de que o seu filho vivia. Perguntou-lhes então a hora em que o doente se achara melhor. Responderam-lhe: Ontem pela sétima hora, a febre o deixou. Reconheceu logo o pai ter sido aquela a mesma hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive. E ele acreditou e toda a sua família.

🤔 Reflexões

🙏O Evangelho de hoje nos apresenta uma poderosa catequese sobre a natureza da fé. O oficial do rei aproxima-se de Jesus com uma fé inicial, ainda imperfeita, que busca a presença física e a visão de um milagre: "vinde, antes que o meu filho morra". A resposta de Cristo, "Se não vedes milagres e prodígios, não credes", não é uma recusa, mas um convite a uma fé mais elevada. Santo Agostinho comenta que o Senhor, ao mesmo tempo que repreende a busca por sinais, atende ao pedido, mostrando que Sua misericórdia se inclina à nossa fraqueza para nos elevar a uma confiança mais pura (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João, 16). A verdadeira conversão do oficial acontece quando ele renuncia à necessidade de ver para crer. Ele "acreditou na palavra de Jesus e partiu". Esta é a fé que a Igreja nos chama a cultivar: uma adesão total à palavra de Cristo, mesmo quando a evidência sensível está ausente. É a fé que crê que a Palavra de Deus é eficaz em si mesma, pois Ele, que é a Verdade, não pode enganar nem ser enganado.

⏳A exortação de São Paulo na Epístola, "Aproveitai o tempo, porque os dias são maus", ecoa a urgência do oficial do rei. Este homem nobre não procrastinou; ele sabia que a vida de seu filho estava por um fio. Da mesma forma, os "dias maus" descritos pelo Apóstolo referem-se à nossa peregrinação neste mundo, um tempo de prova e de exílio espiritual, onde a morte eterna nos ameaça. "Aplicai-vos a conhecer qual seja a vontade de Deus" é o antídoto para a insensatez. A vontade de Deus, neste contexto, foi claramente discernida pelo oficial: buscar Jesus, a única fonte de vida. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que "a oração é uma necessidade vital. A prova em contrário não é menos convincente: se não nos deixarmos levar pelo Espírito, voltaremos a cair na escravidão do pecado" (CIC, 2744). A jornada do oficial a Caná é um ícone da nossa própria vida de oração: um movimento de saída de si mesmo, de busca insistente pelo Salvador, com a consciência de que, sem Ele, perecemos.

⛪A liturgia deste dia tece uma tapeçaria espiritual coesa. O tema do exílio, sugerido no Ofertório, nos situa como o povo de Israel junto aos rios da Babilônia, chorando por Sião. Nossa Sião é a pátria celeste. A doença do filho do oficial simboliza a condição de toda a humanidade, enferma pelo pecado e destinada à morte. A resposta não está em nós mesmos, mas em ir a Cristo. A fé na Sua palavra onipotente, que cura à distância, é a mesma fé que nos é pedida no Santo Sacrifício da Missa. Ali, as palavras da consagração, pronunciadas in persona Christi, não apenas simbolizam, mas realizam o que significam, tornando presente o Corpo e o Sangue que nos curam da morte eterna. São Tomás de Aquino ensina que a palavra de Cristo possui um poder operativo divino; quando Ele diz "Vai, o teu filho vive", Sua palavra executa a cura instantaneamente (Suma Teológica, III, q. 43, a. 4). Assim, ao comungarmos, não pedimos apenas que Cristo cure alguém à distância, mas que Ele mesmo venha e viva em nós, transformando nosso exílio em uma antecipação da glória celestial, enchendo-nos do Espírito Santo para que possamos, como diz a Epístola, cantar e salmodiar ao Senhor em nossos corações, mesmo em meio às provações dos "dias maus".