31 out
Vigília de Todos os Santos


🕯️A Vigília de Todos os Santos é um dia de preparação espiritual para a grande solenidade que celebra a Igreja Triunfante. Tradicionalmente, este dia era marcado pelo jejum e pela oração, um costume que reflete a importância de purificar a alma para contemplar a glória dos santos no céu. A liturgia nos convida a meditar sobre o destino final para o qual fomos criados: a comunhão eterna com Deus, na companhia de todos aqueles que, tendo vivido heroicamente a fé na terra, agora intercedem por nós. É uma antecipação da alegria celestial, um momento para ajustar nosso coração ao chamado universal à santidade, reconhecendo que a coroa da glória é precedida pela cruz da perseverança e do amor fiel a Cristo.

📖Epístola (Ap 5, 6-12)
Naqueles dias, eu, João, vi no meio do trono, dos quatro Animais e no meio dos Anciãos um Cordeiro de pé, como que imolado. Tinha ele sete chifres e sete olhos (que são os sete Espíritos de Deus, enviados por toda a terra). Veio e recebeu o livro da mão direita do que se assentava no trono. Quando recebeu o livro, os quatro Animais e os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfume (que são as orações dos santos). Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça; e deles fizeste para nosso Deus um reino de sacerdotes, que reinam sobre a terra. Na minha visão ouvi também, ao redor do trono, dos Animais e dos Anciãos, a voz de muitos anjos, em número de miríades de miríades e de milhares de milhares, bradando em alta voz: Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor.

✝️Evangelho (Lc 6, 17-23)
Naquele tempo, descendo com eles, parou numa planície. Aí se achava um grande número de seus discípulos e uma grande multidão de pessoas vindas da Judeia, de Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia, que tinham vindo para ouvi-lo e ser curadas das suas enfermidades. E os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam livres. Todo o povo procurava tocá-lo, pois saía dele uma força que os curava a todos. Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos alegrareis! Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando repelirem o vosso nome como infame por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas.

🕊️Reflexões

✨A liturgia desta Vigília estabelece um diálogo sublime entre o céu e a terra, conectando o sofrimento redentor dos justos com a glória eterna da corte celestial. O Evangelho de Lucas apresenta o caminho da santidade através das bem-aventuranças: a pobreza, a fome, o choro e a perseguição por amor a Cristo. Este não é um caminho de glória terrena, mas um itinerário de configuração ao próprio Cristo sofredor. Em contrapartida, a Epístola do Apocalipse revela o destino final deste caminho: a participação na liturgia celeste. As "taças de ouro cheias de perfume, que são as orações dos santos", mostram que os sofrimentos e súplicas dos que vivem as bem-aventuranças na terra ascendem a Deus como um aroma agradável, unindo-se ao louvor incessante dos anjos e anciãos. A Vigília nos convida a ver nossas lutas presentes não como um fim em si mesmas, mas como a matéria-prima de nossa santificação e como nossa contribuição para o perfume que enche as taças de ouro diante do trono de Deus.

🐑No centro de ambas as leituras está a figura do "Cordeiro como que imolado". Ele é a chave para compreender o paradoxo das bem-aventuranças. Cristo foi o mais pobre, o que mais teve fome e sede de justiça, Aquele que chorou sobre Jerusalém e foi odiado, expulso e ultrajado até a morte. Ao abraçar esta condição, Ele transformou o sofrimento em via de redenção. Santo Agostinho ensina que a humildade é o fundamento de todas as bem-aventuranças: "A bem-aventurança começa pela humildade... Se desejas atingir a altitude, começa por baixo. Se pensas em construir um edifício de grande altura, pensa primeiro no fundamento da humildade" (Santo Agostinho, Sermão 69). O "grande galardão no céu" prometido por Jesus não é uma recompensa extrínseca, mas a própria união com o Cordeiro, cuja pobreza nos enriqueceu e cujas chagas nos curaram. O Catecismo da Igreja Católica reforça que as bem-aventuranças "revelam o objetivo da existência humana, o fim último dos atos humanos: Deus nos chama à sua própria bem-aventurança" (CIC, 1719), um chamado que se realiza plenamente na visão do Cordeiro glorificado.

🎶A visão de São João no Apocalipse não é apenas uma promessa futura, mas uma realidade presente que sustenta a esperança da Igreja peregrina. O "cântico novo" entoado no céu celebra a obra redentora de Cristo, que resgatou "homens de toda tribo, língua, povo e raça" e fez deles um "reino de sacerdotes". Este sacerdócio real, recebido no batismo, capacita cada fiel a oferecer sua própria vida – com suas alegrias e, especialmente, com suas cruzes – como um sacrifício espiritual unido ao do Cordeiro. O Missal Romano, no Prefácio dos Santos I, afirma que nos santos Deus nos oferece "um exemplo, em sua intercessão uma ajuda e na comunhão de graça uma aliança". Eles são a prova viva de que viver as bem-aventuranças é possível pela graça que emana de Cristo, a "força que saía dele e curava a todos". Assim, a Vigília de Todos os Santos nos impulsiona a viver o hoje com os olhos fixos no céu, transformando as planícies de nossas lutas terrenas no átrio do templo celestial, onde um dia esperamos cantar eternamente a dignidade do Cordeiro imolado.