⚜️São Francisco de Bórgia, outrora Duque de Gandía e vice-rei da Catalunha,
viveu uma profunda conversão ao contemplar o corpo em decomposição da Imperatriz
Isabel de Portugal. A visão da transitoriedade da glória terrena o levou a
proferir sua famosa resolução: "Nunca mais servirei a um senhor que possa
morrer". Após a morte de sua esposa, renunciou a todos os seus títulos e bens,
ingressando na Companhia de Jesus, da qual se tornou o terceiro Superior Geral.
Sua vida foi marcada por uma humildade radical, severas penitências e uma
profunda devoção à Eucaristia, guiando a Ordem com sabedoria e promovendo as
missões.
📖 Introito (Sl 36, 30-31 | ib., 1)
A boca do justo
fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em
seu coração. Sl. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam
a iniquidade. ℣. Glória ao Pai.
📜 Epístola (Eclo 45,1-6)
Ele
[Moisés] foi amado de Deus e dos homens; sua memória é abençoada. O Senhor o
igualou aos Santos na glória, engrandeceu-o para temor dos seus inimigos e por
suas palavras fez cessar as pragas. Glorificou-o diante dos reis; deu-lhe seus
preceitos diante de seu povo e mostrou-lhe sua glória. Por sua fidelidade e
mansidão o santificou e o escolheu dentre todos os homens. Deus lhe fez ouvir a
sua voz, e fê-lo entrar na nuvem. E deu-lhe, face a face, os seus preceitos e a
lei da vida e da doutrina.
✝️ Evangelho (Mt 19, 27-29)
Naquele
tempo, disse Pedro a Jesus: Eis que abandonamos tudo e Vos seguimos: que
recompensa haverá então para nós? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo que,
no dia da regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua
glória, também vós, que me seguistes, assentar-vos-eis em doze tronos, e
julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os
irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as
terras, por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.
💭
Reflexões
👑Santo Agostinho explica que a promessa do cêntuplo não se
refere a um ganho material literal, mas à aquisição de bens espirituais e à
fraternidade na Igreja, que é imensamente mais valiosa. Aquele que deixa um
irmão segundo a carne, encontra muitos irmãos unidos em Cristo. São Francisco de
Bórgia personifica esta verdade: ao renunciar a um ducado terreno, não apenas
ganhou a vida eterna, mas recebeu o "cêntuplo" em autoridade espiritual como
Superior Geral dos Jesuítas, governando almas para um reino que não perece
(Santo Agostinho, Sermão 100). São Jerônimo acrescenta que quem despreza os
prazeres temporais por Cristo recebe alegrias espirituais que superam em cem
vezes o que foi abandonado, juntamente com a herança da vida eterna (São
Jerônimo, Comentário sobre Mateus).
🕊️A descrição de Moisés como
aquele a quem Deus "fez ouvir a sua voz" e "deu-lhe, face a face, os seus
preceitos" aplica-se analogamente aos santos que, pela contemplação e
obediência, se tornam íntimos de Deus. São Gregório Magno ensina que Deus eleva
certos homens a posições de liderança não por mérito próprio, mas para que,
através de sua fidelidade e mansidão, manifestem a glória divina e guiem o povo.
São Francisco de Bórgia, ao trocar o governo secular pelo espiritual, foi
escolhido "dentre todos os homens" da sua estirpe para receber não a lei em
tábuas de pedra, mas a lei do amor e do serviço impressa em seu coração,
tornando-se um legislador para sua Ordem e um exemplo para toda a Igreja (São
Gregório Magno, Regra Pastoral).
🏛️A doutrina da Igreja sempre
exaltou o estado religioso como um caminho de perfeição evangélica, no qual o
fiel, ao professar os votos de pobreza, castidade e obediência, responde
radicalmente ao chamado do Evangelho: "deixar tudo" para seguir a Cristo. A vida
de São Francisco de Bórgia ilustra magnificamente este ensinamento, mostrando
que a renúncia aos bens temporais — mesmo os mais elevados como títulos e poder
— não é uma perda, mas um ganho incomensurável em liberdade espiritual e união
com Deus. A Igreja ensina que tal sacrifício, feito por amor a Cristo, constitui
um testemunho escatológico, antecipando já nesta vida a posse dos bens
celestiais e a glória prometida aos que se assentam nos tronos para julgar
(Catecismo Romano; Pio XII, Sacra Virginitas).