27 set
Ss. Cosme e Damião, mártires


🩺Santos Cosme e Damião eram irmãos gêmeos e médicos de profissão, conhecidos como os "anárgiros" ou "não-mercenários", pois não aceitavam pagamento por seus serviços, exercendo a medicina como um apostolado. Sua caridade e as curas milagrosas que operavam em nome de Cristo converteram muitos ao cristianismo na Cilícia, Ásia Menor. Durante a perseguição do imperador Diocleciano, por se recusarem a sacrificar aos deuses pagãos, foram submetidos a cruéis torturas e, por fim, decapitados por volta do ano 287. A sua prática médica, unida à fé, encarnava o princípio de que a cura do corpo deve sempre apontar para a saúde da alma, refletindo as palavras de São Basílio Magno sobre eles: “Tendo aprendido a arte médica, (...) usavam-na não tanto para cuidar dos corpos, mas para o serviço das almas”.

📖Introito (Eclo 44, 15 e 14 | Sl 32, 1)
Sapiéntiam Sanctórum narrent pópuli, et laudes eórum núntiet ecclésia... Os povos proclamam a sabedoria dos Santos e a Igreja canta os seus louvores. Seus nomes viverão por todos os séculos. Sl. Exultai, ó Justos, no Senhor; os retos de coração devem louvá-Lo. ℣. Glória ao Pai…

📜Epístola (Sab. 5, 16-20)
Os Justos viverão para sempre. Sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo tem cuidado deles. Por isso receberão eles do Senhor um reino de honra e um diadema brilhante. Ele os protegerá com a sua destra e com o seu santo braço os defenderá. Seu zelo se vestirá de uma armadura, e armará as suas criaturas, para se vingar de seus inimigos. Tomará por couraça a justiça e por capacete, o seu juízo infalível. Embraçará a santidade como escudo impenetrável.

✝️Evangelho (Lc 6, 17-23)
Naquele tempo, desceu Jesus da montanha, e parou na planície. A comitiva de seus discípulos e uma grande multidão do povo de toda a Judeia, de Jerusalém e da região marítima, de Tiro e de Sidon, tinham concorrido para O ouvir e se curar de todas as suas enfermidades. E os que eram vexados pelos espíritos imundos ficavam curados. E todo o povo procurava tocá-Lo, porque emanava d’Ele uma força que os curava a todos. Erguendo então os olhos para seus discípulos, disse Jesus: Bem-aventurados, vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos repelirem, carregarem de injúrias, e votarem ao desprezo o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos nesse dia, e exultai, porque, a vossa recompensa é grande no céu.

🤔Reflexões

💭Os mártires, como Santos Cosme e Damião, são a encarnação viva das Bem-aventuranças, pois viveram a pobreza (curando de graça), a fome pela justiça e a perseguição por amor a Cristo, encontrando a sua recompensa no céu. A Epístola descreve a "armadura da justiça" que os protegeu; essa armadura não é de metal, mas da virtude que os tornou invencíveis na confissão da fé. Santo Agostinho explica que a promessa aos perseguidos não é um prêmio terreno, mas a própria grandeza celeste: "Não diz: ‘A vossa recompensa será grande na terra’, mas ‘grande no céu’. Com razão exultaram os Apóstolos e se alegraram no meio dos opróbrios, porque a sua recompensa estava guardada no céu" (Santo Agostinho, Sermão sobre o Cântico dos Cânticos, 85). Sobre a cura que emana de Cristo, Santo Ambrósio ensina que a cura física que Ele operava era um sinal da cura espiritual que oferece à alma, uma graça da qual os santos médicos se tornaram instrumentos e que alcançaram em plenitude pelo martírio (Santo Ambrósio, Exposição sobre o Evangelho de Lucas, V, 49-51). Assim, a força que curava a multidão no Evangelho é a mesma que revestiu os mártires, tornando o seu sofrimento fecundo para a Igreja.

🕊️O Evangelho de São Lucas, com o "Sermão da Planície", apresenta as Bem-aventuranças de forma mais direta e social do que o "Sermão da Montanha" de São Mateus. Enquanto Mateus especifica "bem-aventurados os pobres de espírito" e "os que têm fome e sede de justiça", Lucas fala simplesmente de "vós, os pobres" e "os que agora tendes fome", ressaltando as condições concretas de sofrimento. Além disso, São Lucas é o único evangelista a contrapor às bem-aventuranças quatro "ais" simétricos: "ai de vós, os ricos", "ai de vós, que agora estais fartos", etc., acentuando o contraste radical entre os valores do Reino de Deus e os do mundo.

⛓️São Paulo aprofunda o paradoxo das Bem-aventuranças, especialmente a alegria na perseguição. Em sua Segunda Carta aos Coríntios, ele descreve sua vida apostólica como um testemunho vivo desta realidade: "Somos afligidos de todos os lados, mas não esmagados; postos em apuros, mas não desesperados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados" (2 Cor 4, 8-9). Ele também ecoa a promessa de uma recompensa celestial, afirmando que "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que se há de revelar em nós" (Rm 8, 18). A imagem da "armadura" da Epístola da Sabedoria encontra seu paralelo mais explícito na Carta aos Efésios, onde Paulo detalha a "armadura de Deus", com o "cinto da verdade", a "couraça da justiça" e o "escudo da fé", indispensáveis para a batalha espiritual que os mártires travaram vitoriosamente (Ef 6, 11-17).

🏛️Os documentos da Igreja corroboram a veneração devida aos mártires como Santos Cosme e Damião, vendo-os como modelos perfeitos do seguimento de Cristo. O Concílio de Trento afirma que "os santos, que reinam juntamente com Cristo, oferecem a Deus as suas orações pelos homens" e que é "bom e útil invocá-los suplicantemente" (Sessão XXV). O Catecismo Romano, derivado do mesmo concílio, ensina que ao honrarmos os mártires, não diminuímos a glória de Deus, mas a aumentamos, pois celebramos a vitória que a Sua graça alcançou neles. A vida destes santos médicos, que curavam os corpos para salvar as almas, ilustra perfeitamente o ensinamento da encíclica Mediator Dei do Papa Pio XII, que explica como a liturgia celebra os santos para propor à imitação dos fiéis as suas virtudes e para mostrar que Deus é "admirável em seus santos".