10 out
S. Francisco de Bórgia, confessor


⚜️São Francisco de Bórgia, outrora Duque de Gandía e vice-rei da Catalunha, viveu uma profunda conversão ao contemplar o corpo em decomposição da Imperatriz Isabel de Portugal. A visão da transitoriedade da glória terrena o levou a proferir sua famosa resolução: "Nunca mais servirei a um senhor que possa morrer". Após a morte de sua esposa, renunciou a todos os seus títulos e bens, ingressando na Companhia de Jesus, da qual se tornou o terceiro Superior Geral. Sua vida foi marcada por uma humildade radical, severas penitências e uma profunda devoção à Eucaristia, guiando a Ordem com sabedoria e promovendo as missões.

📖 Introito (Sl 36, 30-31 | ib., 1)
A boca do justo fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em seu coração. Sl. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. ℣. Glória ao Pai.

📜 Epístola (Eclo 45,1-6)
Ele [Moisés] foi amado de Deus e dos homens; sua memória é abençoada. O Senhor o igualou aos Santos na glória, engrandeceu-o para temor dos seus inimigos e por suas palavras fez cessar as pragas. Glorificou-o diante dos reis; deu-lhe seus preceitos diante de seu povo e mostrou-lhe sua glória. Por sua fidelidade e mansidão o santificou e o escolheu dentre todos os homens. Deus lhe fez ouvir a sua voz, e fê-lo entrar na nuvem. E deu-lhe, face a face, os seus preceitos e a lei da vida e da doutrina.

✝️ Evangelho (Mt 19, 27-29)
Naquele tempo, disse Pedro a Jesus: Eis que abandonamos tudo e Vos seguimos: que recompensa haverá então para nós? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo que, no dia da regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, assentar-vos-eis em doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as terras, por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.

💭 Reflexões

👑Santo Agostinho explica que a promessa do cêntuplo não se refere a um ganho material literal, mas à aquisição de bens espirituais e à fraternidade na Igreja, que é imensamente mais valiosa. Aquele que deixa um irmão segundo a carne, encontra muitos irmãos unidos em Cristo. São Francisco de Bórgia personifica esta verdade: ao renunciar a um ducado terreno, não apenas ganhou a vida eterna, mas recebeu o "cêntuplo" em autoridade espiritual como Superior Geral dos Jesuítas, governando almas para um reino que não perece (Santo Agostinho, Sermão 100). São Jerônimo acrescenta que quem despreza os prazeres temporais por Cristo recebe alegrias espirituais que superam em cem vezes o que foi abandonado, juntamente com a herança da vida eterna (São Jerônimo, Comentário sobre Mateus).

🕊️A descrição de Moisés como aquele a quem Deus "fez ouvir a sua voz" e "deu-lhe, face a face, os seus preceitos" aplica-se analogamente aos santos que, pela contemplação e obediência, se tornam íntimos de Deus. São Gregório Magno ensina que Deus eleva certos homens a posições de liderança não por mérito próprio, mas para que, através de sua fidelidade e mansidão, manifestem a glória divina e guiem o povo. São Francisco de Bórgia, ao trocar o governo secular pelo espiritual, foi escolhido "dentre todos os homens" da sua estirpe para receber não a lei em tábuas de pedra, mas a lei do amor e do serviço impressa em seu coração, tornando-se um legislador para sua Ordem e um exemplo para toda a Igreja (São Gregório Magno, Regra Pastoral).

🏛️A doutrina da Igreja sempre exaltou o estado religioso como um caminho de perfeição evangélica, no qual o fiel, ao professar os votos de pobreza, castidade e obediência, responde radicalmente ao chamado do Evangelho: "deixar tudo" para seguir a Cristo. A vida de São Francisco de Bórgia ilustra magnificamente este ensinamento, mostrando que a renúncia aos bens temporais — mesmo os mais elevados como títulos e poder — não é uma perda, mas um ganho incomensurável em liberdade espiritual e união com Deus. A Igreja ensina que tal sacrifício, feito por amor a Cristo, constitui um testemunho escatológico, antecipando já nesta vida a posse dos bens celestiais e a glória prometida aos que se assentam nos tronos para julgar (Catecismo Romano; Pio XII, Sacra Virginitas).