🪷 Lourenço Justiniani, o primeiro Patriarca de Veneza, nasceu em uma nobre família veneziana em 1381. Desde jovem, demonstrou profunda piedade e um desapego notável das riquezas mundanas, optando por uma vida de ascese e oração. Tornou-se cônego regular de Santo Agostinho e, posteriormente, geral de sua ordem, dedicando-se incansavelmente à reforma do clero e à promoção da vida espiritual. Como Bispo e Patriarca, destacou-se por sua caridade inesgotável para com os pobres, sua pregação fervorosa e sua humildade, sendo um modelo de pastor que distribuiu generosamente os dons que lhe foram confiados, guiando seu rebanho com santidade até sua morte em 1456.
📖 Introito (Sl 63, 11 | ib., 2)
Státuit ei Dóminus testaméntum pacis, et príncipem fecit eum... O Senhor fez com ele uma aliança de paz, constituindo-o príncipe, a fim de que tivesse para sempre a dignidade sacerdotal. Sl. Lembrai-Vos, Senhor, de Davi e de toda a sua submissão. ℣. Glória ao Pai.
📜 Epístola (Eclo 44, 16-27; 45, 3-20)
Eis o grande sacerdote que nós dias de sua vida agradou a Deus e foi considerado Justo; no tempo da ira, tornou-se a reconciliação dos homens. Ninguém o igualou na observância das leis do Altíssimo. Por isso o Senhor jurou que o havia de glorificar em sua descendência. Abençoou nele todas as nações e confirmou sua aliança sobre a sua cabeça. Distinguiu-o com as suas bênçãos; conservou-lhe a sua misericórdia e ele achou graça diante do Senhor. Enalteceu-o diante dos reis e deu-lhe uma coroa de glória. Fez com ele uma aliança eterna; deu-lhe o sumo sacerdócio, e encheu-o de felicidade na glória, para exercer o sacerdócio, cantar louvores a seu Nome e oferecer-Lhe dignamente incenso de agradável odor.
🕊️ Evangelho (Mt 25, 14-23)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: Um homem, indo viajar para longe, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e ao terceiro um, a cada qual segundo a sua capacidade. E partiu logo depois. Aquele que havia recebido os cinco talentos, foi-se e negociou com eles, e lucrou outros cinco. Da mesma sorte, o que recebera os dois talentos ganhou também outros dois. Mas o que havia recebido um só, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor desses servos, e chamou-os a contas. Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo-lhe: Senhor, vós me entregastes cinco talentos; eis outros cinco mais que lucrei. Disse-lhe o seu senhor. Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu senhor. Apresentou-se também o que recebera os dois talentos e disse: Senhor, vós me entregastes dois talentos; eis aqui outros dois mais que eu ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu Senhor.
✨ Reflexões
⛪ A vida de São Lourenço Justiniani, bispo e confessor, ressoa com as profundas verdades litúrgicas de hoje, onde a Epístola descreve a dignidade e a responsabilidade do sacerdócio, e o Evangelho revela a parábola dos talentos. Os dons de Deus são talentos confiados à nossa diligência e caridade, jamais para serem sepultados, pois "O Senhor chama a prestar contas aqueles a quem confiou talentos; que ninguém, portanto, suponha que pode escapar ao acerto de contas se não aplicou os dons recebidos para o aumento da glória de Deus" (São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, Homilia 9). De fato, a excelência sacerdotal, conforme a Epístola, transcende a mera observância ritual, manifestando-se em uma vida de santidade e intercessão, como nos recorda que "o sacerdote deve ser sóbrio, vigilante e possuir incontáveis olhos para ver em todas as direções, não apenas para evitar o pecado ele mesmo, mas também para levar os outros ao conhecimento da verdade" (São João Crisóstomo, Sobre o Sacerdócio, Livro 6). Os "talentos" que Jesus nos confia, como afirmou Santo Agostinho, são as capacidades e oportunidades da Providência divina, pois "o que são estes talentos senão os dons de Deus? Alguns recebem mais, alguns menos, mas cada um segundo a sua capacidade" (Santo Agostinho, Sermão 99, 5). Essa fidelidade no pouco é o prelúdio para a alegria eterna, um princípio que São Lourenço Justiniani incorporou, lembrando-nos da "grande confiança que o Senhor concede àqueles que, mesmo no pouco, foram fiéis, pois os chama a entrar na Sua alegria!" (Santo Ambrósio, Explicação do Evangelho de Lucas, Livro VIII, 74).
🔄 O Evangelho de Mateus (Mt 25, 14-23), com a Parábola dos Talentos, enfatiza a responsabilidade individual na administração dos dons recebidos, baseada na capacidade de cada um. O Evangelho de Lucas apresenta uma parábola similar, a das Minas (Lc 19, 11-27), mas com algumas distinções notáveis: em Lucas, o contexto é a expectativa do Reino de Deus, o senhor é um nobre que vai receber um reino, e todos os servos recebem a mesma quantidade (uma mina), sendo a recompensa proporcional ao lucro (autoridade sobre cidades), havendo também uma oposição dos cidadãos ao retorno do nobre, aspecto ausente em Mateus, que foca mais na mordomia individual e no juízo final.
🔥 As epístolas de São Paulo complementam a Parábola dos Talentos ao abordar a diversidade dos dons espirituais e a necessidade de usá-los para o bem comum e a edificação do Corpo de Cristo. Em 1 Coríntios 12, ele descreve como o Espírito Santo distribui diferentes carismas a cada um, "conforme a sua vontade" (1 Cor 12, 11), para que todos os membros contribuam para a Igreja, ecoando a ideia de "a cada qual segundo a sua capacidade" (Mt 25, 15). Além disso, em Romanos 12, 6-8, Paulo exorta os cristãos a exercerem seus dons (profecia, serviço, ensino, exortação, contribuição, liderança, misericórdia) com diligência, sublinhando a importância da ativa mordomia e serviço, tal como os servos que negociaram seus talentos.
🏛️ Documentos da Igreja anteriores a 1955 frequentemente sublinhavam a dignidade e as graves responsabilidades do episcopado, conectando-se diretamente à Epístola e ao Evangelho. O Concílio de Trento (Sessão XXIII, cânon 1 sobre o sacramento da Ordem) reafirma que "a hierarquia divinamente instituída consiste de bispos, sacerdotes e ministros", e que os bispos, como sucessores dos apóstolos, têm o dever de "pastorear e governar a Igreja de Deus", o que implica uma gestão fiel e zelosa dos talentos espirituais e temporais que lhes foram confiados, conforme exemplificado por São Lourenço Justiniani. O papa Bento XIV, em Apostolica Constitutio (1749), sobre as funções dos bispos, também ecoa o ideal de serviço e fidelidade esperado de um pastor.