SÁBADO DA 4ª SEMANA DA QUARESMA

Féria de 3ª Classe – Estação em S. Nicolau “in Carcere”

Comemoração de S. Vicente Férrer, Confessor
Nasceu em Valença em 1350. Entrou para a ordem dos Dominicanos aos 17 anos. Orador violento e inflamado, percorreu a Espanha, a França e a Itália, verberando os pecadores com as suas advertências. As palavras do profeta “levantai-vos, mortos e vinde ao julgamento”, que repetia sem cessar, operaram numerosos milagres de conversão. Chamavam-lhe o “anjo do julgamento”. Morreu em Vannes, na Bretanha a 5 de abril de 1419.

PRÓPRIO DO DIA

Introito (Is 55, 1| Sl 77, 1)
Sitiéntes, venite ad aquas, dicit Dóminus... Todos vós que tendes sede, vinde às águas, assim diz o Senhor; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde e bebei com alegria. Sl. Escutai a minha lei, ó povo meu: inclinai os vossos ouvidos às palavras de minha boca.

Epístola (Is 49, 8-15)
Leitura do Profeta Isaías.Eis o que diz o Senhor: Em tempo favorável eu te ouvi, e no dia da salvação sou o teu auxílio. Eu te conservei e te estabeleci para aliança do povo, para restaurares as terras e possuíres abundantes heranças. Para dizer aos presos: Saí. E aos que gemem nas trevas: Vinde à luz. Ao lado dos caminhos eles apascentarão, é em todas as planícies, para eles haverá pastagens. Não mais terão fome nem sede, nem serão vexados pelo calor do sol: pois Aquele que deles tem piedade os guiará, e às fontes das águas os conduzirá. E mudarei todos os meus montes em caminhos e as minhas veredas elevadas serão. Vede estes que vêm de longe e aqueles do norte e do poente e os outros das terras austrais. Louvai, ó céus; exulta, ó terra; prorrompei, ó montes, em louvores; porque Deus consolou o seu povo e de seus pobres se compadecerá . E Sião disse: Abandonou-me o Senhor, e o Senhor de mim se esqueceu. [Deus responde:] Porventura, poderia a mulher esquecer o seu infante e n ã o ter compaixão do filho de suas entranhas? E ainda que ela se esquecesse, eu não me esqueceria de ti, diz o Senhor Onipotente.

Evangelho (Jo 8, 12-20)
Naquele tempo, falou Jesus às turmas dos judeus, dizendo: Eu sou a Luz do mundo. O que me segue não anda em trevas e terá a luz da vida. Disseram-Lhe os fariseus: Vós testemunhais de Vós mesmo; vosso testemunho não é verdadeiro. Respondeu-lhes Jesus e disse: Se bem que eu testemunhe de mim mesmo, é verdadeiro o meu testemunho. Porque sei de onde vim e par a onde vou; vós, porém, ignorais de onde venho e para onde vou. Vós julgais segundo a carne e eu não julgo a ninguém. Se julgo, o meu julgamento é verdadeiro, porque não estou só, e comigo está o Pai, que me enviou. Em vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu sou quem testemunha de mim mesmo; e de mim dá também testemunho, quem me enviou, isto é, o Pai. Disseram-Lhe, pois: Onde está o vosso Pai? Respondeu Jesus: Vós não conheceis, nem a Mim, nem a meu Pai. Se Vós me conhecêsseis, conheceríeis também a meu Pai. Jesus disse essas palavras no gazofilácio [tesouro] quando ensinava no templo; e ninguém O prendeu porque não chegara ainda a sua hora.

Homilias

Santo Agostinho – Sermão 34 - A luz que se proclama é a verdadeira divindade que ilumina os corações e dissipa as trevas do pecado, não sendo apenas um reflexo ou uma sombra, mas a essência eterna que guia a humanidade à salvação. Essa luz não é compreendida pelos olhos carnais, mas pela alma que se eleva à contemplação divina, pois os fariseus, presos à letra da Lei, não enxergam a verdade que transcende suas disputas terrenas. O testemunho do Filho é válido porque procede da unidade com o Pai, uma comunhão tão perfeita que o julgar humano, limitado e falho, não pode abarcar. Aquele que é luz julga com justiça porque vê o interior do homem, enquanto os homens julgam pela aparência e pela carne, incapazes de penetrar os mistérios divinos. Quem segue essa luz abandona as trevas da ignorância e do orgulho, recebendo a vida eterna como dom, pois a luz não apenas ilumina o caminho, mas é a própria vida que se comunica aos que creem.
 
São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Pars III, q. 7, a. 9 - A declaração de ser a luz do mundo manifesta a excelência da natureza divina de Cristo, que possui em si a plenitude da graça e da sabedoria, iluminando as criaturas racionais para que conheçam a verdade e sejam conduzidas ao bem supremo. Essa luz é distinta da luz sensível, pois pertence ao intelecto, elevando a alma à contemplação das coisas eternas, enquanto os fariseus, fixados em juízos materiais, rejeitam o testemunho por não compreenderem a origem celestial de Cristo. O testemunho do Filho é verdadeiro porque procede da sua união hipostática com o Pai, sendo Ele mesmo a Palavra eterna que revela o Criador às criaturas. O julgamento de Cristo é justo, não por condenação arbitrária, mas porque reflete a ordem divina, que ordena todas as coisas ao fim último. Seguir essa luz é participar da vida divina, pois a graça que dela emana santifica e aperfeiçoa a natureza humana, guiando-a à beatitude.
 
Santo Ambrósio – A luz anunciada é o esplendor da glória divina que rompe as trevas do mundo corrompido pelo pecado, oferecendo aos homens a possibilidade de serem libertos da escravidão da morte. Os fariseus, ao questionarem o testemunho, revelam sua cegueira espiritual, pois buscam sinais externos e não reconhecem a autoridade daquele que é a fonte de toda a verdade. O Filho, unido ao Pai na eternidade, não precisa de testemunhas humanas, mas o Pai dá testemunho por meio das obras realizadas, que manifestam a divindade encarnada. O julgamento verdadeiro procede dessa luz, que não condena por ódio, mas ordena todas as coisas segundo a justiça divina, chamando os homens à conversão. Quem segue essa luz é elevado acima das paixões terrenas, tornando-se filho da luz, participante da vida que não perece, pois a luz de Cristo é o caminho que conduz à visão de Deus.