🏞️Como o povo de Deus exilado, que junto aos rios da Babilônia suspirava com
saudades do monte Sião, a liturgia de hoje nos convida a meditar sobre nossa
condição de peregrinos neste mundo. Somos exilados que anseiam pela pátria
celestial. Este tempo de vida terrena, portanto, não é para o descanso, mas para
uma jornada vivida em espírito de humildade e penitência. Devemos aproveitar
cada momento para discernir e cumprir a vontade de Deus, como nos exorta a
Epístola. Em nossas aflições e na iminência da morte espiritual, o Evangelho nos
ensina a imitar o oficial do rei: clamar com fé insistente para que o Senhor
venha curar-nos, socorrer-nos e, por fim, conduzir-nos à glória eterna.
📖
Epístola (Ef 5, 15-21)
Irmãos: Tende cuidado em andar com
circunspeção; não como insensatos, e sim como prudentes. Aproveitai o tempo,
porque os dias são maus. Assim, pois, não sejais imprudentes, mas aplicai-vos a
conhecer qual seja a vontade de Deus. E não vos embriagueis com vinho do qual
nasce a impureza; mas ficai repletos do Espírito Santo. Entoai salmos, hinos e
cânticos espirituais; cantai e salmodiai ao Senhor em vossos corações. Dai
sempre e por tudo graças a Deus, nosso Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo.
✝️ Evangelho
(Jo 4, 46-53)
Naquele tempo, havia um oficial do rei, cujo filho
estava doente em Cafarnaum. Tendo ouvido que Jesus voltara da Judeia para a
Galileia, foi ter com Ele, e pediu-Lhe que viesse à sua casa e curasse seu
filho, que estava à morte. Disse-lhe então Jesus: Se não vedes milagres e
prodígios, não credes. O oficial do rei respondeu: Senhor, vinde, antes que o
meu filho morra. Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. Acreditou o homem na
palavra de Jesus e partiu. Quando ele já ia para casa, vieram-lhe ao encontro
seus criados e deram-lhe a notícia de que o seu filho vivia. Perguntou-lhes
então a hora em que o doente se achara melhor. Responderam-lhe: Ontem pela
sétima hora, a febre o deixou. Reconheceu logo o pai ter sido aquela a mesma
hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive. E ele acreditou e toda a sua
família.
🤔 Reflexões
🙏O Evangelho de hoje nos apresenta
uma poderosa catequese sobre a natureza da fé. O oficial do rei aproxima-se de
Jesus com uma fé inicial, ainda imperfeita, que busca a presença física e a
visão de um milagre: "vinde, antes que o meu filho morra". A resposta de Cristo,
"Se não vedes milagres e prodígios, não credes", não é uma recusa, mas um
convite a uma fé mais elevada. Santo Agostinho comenta que o Senhor, ao mesmo
tempo que repreende a busca por sinais, atende ao pedido, mostrando que Sua
misericórdia se inclina à nossa fraqueza para nos elevar a uma confiança mais
pura (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João, 16). A verdadeira
conversão do oficial acontece quando ele renuncia à necessidade de ver para
crer. Ele "acreditou na palavra de Jesus e partiu". Esta é a fé que a Igreja nos
chama a cultivar: uma adesão total à palavra de Cristo, mesmo quando a evidência
sensível está ausente. É a fé que crê que a Palavra de Deus é eficaz em si
mesma, pois Ele, que é a Verdade, não pode enganar nem ser enganado.
⏳A
exortação de São Paulo na Epístola, "Aproveitai o tempo, porque os dias são
maus", ecoa a urgência do oficial do rei. Este homem nobre não procrastinou; ele
sabia que a vida de seu filho estava por um fio. Da mesma forma, os "dias maus"
descritos pelo Apóstolo referem-se à nossa peregrinação neste mundo, um tempo de
prova e de exílio espiritual, onde a morte eterna nos ameaça. "Aplicai-vos a
conhecer qual seja a vontade de Deus" é o antídoto para a insensatez. A vontade
de Deus, neste contexto, foi claramente discernida pelo oficial: buscar Jesus, a
única fonte de vida. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que "a oração é
uma necessidade vital. A prova em contrário não é menos convincente: se não nos
deixarmos levar pelo Espírito, voltaremos a cair na escravidão do pecado" (CIC,
2744). A jornada do oficial a Caná é um ícone da nossa própria vida de oração:
um movimento de saída de si mesmo, de busca insistente pelo Salvador, com a
consciência de que, sem Ele, perecemos.
⛪A liturgia deste dia tece
uma tapeçaria espiritual coesa. O tema do exílio, sugerido no Ofertório, nos
situa como o povo de Israel junto aos rios da Babilônia, chorando por Sião.
Nossa Sião é a pátria celeste. A doença do filho do oficial simboliza a condição
de toda a humanidade, enferma pelo pecado e destinada à morte. A resposta não
está em nós mesmos, mas em ir a Cristo. A fé na Sua palavra onipotente, que cura
à distância, é a mesma fé que nos é pedida no Santo Sacrifício da Missa. Ali, as
palavras da consagração, pronunciadas in persona Christi, não apenas simbolizam,
mas realizam o que significam, tornando presente o Corpo e o Sangue que nos
curam da morte eterna. São Tomás de Aquino ensina que a palavra de Cristo possui
um poder operativo divino; quando Ele diz "Vai, o teu filho vive", Sua palavra
executa a cura instantaneamente (Suma Teológica, III, q. 43, a. 4). Assim, ao
comungarmos, não pedimos apenas que Cristo cure alguém à distância, mas que Ele
mesmo venha e viva em nós, transformando nosso exílio em uma antecipação da
glória celestial, enchendo-nos do Espírito Santo para que possamos, como diz a
Epístola, cantar e salmodiar ao Senhor em nossos corações, mesmo em meio às
provações dos "dias maus".