28 set
S. Venceslau, duque e mártir


👑São Venceslau, duque da Boêmia no século X, foi um governante notável por sua profunda piedade e zelo pela fé cristã. Educado por sua avó, Santa Ludmila, ele se dedicou a governar com justiça, promovendo a construção de igrejas, cuidando dos pobres, viúvas e órfãos. Sua devoção à Sagrada Eucaristia era tão intensa que ele mesmo cultivava o trigo e as uvas para a confecção do pão e do vinho consagrados. Sua vida exemplar, no entanto, despertou a inveja de seu irmão pagão, Boleslau, que, conspirando com outros nobres, o assassinou traiçoeiramente na porta de uma igreja onde o santo ia para rezar. Seu martírio é um testemunho da radicalidade do Evangelho, que muitas vezes coloca os fiéis em oposição até mesmo aos de sua própria casa. Como reflete São João Crisóstomo sobre os que sofrem pela justiça: “Não chameis bem-aventurados aos que gozam de poder, mas àqueles que o suportam com coragem. Não aos que são glorificados pelos homens, mas aos que o são por Deus”.

🙏Introito (Sl 20, 2-3 | ib., 4)
In virtúte tua, Dómine, lætábitur iustus: et super salutáre tuum exsultábit veheménter... O Justo se regozija com o vosso poder, Senhor, e exulta grandemente por vosso auxílio, pois Vós satisfizestes o desejo de seu coração. Sl. Vós lhe concedestes abundantes bênçãos e pusestes sobre a sua cabeça uma coroa de pedras preciosas. ℣. Glória ao Pai…

📜Epístola (Sab. 10, 10-14)
O Senhor conduziu o Justo [Jacó] por caminhos retos, mostrou-lhe o reino de Deus, e deu-lhe a ciência das coisas santas: enriqueceu-o pelo trabalho e recompensou as suas fadigas. Auxiliou-o contra os avarentos opressores e cobriu-o de honra. Guardou-o dos inimigos, defendeu-o dos sedutores e permitiu-lhe duro combate, para que vencesse e soubesse que de todas as coisas, a mais poderosa é a sabedoria de Deus. Foi ela que não desamparou o Justo, quando foi vendido [José] e livrou-o dos pecadores; desceu com ele à prisão e não o abandonou nas cadeias, até lhe depositar em mãos o cetro do reino e o poder sobre os seus opressores. Ele mostrou que eram mentirosos os que o tinham caluniado. E o Senhor, nosso Deus, lhe deu uma glória eterna.

📖Evangelho (Mt 10, 34-42)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Não julgueis que vim trazer a paz à terra: não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o homem de seu pai, a filha, de sua mãe, e a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios domésticos. Quem ama o pai e a mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. O que se prende à sua vida [temporal] perdê-la-á [a eterna]: e o que perder a sua vida [temporal] por amor de mim, achá-la-á [a eterna]. Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta por ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um Justo por ser justo, receberá a recompensa de Justo. Quem der a beber a um destes pequeninos um simples copo de água fresca porque é meu discípulo, em verdade vos digo, não ficará sem a sua recompensa.

🤔Reflexões

🕊️A espada mencionada por Cristo não é a da guerra, mas a do discernimento que separa o amor a Deus do amor desordenado ao mundo e às criaturas, mesmo as mais próximas. Esta divisão é a consequência da adesão radical à verdade. Santo Agostinho explica que esta espada é a Palavra de Deus, que corta os laços terrenos que nos impedem de seguir a Cristo: “Ele veio para separar os que crerão n'Ele dos seus pais incrédulos e, para isso, trouxe uma espada, isto é, a separação” (Contra Fausto, Livro 16). Sobre a perseguição vinda dos mais próximos, São Gregório Magno ensina que “frequentemente, a nossa fé encontra os seus maiores inimigos entre os membros da nossa própria casa; pois quando a carne e o sangue se opõem ao nosso desejo de servir a Deus, é como se a nossa própria família se levantasse contra nós” (Homilias sobre os Evangelhos, 37). E a Sabedoria que conduz o justo, como São Venceslau, através de tais combates até a glória eterna, é a própria Cruz de Cristo, pois, como afirma Santo Ambrósio, “a Sabedoria divina não abandonou o justo nem na prisão nem na venda, porque onde quer que esteja o justo, ali está a sabedoria” (Sobre José, cap. 5).

✝️O Evangelho de São Lucas apresenta um paralelo ainda mais incisivo ao discurso de Cristo, usando a expressão semítica "odiar" para significar "amar menos": "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 26). Lucas também situa o preceito de tomar a cruz (Lc 9, 23) no contexto de um seguimento diário ("tome a sua cruz cada dia"), enfatizando a constância do sacrifício, enquanto Mateus o apresenta como uma condição geral para o discipulado.

✉️São Paulo aprofunda o sentido de "perder a vida para ganhá-la", ao afirmar que considera tudo como perda diante da sublimidade do conhecimento de Cristo: "Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. [...] por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como esterco, para ganhar a Cristo" (Fl 3, 7-8). A realidade da perseguição, inclusive por parte dos mais próximos, é confirmada pelo Apóstolo ao advertir que "todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições" (2Tm 3, 12), ecoando a profecia de Cristo sobre os inimigos domésticos.

🏛️O Catecismo do Concílio de Trento, ao explicar o quarto mandamento, esclarece que a honra devida aos pais não pode se sobrepor à obediência a Deus, afirmando que "se os pais ordenarem algo que seja mau ou contrário à lei de Deus, os filhos devem lembrar-se da sentença de que importa obedecer antes a Deus do que aos homens". A encíclica Mediator Dei do Papa Pio XII reforça a ideia do martírio como a mais perfeita união ao sacrifício de Cristo, onde o mártir, ao "perder a sua vida", oferece-se como hóstia viva, santa e agradável a Deus, cumprindo de modo supremo o preceito evangélico.