19 out
S. Pedro de Alcântara, confessor


🙏Nascido em Alcântara, Espanha, São Pedro de Alcântara é uma das figuras mais austeras e influentes da Reforma Católica, sendo também padroeiro do Brasil. Entrou para a Ordem Franciscana aos dezesseis anos e dedicou sua vida a uma observância rigorosíssima da regra primitiva, marcada por penitências extremas em união com a Paixão de Cristo. Dormia apenas uma hora e meia por noite, sentado, e suas práticas de jejum e mortificação eram extraordinárias. Sua importância transcende sua própria santidade pessoal; ele foi um farol para outros, notavelmente como diretor espiritual de Santa Teresa de Ávila. Foi ele quem deu o apoio decisivo e a validação para que ela prosseguisse com a desafiadora reforma da Ordem do Carmelo, discernindo a obra como vinda de Deus. Sua vida encarnou sua famosa máxima: "O paraíso não é para os covardes", um testemunho de que a busca pela união com Deus exige um desapego heróico e uma vontade de ferro para abraçar a cruz. Consumido pelo amor divino e pelo zelo pelas almas, morreu de joelhos em oração em 1562.

📖 Epístola (Fl 3, 7-12)

Irmãos, as coisas que para mim eram lucros, considerei-as como perda, por amor de Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar a Cristo e ser encontrado nele. Não com a minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se apoia na fé. Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação nos seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos. Não pretendo dizer que já alcancei esta meta e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo.

✝️ Evangelho (Lc 12, 32-34)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino. Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.

🤔 Reflexões

🕊️Ao chamar seus discípulos de “pequeno rebanho”, Cristo não se refere necessariamente ao número, mas à condição de humildade e pobreza voluntária que devem abraçar para receber o Reino. Esta pequenez é uma escolha, um despojamento que os torna aptos para as coisas do alto. (São Cirilo de Alexandria, Comentário sobre o Evangelho de Lucas). O mandamento de vender os bens e fazer um tesouro no céu é a consequência lógica desta escolha; pois, ao transferirmos nosso tesouro para o céu, nosso coração, inevitavelmente, o seguirá. O homem não pode evitar que seu coração esteja onde está seu tesouro, portanto, a sabedoria consiste em colocar o tesouro onde o coração deve estar, e não o contrário. São Pedro de Alcântara compreendeu isso de modo perfeito, fazendo de sua vida uma contínua transferência de tesouros para a eternidade, despojando-se de tudo para que seu coração estivesse fixo unicamente em Deus. (Santo Agostinho, Sermão 9).

📜A afirmação de São Paulo de que considera tudo “como esterco” para ganhar a Cristo é a expressão mais radical do desapego cristão, que não vê valor em nada que não conduza a Cristo. Esta não é uma negação do bem da criação, mas o reconhecimento de uma hierarquia de valores na qual Cristo ocupa o cume absoluto. O conhecimento de Cristo não é meramente intelectual, mas uma experiência transformadora que leva à participação em seus sofrimentos como caminho para a glória da ressurreição. (São João Crisóstomo, Homilias sobre a Epístola aos Filipenses). A justiça que vem da fé, mencionada pelo Apóstolo, é a graça pela qual o homem é justificado e capacitado a realizar obras meritórias, não por sua própria força, mas por ter sido “conquistado por Jesus Cristo”. A vida de penitência de São Pedro de Alcântara é, assim, a manifestação exterior dessa conquista interior, um esforço contínuo para conformar-se à morte de Cristo, impulsionado pela fé na ressurreição. (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre a Epístola aos Filipenses).

🏛️A doutrina da Igreja exposta no Catecismo Romano ensina que, além dos preceitos obrigatórios a todos, Cristo propôs os conselhos evangélicos — pobreza, castidade e obediência — como um caminho mais seguro e rápido para alcançar a perfeição cristã. A pobreza voluntária, abraçada por São Pedro de Alcântara de forma tão heróica, é exaltada como um meio poderoso para libertar a alma das preocupações terrenas e das armadilhas da cobiça, que afogam o coração e o desviam do amor de Deus. Ao vender tudo e dar aos pobres, o fiel não apenas realiza um ato de caridade, mas também transfere seu “tesouro” para o céu, conforme o Evangelho do dia, alinhando seu coração com o fim último para o qual foi criado. A vida de São Pedro de Alcântara demonstra que a observância radical deste conselho não é uma perda, mas o “ganho” supremo de que fala São Paulo: a união com Cristo. (Catecismo Romano, Parte III).